Exposição celebra legado de Ariano Suassuna e 50 anos do Movimento Armorial

CCBB SP recebe mostra com obras inéditas do autor do ‘Auto da Compadecida’ destacando a estética que une erudito e popular

Mural com arte da Mostra “Movimento Armorial 50 Anos” em cartaz no CCBB-SP. (Crédito: Rafael Gushiken / SP da garoa) | Fontes: Folder e Catálogo oficial da exposição, 2021/22.

Começa nesta quarta-feira (20) a mostra “Movimento Armorial 50 Anos” que reúne encontros musicais e literários conduzindo o público pelo eclético e múltiplo universo do Movimento Armorial. Esse importante movimento artístico foi criado e liderado pelo dramaturgo, professor, pintor e consagrado escritor Ariano Suassuna (1927-2014) e lançado no Recife, em 18 de outubro de 1970. A exposição, gratuita, acontece no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB SP), localizado no centro da capital paulista, e segue até o dia 26 de setembro. 

Curadora Denise Mattar em frente às pinturas de Ariano Suassuna (sob encomenda do Internacional Palace Hotel de Recife/PE, década de 1980) inspiradas em seu outro feitio artísitico, as iluminogravuras. (R. Gushiken/SP da garoa)

Com curadoria de Denise Mattar, a mostra apresenta cerca de 140 obras de arte – a grande maioria nunca havia saído do Recife – em diversos formatos contando com artistas importantes para o Movimento Armorial, dentre eles o próprio Ariano Suassuna, Francisco Brennand, Gilvan Samico, Aluísio Braga, Zélia Suassuna, Lourdes Magalhaes, entre muitos outros artistas que fizeram parte do movimento criado pelo escritor.

Segundo a curadora, a mostra foi dividida em módulos que apresentam a vida e obra de Ariano, as fases do Movimento Armorial, e as referências que eram sua base: o cordel e as festas populares. “A exposição tenta manter a magia, o humor, a alegria, as cores e a fantasia, que caracterizam a arte popular e o viés erudito do Armorial”, afirma Denise.

Onça Caetana

Onça Caetana, personagem de Ariano Suassuna, recepciona os visitantes no Centro Cultural Banco do Brasil-SP | Foto: Alexandre Guzanshe/Em/D.A Press

Personagem recorrente na obra do dramaturgo, Onça Caetana é quem dará as boas-vindas ao público que visitar a mostra. Elemento do folclore nordestino associado à morte, Ariano desenhou várias versões da caetana sendo esta, a escolhida para ser realizada tridimensionalmente para a exposição. O pai de Ariano Suassuna foi assassinado quando ele era ainda criança por questões políticas. A mãe foi perseguida e teve que mudar-se várias vezes, com os filhos. Esse acontecimento é um ponto fulcral da obra do escritor, por isso abre a exibição. A peça foi confeccionada em Belo Horizonte pelos bonequeiros Agnaldo Pinho, Carla Grossi, Lia Moreira e Pedro Rolim.

“A Onça Caetana foi desenhada pelo Ariano Suassuna. Vocês vão ver, na exposição, que ele a representou diversas vezes. A onça é uma mitologia do folclore nordestino. E conseguimos um bonequeiro de Belo Horizonte, que nos fez essa onça maravilhosa, que nos recebe logo na entrada”, disse Denise Mattar, curadora da exposição.

Os módulos da mostra

A organização da mostra no CCBB é feita por núcleos e ocupa os quatro andares mais o subsolo do local, separando as décadas e artistas do movimento. A mostra foi pensada totalmente como analógica, sem o uso de recursos digitais. Depois de recebido pela Onça Caetana o visitante é convidado a começar pelo quarto andar, onde está a cronologia completa de Ariano Suassuna.

4º andar – Ariano Suassuna, Vida e Obra – A imersão do visitante no fascinante universo da arte Armorial começa com a cronologia completa do autor, seus poemas, livros, manuscritos e também vídeos das suas famosas aulas-espetáculo. Um mergulho no fértil e amplo imaginário criativo do mestre.

Figurino do personagem “Emanoel – o Cristo Negro” que foi interpretado pelo ator Zózimo Bulbul. (R. Gushiken/SP da garoa)

3º andar – Figurinos do filme “A Compadecida” – No terceiro piso é possível admirar os figurinos criados pelo artista plástico pernambucano Francisco Brennand (1927-2019) para o filme “A Compadecida” (1969), primeiro longa-metragem baseado na consagrada peça “Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna.

Além de 12 desenhos realizados em nanquim aquarelado, são apresentados também figurinos dos cinco principais personagens da história. A indumentária da Compadecida é original do filme, já os figurinos do Palhaço, Diabo, João Grilo, e Emanoel – o Cristo Negro, foram confeccionados especialmente para a exposição pela figurinista Flávia Rossette.

2º andar – Dois momentos do Movimento Armorial: na chamada Fase Experimental (1970-1974) estão reunidosos artistas que participaram do início do movimento. As artes plásticas estão representadas por obras de Aluísio Braga, Fernando Lopesda Paz, Miguel dos Santos, Lourdes Magalhães, Fernando Barbosa euma Sala Especial dedicada a Gilvan Samico (1928-2013), onde, alémsuas famosas xilogravuras, estão pinturas inéditas.

Pintura de Gilvan Samico: “Pe. Cícero Romão (Tríptco)”, 1974, Acervo Universidade Federal de Pernambuco, PE. (R. Gushiken/SP da garoa)

Já a Segunda Fase (1975-2000) reúne as iluminogravuras de Ariano Suassuna, que integram sua faceta de escritor à de artista plástico, de forma surpreendente, as litografias, cerâmicas e tapeçarias de sua esposa Zélia Suassuna, pinturas de Romero de Andrade Lima, de Manuel Dantas Suassuna, e espetáculos de dança do Grupo Grial.

1º andar – Armorial Hoje e Sempre – Aqui estão reunidas as produções de Cinema e TV, realizadas a partir de peças de Suassuna, como “Farsa da Boa Preguiça”, “A Pedra do Reino”, “Auto da Compadecida”, e o espetáculo “Lunário Perpétuo” de Antônio Nóbrega. Além disso, aqui é possível observar que embora o Armorial não exista mais como movimento, seu conceito e estética deixaram frutos que podem ser vistos na arte contemporânea, no cinema e televisão, em autores como João Falcão, diretores como Guel Arraes e Luiz Fernando Carvalho, e multiartistas como Antonio Nóbrega.

Subsolo – Armorial Referências – Aqui o público contempla a beleza das xilogravuras, assinadas por J. Borges, Mestre Noza e Mestre Dila, entre outros, e também a Cidade de Cordel, criada especialmente para a exposição por Pablo Borges, filho de J. Borges.

Trata-se de um espaço instagramável que permite uma lúdica viagem pela cultura popular, com seus causos e singularidades.

Ariano Suassuna considerava o Cordel a principal referência do Movimento Armorial, sobretudo pelo espírito mágico e tradicional que permeia suas histórias, muito presente em todo o Romanceiro Popular do Nordeste. Nesta seleção estão reunidas talhas e xilogravuras dos mais importantes artistas do cordel que evidenciam o imaginário nordestino no qual se mesclam o cotidiano e o fantástico, animais comuns e monstros, cenas engraçadas e trágicas, fé e delírio.

As festas populares e suas imagens de beleza e riqueza extraordinárias, estão apresentadas na mostra através de figurinos, estandartes, vídeos e fotos do Reisado, Maracatu e Cavalo-Marinho.

De acordo com Denise, “dentro do espírito que norteou Suassuna, a proposta da exposição é reunir essas artes, apresentando às novas gerações o trabalho pioneiro e engajado do autor, mostrando como ele propunha uma volta às raízes brasileiras, com profundo respeito à diversidade, às tradições de negros, índios e brancos, mas apresentando tudo de forma mágica, lúdica, plena de humor – um humor que faz pensar. Uma lição de vida e de resultados positivos, resultados que devem ser mostrados para a sociedade improdutivamente polarizada na qual vivemos hoje.”

Ainda haverá programação especial com espetáculos musicais e eventos para debater o legado do movimento armorial. Clique aqui e confira.

A mostra também oferece atividades interativas e acesso a conteúdos digitais como o tour virtual da mostra, além de uma playlist no Spotify, que pode ser conferida aqui.

Confira também o folder digital da exposição.

SERVIÇO

O que: Exposição Movimento Armorial 50 anosQuando?  20 de julho a 26 de setembro

Onde: Centro Cultural Banco do Brasil – Rua Álvares Penteado, 112, Centro Histórico de São Paulo

Horário: todos os dias, das 9h às 20h, exceto às terças.

Entrada gratuita, mas é necessário adquirir os ingressos pelo site eventim.com.br ou diretamente na bilheteria do CCBB.

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