Um avanço na formação de preços na área do petróleo
A política de paridade internacional e a associação ao lucro de curto prazo trouxe, também, alguns impactos pouco interessantes para empresa.
Publicado 19/05/2023 14:11 | Editado 19/05/2023 14:12
O tema tomou conta da mídia nacional. As críticas se propagam sem saber ao certo o porquê. Dizem que há insegurança como se algo no setor empresarial não tivesse. Risco faz parte dos negócios, quer se queira ou não. A mudança na política de formação de preço da Petrobras tem causado alvoroço. Principalmente da mídia especializada que se norteia por um modelo de curto prazo na microeconomia. Expliquemos.
A Teoria Econômica tem área específica para a análise do comportamento empresarial e sua evolução. E, entre inúmeras subdivisões, duas grandes correntes podem ser bem diferenciadas: A teoria tradicional e a economia industrial e sua estruturação na organização industrial.
A Teoria Tradicional tem na microeconomia convencional, a neoclássica e suas subdivisões, inclusive o equilíbrio geral e parcial, seu alicerce. Tudo é visto sob a ótica da formação de preços e da otimização dos sistemas, em geral de segmentos dele, através da análise da formação de lucros e de seus impactos marginais. Admitindo parâmetros estáveis, verifica se oscilações marginais afetam ou não o preço e os rendimentos. É uma visão de curto prazo que busca apenas a melhor remuneração dos agentes econômicos numa posição estática, sem analisar a dinâmica.
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A Economia Industrial tem outra perspectiva. Procura uma melhor compreensão da estrutura produtiva e principalmente da competitividade de mais largo alcance. Nela, a formação de preços é importante, mas não é o único fator analisado. Qualidade, produtividade, estratégia para garantir melhores posições de mercado, são fundamentais para a evolução das organizações. Não é vista apenas a ótica dos acionistas, mas também, a perspectiva de longo prazo da organização, a possibilidade de ampliar o seu espectro produtivo, de ampliar o seu foco de atuação. Novos mercados, novas formas de distribuição, novos produtos, entre outros, são analisados.
Vejo nas notícias apenas uma reflexão bastante restrita, muito afeta à teoria tradicional. A preocupação de distribuição de dividendos, aliás, têm sido astronômicos nos últimos três anos, parece ser o único fator norteador. Nenhum outro empreendimento tem oferecido aos acionistas a garantia de lucros extraordinários dessa monta. Pede-se uma regra fixa que garanta esse perfil, mesmo que não seja condizente como uma estratégia de longo prazo para a empresa.
A política anunciada tem sua lógica. Dois parâmetros orientadores que serão utilizados conforme as conjunturas enfrentadas.
Um, parte da idéia de que se está numa época de transição energética e como tal existirão alternativas possíveis para a demanda final. Não só de novos combustíveis, mas também, de fornecedores dos produtos atuais que têm interesses no mercado nacional. Nesse sentido, os preços, na base superior, devem ter um perfil que garanta a não perda de posições de mercado, além de evitar volatilidade de curto prazo. Isso cativa consumidores e garante manter e ampliar fatias de mercado.
O outro é o custo de oportunidade que permita à companhia se firmar em mercados estratégicos com rentabilidade adequada para as suas diferentes ações de produção, refino e distribuição, garantindo a liderança, sem haver dumping ou práticas predatórias para o mercado. É a base inferior. Não passa por ações anti competitivas, mas sim, pelo uso de seu poder de mercado e de sua estrutura de custos para garantir posições estratégicas em mercados que podem ser foco da dinâmica futura prevista para o setor de energia.
Além desses dois parâmetros, um aspecto muito relevante para o consumidor deve ser considerado. Os custos de produção passam a ser considerados. Se tivermos a produção de 80% do petróleo no país a preço muito abaixo do internacional, isso faz parte da política de preço, se temos que importar 20% dos combustíveis consumidos, não se pode ignorar, se tivermos um custo de logística elevado deve ser computado, enfim, a formação de preços não pode dissociar, lucro de custos industriais.
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Deve-se ter em conta que a política de paridade internacional e a associação ao lucro de curto prazo trouxe, também, alguns impactos pouco interessantes para empresa.
Por razões, muito mais ideológicas que empresariais, resolveu-se privatizar segmentos estratégicos. Os postos de revenda de combustíveis, por exemplo, que embora mantenham a bandeira da empresa na fachada, BR, não tem nenhuma obrigação de revenda de combustível da empresa, são propriedade de outras empresas privadas. Além disso, tentaram vender seis refinarias, só conseguiram uma, em regiões onde não havia outra alternativa de refino, principalmente no Norte e Nordeste deixando as regiões a mercê da política que os novos grupos empresariais definissem.
Distribuidoras entraram em mercados locais, as famosas “trades”, aproveitando a volatilidade de mercado, altamente rentáveis, e praticamente deslocaram a empresa nacional da revenda em mercados periféricos. E hoje se usa isso como ameaça para desabastecimento caso não se mantenha a margem de lucro que desejam ter. A Petrobras, pelo seu porte e estrutura, tem todas as condições de substituí-las em benefício do consumidor nacional, rapidamente.
Outro aspecto pouco visto pelos analistas, que deve, necessariamente, ser considerado na compreensão da estratégia empresarial, é a política de investimentos que garanta uma maior participação da companhia no processo de transição energética que se desenha. Fundamental para garantir a continuidade de largo prazo. A entrada nos novos setores, inclusive na produção de hidrogênio verde, de eólica, de solar, se faz necessária, é ponto básico para a competitividade da empresa. Um período de mudanças em que se espera associar as atividades atuais que garantem a lucratividade, com novas frentes que poderão alicerçar a empresa no futuro.
Analisar o setor pela ótica da competitividade estratégia de longo prazo tira a visão bastante reduzida de se ater à lucratividade momentânea dos acionistas.
Uma empresa que é base para o desenvolvimento nacional tem que ser vista de uma maneira muito mais ampla. Competitividade e visão de futuro são temas que não podem jamais ser olvidados.