Caixa tenta esconder uso político de consignado pelo governo Bolsonaro
Consignado do Auxílio Brasil foi iniciado aos atropelos, com dúvidas e pendências que representavam riscos financeiros e jurídicos ao banco
Publicado 07/08/2023 12:20 | Editado 08/08/2023 10:47
Em cumprimento a uma determinação da Controladoria-Geral da União (CGU), a Caixa Econômica Federal (CEF) enviou um documento com 17 páginas tarjadas para responder a suspeita de uso político do crédito consignado do Auxílio Brasil pelo governo Bolsonaro.
De acordo com o UOL, que fez a solicitação das informações por meio da pela Lei de Acesso à Informação (LAI), as tarjas só poderiam ser removidas pela Caixa, mas o portal conseguiu acesso aos documentos originais, sem as ocultações.
“A atual gestão do banco — que mantém dirigentes que operaram a distribuição do consignado durante o processo eleitoral — estava tentando esconder comunicações sobre riscos e perdas com a linha de crédito”, revelou a reportagem.
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O UOL explicou que documento tarjado foi enviado por diretores que atuaram no consignado. São altos executivos da Caixa. Entre eles, Karla Montes Ferreira, superintendente nacional de Crédito Pessoa Física. É ela também que assina a maior parte dos e-mails que foram tarjados.
Os trechos tarjados escondiam que o consignado foi iniciado aos atropelos, com dúvidas e pendências que representavam riscos financeiros e jurídicos.
Apesar dos alertas, o crédito consignado proposto pelo governo só teve adesão da Caixa. Em fevereiro, após a derrota de Bolsonaro, o banco cortou o benefício.
Do total de R$ 7,6 bilhões liberados em 2022 pelo banco, 99% se concentraram entre o primeiro e o segundo turno.
No documento, por exemplo, a Caixa reclamou que o Ministério da Cidadania não tinha dado informações suficientes sobre situações que levariam ao cancelamento dos benefícios.
Confira um dos trechos sem a tarja:
“A possibilidade de glosa [cancelamento] sem referidos detalhamentos impõe risco imprevisível às instituições financeiras e de difícil mensuração em relação à perda que pode advir do processo, uma vez que não há segurança, ainda, a partir dos dados disponibilizados. Solicitamos a exclusão do artigo até que haja maior aprofundamento das tratativas e as instituições possam estabelecer procedimentos operacionais suficientes para evitar a concessão de crédito para clientes mais propensos ao cancelamento do benefício”, diz Karla Ferreira, superintendente da Caixa, em e-mail ao Ministério da Cidadania em 7 de outubro de 2022.
Na mensagem, a Caixa pedia ao ministério “a inclusão urgente” de informações sobre beneficiários que tinham pendências com as condicionalidades, para que o banco pudesse negar o crédito para esse grupo, mas não obteve retorno.