Festival latinidades promove ideia do Bem Viver e debates políticos e culturais
Festival acontece de 6 a 9 de julho no Museu Nacional, em Brasília. No sábado (8) a deputada baiana Olívia Santana lança seu primeito livro: Mulher Preta na Política
Publicado 03/07/2023 11:43 | Editado 04/07/2023 12:40
De 6 a 9 de julho, o Festival Latinidades, em sua 16ª edição, traz como tema central o conceito do Bem Viver, uma ideia que propõe uma inversão na lógica atual do funcionamento do mundo e das economias. Em contraposição ao lucro e desenvolvimento a todo custo, o Bem Viver preza pelo cuidado com as pessoas e o meio ambiente. Originária dos povos andinos, essa tecnologia social já influenciou políticas públicas em países como Equador e Bolívia e foi difundida no Brasil através da Marcha das Mulheres Negras.
Além de Brasília, onde o festival é tradicionalmente realizado, este ano ele também ocorrerá pela primeira vez no Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador. Jaqueline Fernandes, idealizadora e diretora do evento, explica que a escolha do tema busca marcar uma posição contrária ao sistema capitalista dominante, conhecido pelo desenvolvimentismo e pela exploração desmedida da natureza e dos seres humanos. O Latinidades propõe uma discussão ampla sobre o Bem Viver, abordando diferentes perspectivas, como acesso a políticas públicas, reparação, cuidado e autocuidado.
Debates
A programação do festival abrange uma série de temas, incluindo violência, formação de líderes políticas, ensino superior, antiproibicionismo e sexualidade. Um dos debates em destaque traz o conceito da “macroeconomia da igualdade”, e conta com a participação de mulheres negras pioneiras em suas áreas de atuação.
Uma dessas mulheres é Carol Santos, fundadora do Educa +, uma organização que trabalha com alfabetização de jovens no Complexo do Chapadão, no Rio de Janeiro. Carol utiliza esse espaço para abordar tecnologias que geralmente estão restritas a grupos de maior poder aquisitivo e compostos por pessoas brancas, como o blockchain, uma ferramenta de ponta que registra transações em um sistema específico. Ela defende a inclusão de pessoas diversas na construção de um ecossistema que faça mais sentido para a sociedade, sejam elas mulheres, pessoas negras ou pessoas da periferia.
Além dos debates, o Festival Latinidades oferece shows e oficinas, como a de produção de bandas. No entanto, o evento é principalmente um espaço de articulação política. Ele é uma continuidade do trabalho que deu origem ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, celebrado em 25 de julho, e remonta ao 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-Caribenhas realizado em 1992. Jaqueline Fernandes destaca que o festival é uma maneira de dar continuidade a essa luta política iniciada pelas participantes do encontro dos anos 90, utilizando a cultura como uma ferramenta de transformação social e política.
“Elas [participantes do encontro da década de 1990] se comunicavam por cartas. Não tinha e-mail ou outras maneiras de fazer isso mais fácil, como a gente faz hoje, então elas fizeram um grande esforço para se encontrarem e para, a partir dali, compreender que a criação de uma data era um marco político. O que a gente faz é simplesmente dar continuidade a essa luta. E todo esse movimento que a gente faz a partir da cultura, com certeza, é político”, relembra Jaqueline Fernandes.
A programação é inteiramente gratuita, mas é preciso retirar o ingresso para cada atividade no site do Latinidades. Jaqueline Fernandes, diretora do festival, ressalta que o evento, feito e idealizado por mulheres negras, é aberto a todos.
“O que a gente está fazendo é criar um festival onde as mulheres negras são protagonistas. Nos espaços de fala, de decisão, de curadoria, de produção, somos todas mulheres negras. Pessoas não negras são totalmente bem-vindas como público, e construindo, e evoluindo com a gente nessa luta antirracista. É um festival de mulheres negras para toda a sociedade”, convida.
Mulher Preta na Política
Durante o festival, a deputada estadual Olívia Santana (PCdoB-BA), de 56 anos, lança o seu primeiro livro: Mulher Preta na Política (editora Malê). O evento acontece no anexo do Museu Nacional, em Brasília, no dia 8 de julho às 14 horas.
O livro aborda, a partir das experiências pessoais e de pesquisa, as dificuldades que mulheres pretas têm de chegar e de se estabelecer em cargos eletivos. Segundo a autora, o livro tem elementos de autobiografia, mas também dialoga com experiências de outras mulheres negras que se candidataram para o Executivo ou para o Legislativo. “Eu cito, inclusive as situações de violência política que a gente vive”, disse, em entrevista à Agência Brasil.
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A deputada, que tem mais de 35 anos de trajetória nas lutas sociais, chegou ao segundo mandato, com 92.559 votos, nas eleições de 2022. A primeira vitória para deputada contou com 57.755 votos.
“Eu sou a única deputada preta da Assembleia Legislativa no estado mais negro do Brasil”, afirmou a parlamentar. “A população negra é maioria neste país e, mesmo assim, a gente não tem a presença refletida adequadamente nos espaços de poder”.
O livro será lançado também no Museu do Amanhã (no Rio de Janeiro), no dia 15 de julho, e na Casa Mulher com a Palavra, no Instituto Goethe (em Salvador), em 25 de Julho.
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com informações da Agência Brasil