Lula: Não basta melhorar a renda, é preciso renegociar as dívidas do povo
Em reunião da coligação, o ex-presidente avaliou com otimismo sua estabilidade nas pesquisas e disse que sonha com uma vitória no primeiro turno. Também criticou como Bolsonaro usurpa o Bicentenário da Independência a seu favor.
Publicado 06/09/2022 14:20 | Editado 06/09/2022 19:15
O candidato a Presidência da República, Luis Inácio Lula da Silva, fez um discurso à imprensa, nesta terça (6), durante reunião com sua coligação Brasil da Esperança, em São Paulo. No discurso, ele sinalizou sua avaliação e prioridades no atual momento da campanha, um dia antes do feriado de 7 de setembro, quando o candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) pretende se apropriar das festividades do Bicentenário da Independência em favor de sua campanha.
Ele se mostrou animado com a estabilidade nas pesquisas, apesar do brutal uso da máquina pública em favor da reeleição. Considerou que é possível sonhar com a vitória no primeiro turno, quando falta “um tiquinho” para chegar lá. Mas, principalmente, apontou uma medida prioritária de seu eventual governo: a renegociação das dívidas dos mais pobres.
A partir de índices recordes e alarmantes do Banco Central, Fecomércio e Serasa, sobre o nível de endividamento das famílias, Lula antecipou uma pauta econômica prioritária. “O povo sabe que tinha mais expectativa de um futuro mais brilhante no meu governo, do que hoje que a vida se tornou um pesadelo”, disse.
Para ele, não basta dizer que, ao ganhar as eleições, vai melhorar as condições de salário e renda das pessoas. “Vamos ter que, num primeiro momento, ter a coragem de criar as condições para negociar essas dividas com empresários, varejo, prefeituras, estados e bancos. Se não resolver a dívida das pessoas, elas continuarão impossibilitadas de continuar consumindo.
Se o povo não tiver poder de consumo, a economia não cresce, as lojas não vendem, as fábricas não fabricam”, explicou Lula.
Abuso da máquina pública
Ele se mostrou impressionado com a resiliência do povo brasileiro que mantem a preferencia eleitoral por sua candidatura, apesar de toda ofensiva inédita do governo em favor de seu candidato. “Se juntar todos os presidentes da República, ninguém conseguiu usar a máquina em beneficio de sua campanha como está sendo usada neste momento”, disse ele, citando a redução de preços dos combustíveis, redução do ICMS, oferta de benefícios sociais e verbas de orçamento secreto para a base aliada.
“Ele praticamente esta onde estava antes do auxilio emergencial, numa demonstração de que o povo é mais sabido do que ele imaginava”, disse referindo-se ao aumento para R$ 600 no Auxílio Brasil, em pleno período eleitoral, sem aumentar significativamente sua pontuação nas pesquisas de opinião.
Ele também criticou o modo como Bolsonaro “usurpa” o Bicentenário da Independência, celebrado amanhã (7), “para ser uma coisa pessoal dele.” “É uma festa de interesse de 200 milhões de brasileiros e ele poderia ter tido a grandeza de fazer uma grande festa para o povo brasileiro participar, mas está tratando como dele, assim como já disse ‘as minhas forças armadas’”, citou.
Lula defendeu que seus aliados não precisam ter vergonha de dizer que quere ganhar no primeiro turno. “Quem tem 5% sonha em chegar a 40% e ir para o segundo turno. Por que quem tem 45% não pode sonhar com mais cinco e ganhar no primeiro turno? Se falta um tiquinho pra gente chegar la…”, disse, sob aplausos. “Vamos trabalhar para isso, mas se o povo quiser segundo turno, vamos ganhar no segundo turno.”
Mas ele apontou a necessidade de aumentar a capacidade de trabalho da campanha. Em sua opinião, a campanha ainda não tomou as ruas, algo que ele considera essencial para que a vitória eleitoral tenha um caráter popular. Também enfatizou que não quer que a campanha se rebaixe ao nível de provocações adversárias.
Ele encerrou falando de política externa ao criticar o abandono em que observa o Brasil, hoje. “Ninguém quer vir ao Brasil e ninguém convida o coisa pra ir lá”, disse, referindo-se à inexistência de uma agenda internacional de Bolsonaro.
“Vamos restabelecer para o Brasil a cidadania internacional. Vamos conversar com o mundo, receber o mundo aqui dentro. O Brasil não precisa de contencioso. A gente quer paz”, afirmou.
Ele ousou dizer que se a guerra entre Rússia e Ucrânia não tiver acabado antes das eleições ele vai conversar com esses governos europeus para dizer que “guerra não interessa a ninguém, apenas aos vendedores de armas”. “Nós queremos vender cultura e alimentar o mundo”, concluiu.