Lula quebra hegemonia de Bolsonaro no TikTok e YouTube

Na ‘eleição do vídeo’, ex-presidente teve melhor desempenho segundo as métricas de engajamento e alcance dos perfis, aponta levantamento da FGV ECMI

Foto com óculos juliet foi escolhida pela equipe do petista para estampar as redes sociais | Foto: Ricardo Stuckert

Um levantamento feito pela Escola de Comunicação, Mídia e Informação da Fundação Getúlio Vargas (FGV ECMI), a pedido do jornal Folha de S.Paulo e divulgado nesta quarta-feira (31), mostra que a campanha do candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) superou a campanha de seu adversário, Jair Bolsonaro (PL), em audiência nas plataformas do TikTok e YouTube no mês de agosto.

Foram usadas métricas de engajamento e alcance dos perfis dos dois candidatos mais bem colocados nas pesquisas. A análise vai de 28 de julho a 29 de agosto, portanto, cobre o começo do período eleitoral e as semanas antecedentes.

De acordo com a Folha, Lula explodiu no Youtube e TikTok. Os discursos com apelo emocional do ex-presidente e vídeos de malhação com a legenda “partiu pós-treino”, fizeram o petista ultrapassar o presidente na rede chinesa, que é o novo pilar das campanhas de internet nesta eleição. Já no YouTube, a campanha de Lula tem investido em publicidade e impulsionado vídeos com anúncios, o que tem gerado mais visualizações.

Jair Bolsonaro é o candidato que tem mais seguidores em todas as redes, legado da persona digital trabalhada há anos com o auxílio do filho Carlos Bolsonaro. Em engajamento, o presidente lidera no Facebook e no Instagram, com quase o triplo de curtidas, compartilhamentos, comentários e reações na comparação com Lula. Contudo, esse número não significa que seus conteúdos alcancem mais pessoas, como mostram os dados da FGV.

A Folha analisou os conteúdos em cada plataforma. O vídeo mais viral do canal de Lula no TikTok foi de um comício em Minas Gerais. “Quero ver vocês alegres, quero ver vocês trabalhando, quero ver vocês estudando, quero ver vocês amando, gostando da vida”, diz.

Já outras publicações virais falam da fome e outros feitos do governo petista. Em um deles, o ex-presidente se apresenta como político do povo e chama para “ver o timão”, para um “forró mais tarde” e pergunta se já ouviram “a última da Lud” [a cantora Ludmilla].

Na contra mão de Lula, os conteúdos de Bolsonaro mais expressivos no TikTok refletem bem a sua imagem e exibem ataques à esquerda e à imprensa. Na rede chinesa de microvídeos, apenas seis publicações passam de 2 milhões de visualizações em agosto sendo que três são recortes da entrevista no Jornal Nacional.

O vídeo mais popular tem 6 milhões de views e exibe a palavra “mentira” quando a âncora Renata Vasconcellos diz que ele estava “imitando pessoas com falta de ar” na pandemia. A produção corta para a cena antiga em que ele simula falta de ar e critica o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta. Sobreposta está a palavra “verdade”.

Já no YouTube, o canal de Bolsonaro é menos expressivo do que seus outros perfis – embora a rede seja povoada por sua militância. Entretanto, no último mês, nenhum dos conteúdos autorais ultrapassou 500 mil visualizações.

Enquanto isso, os conteúdos de Lula mais acessados na plataforma de vídeo são jingles, como o piseiro que canta “faz o L, um coração grandão e desenrola”, com 7,4 milhões de visualizações, e o clipe da campanha “Dois Lados, que Brasil você quer?”, com alcance de 5,2 milhões. Outro destaque é quando o PT nega que fecharia igrejas evangélicas.

Para Marco Ruediger, diretor da FGV ECMI, a superação da campanha de Lula em redes de vídeos está dialogando com a mudança da conjuntura de 2018 para 2022. Na eleição deste ano, a economia se impõe como um tema mais urgente diante de questões morais ou religiosas, segundo ele.

“Tanto Lula como Bolsonaro operam no emocional, ambos são carismáticos, mas acho que as pessoas estão cansadas de agressividade o tempo todo”, diz.

A reportagem da Folha apontou ainda que, para as campanhas eleitorais, “TikTok e YouTube são importantes inovações na comunicação política, com possibilidade de imprimir humor, se aproximar de forma mais leve do eleitor e servir de teste a narrativas emplacadas na TV.”

“O tempo de TV é importante, mas mais importante é que a estratégia digital gire em torno da TV”, afirma Ruediger. “É a eleição do vídeo.”

Imagem: Reprodução Folha

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Com informações da Folha de S.Paulo

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