Lula dá largada à campanha com metalúrgicos na porta da Volkswagen
O presidente falou em recuperar os direitos “surrupiados” pelo atual governo e corrigir a tabela do IR. Também criticou a manipulação religiosa da campanha de Bolsonaro.
Publicado 17/08/2022 07:50 | Editado 17/08/2022 10:20
O candidato à Presidência pelo PT, Luiz Inácio Lula da Silva, deu a largada nesta terça-feira (16) com um comício em frente à fábrica da Volkswagen, em São Bernardo do Campo (SP). Lá, ele disse que vai combater a fome e reduzir o desemprego, caso seja eleito para mais um mandato no Palácio do Planalto. Torneiro mecânico, ele iniciou sua trajetória política no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC no anos 1970, durante a ditadura militar, quando ajudou a liderar grandes greves gerais.
A data de hoje marca o início oficial da campanha —a partir de agora, os candidatos podem pedir voto e usar o número da urna eletrônica. Lula provocou risos ao dizer que só na virada da meia-noite de hoje pode acordar Janja, sua esposa, e dizer: Janjinha, vota em mim. Ele disse que são apenas 47 dias para pedir voto até a eleição do primeiro turno.
O candidato falou diretamente aos jovens e mulheres, segmentos que o apoiam e rejeitam Jair Bolsonaro, segundo as pesquisas de intenção de voto. Em seguida, o ex-presidente falou de retomada econômica e fez críticas ao presidente Jair Bolsonaro (PL), que tenta a reeleição. Por fim, acenou aos evangélicos criticando o modo como o bolsonarismo manipula a fé religiosa para fazer campanha.
Leia também: Na USP com Lula: professores destacam necessidade de dialogar com o eleitor
Lula criticou Bolsonaro por ser o presidente que não pode vir a porta da fábrica. “Um presidente que ninguém quer recebê-lo ou vir aqui. Um presidente que mente sete vezes por dia, que mente pros evangélicos todo santo dia. O petista lembrou que foi ele, em 2009, que sancionou a lei que criou o Dia Nacional da Marcha para Jesus (Lei 12.025)”, afirmou.
Lula voltou a criticar o uso religioso que Bolsonaro faz na campanha para atacá-lo. “Você não derramou uma única lágrima por 680 mil que morreram de covid. Você não acreditou na ciência, na medicina, nos governadores, você acreditou nas suas mentiras. Se tem alguém que é possuído pelo demônio, é esse Bolsonaro.”
Em seguida, dirigiu-se diretamente aos jovens aprendizes do Senai que aprendiam na fábrica:
“Tomei a decisão de vir aqui na porta da Volkswagen, porque além de companheiros antigos e não tão antigos, eu sei da quantidade de meninos e meninas, filhos de trabalhadores da Volkswagen, que estão iniciando seu futuro fazendo curso no Senai e se aperfeiçoando para vencer na vida”, explicou. A plateia reunia jovens aprendizes da fábrica.
Leia também: Na USP, Lula destaca inclusão de 4,5 milhões de universitários em seus governos
“Eu venho na porta da Volkswagen desde 1969, certamente a maioria de vocês não tinham sequer nascido, não eram nem projeto de gente quando eu já vinha na porta da Volks quando tinha mais de 40 mil trabalhadores”, afirmou, citando que, agora, são apenas oito mil trabalhadores.
Após mencionar dados que mostram a redução dos postos de trabalho nas indústrias de São Bernardo do Campo, importante polo do setor automotivo, Lula acrescentou: “Eu vou voltar para que a gente recupere esse país, recupere o emprego”.
Lula também lembrou dos tempos de liderança sindical na região, quando promoveu greves apesar da repressão do regime militar. Uma história que, segundo ele, começou em 1969. “Naquele tempo que a Volkswagen tinha mais de 40 mil trabalhadores e tinha um coronel do exército que era chefe da segurança”, lembrou, ao mencionar a importância da organização dos trabalhadores na conquista da democracia nos anos seguintes.
Leia também: Pesquisa Ipec aponta enorme rejeição a Bolsonaro
Produtor de alimentos
“Nós vamos ganhar porque esse país precisa de nós. Nós vamos ganhar porque não é possível [essa situação]. O Brasil é o terceiro produtor de alimentos do mundo, não pode ter 33 milhões de pessoas passando fome”, disse.
“A nossa história vai mudar. Vocês não vão ver mais criança pedindo esmola. Não vão ver mais companheiro nosso dormindo na sarjeta. Esse país precisa ter vergonha na cara. Não é por falta de dinheiro, é por falta de vergonha das pessoas que estão governando. Eles não têm sentimento, não sabem o que é fome, o que um cidadão mendigar um prato de comida”, discursou, emocionado.
O ex-presidente enfatizou a contradição do país ter uma grande produção agropecuária e, mesmo assim, uma parcela significativa da população viver em situação de insegurança alimentar. “O Brasil é o primeiro produtor de proteína animal do mundo. O primeiro produtor de carne do mundo é o Brasil. Por isso, não justifica uma mulher ficar na fila do açougue para pegar um osso ou uma carcaça de frango. Não justifica uma criança ir dormir sem ter um copo de leite. Não justifica uma criança acordar e não ter um pão com manteiga para comer”, ressaltou.
O ex-presidente disse que fará a correção da tabela do Imposto de Renda para pessoa física, uma medida que afeta principalmente o trabalhador assalariado. Bolsonaro disse que faria isso, em 2018, mas não cumpriu. Lula corrigiu a tabela seis vezes entre 2005 e 2010, assim como Dilma Rousseff. Desde o impeachment, em 2016, não há correção. “Eu não vou mandar recado, eu vou vir pessoalmente dentro da Volks conversar com vocês”, prometeu.
Leia também: Justiça manda retirar painel bolsonarista em Porto Alegre
Mutirão da verdade
O candidato à Presidência discursou acompanhado do candidato ao governo de São Paulo, Fernando Haddad, do candidato ao Senado, Márcio França e de diretores do sindicato dos metalúrgicos, além da presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann.
Gleisi falou da necessidade de enfrentar as mentiras e baixo nível da campanha de Bolsonaro, com um “mutirão da verdade”. Candidato ao Senado, França falou da importância de eleger uma bancada forte para defender o mandato de Lula no Congresso. Ele também defendeu a candidatura de Haddad, ao dizer que é preciso fazer “barba e bigode” garantindo a chance de governar o estado de São Paulo. Ele, por sua vez, destacou a importância de “recuperar os direitos que foram surrupiados do trabalhador”.
Os sindicalistas dos Metalúrgicos do ABC criticaram o modo como Bolsonaro e o governador de São Paulo se omitem no apoio à indústria local, citando a visita de Lula em seu primeiro ano de mandato para lançar o modelo flex da Volkswagen. Moisés Selerges, presidente do sindicato, falou da pobreza que cerca a fábrica e das reformas trabalhista e previdenciária que tiraram direitos dos trabalhadores.
Leia também: Haddad lidera com 29% corrida eleitoral para o governo de São Paulo
Pelo calendário eleitoral, a partir desta terça-feira, os candidatos estão autorizados a fazer propaganda eleitoral na internet e comícios com aparelhagem de som. Já a veiculação de propaganda eleitoral no rádio e na televisão, do primeiro turno das eleições, começará no dia 26. O término será no dia 29 de setembro.
Nesta semana, além da visita à fábrica e um encontro com empresários amanhã (17), Lula já tem dois grandes atos marcados: Em Belo Horizonte, na quinta (18), com o ex-prefeito Alexandre Kalil (PSD); No Vale do Anhangabaú, em São Paulo, no sábado (20).
Esta noite, Lula e o presidente Jair Bolsonaro (PL) deverão ir à posse do ministro Alexandre de Moraes no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), em Brasília. Moraes assume o cargo no lugar do ministro Edson Fachin, também do STF (Supremo Tribunal Federal). Atual vice da Corte Eleitoral, o magistrado ficará responsável por liderar o tribunal em meio a eleições tumultuadas pelo presidente da República, que faz ataques à Justiça Eleitoral.
Assista ao comício: