Por expor a verdade, Bachelet é repudiada na ONU pelo governo Bolsonaro
Na mesma reunião em que criticou a situação brasileira, a ex-presidente do Chile anunciou que não tentará um segundo mandato
Publicado 15/06/2022 13:32 | Editado 15/06/2022 13:54
Michelle Bachelet, alta comissária de Direitos Humanos da ONU, virou o alvo da vez de Bolsonaro. O governo acionou os canais diplomáticos da organização para repudiar o que considera “ativismo obsessivo” dela. Retórica eleitoral. A ex-presidente do Chile apenas acentuou o que o mundo já sabe sobre um país que não respeita os direitos dos povos indígenas e bate recorde de desmatamento na Amazônia.
O desaparecimento na região do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Pereira contribuiu para realçar essa imagem negativa do país.
“No Brasil, estou alarmada por ameaças contra defensores dos Direitos Humanos e ambientais e contra indígenas, incluindo a contaminação pela exposição ao minério ilegal de ouro (…) Peço às autoridades que garantam o respeito aos direitos fundamentais e instituições independentes”, disse a alta comissária.
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Sobre as eleições, a declaração de Bachelet deve ter irritado ainda mais Bolsonaro. Ela pediu garantias de eleições justas e transparente e de que “não haja interferências de nenhuma parte para que o processo democrático seja alcançado”. Alertou para a violência contra mulheres, negros e representantes LGBTQI+ que disputarão as eleições em outubro.
Preocupação justa diante de um presidente que um dia sim e outro também insiste em apontar fraude nas urnas eletrônicas sem apresentar sequer uma prova. Sua obstinação contra o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tem explicação no fato de estar ciente da iminente derrota eleitoral e, no futuro, ser obrigado a prestar contas com a Justiça.
Na segunda-feira (13), em Genebra, na mesma reunião em que criticou a situação brasileira, Bachelet, anunciou que não tentará um segundo mandato para continuar na ONU. “Como meu mandato de alta comissária chega ao fim, a 50ª sessão do conselho será a última em que eu me expresso”, disse ela ao Conselho de Direitos Humanos.
Meio ambiente
A reação às declarações de Bachelet demonstra também o quanto o tema ambiental preocupa Bolsonaro. Isso porque, são acentuadas as críticas contra a política de desmonte promovida na área, além do nítido incentivo dado por ele para o desmatamento e invasão de terras indígenas.
Vice-líder da oposição na Câmara dos Deputados, Alice Portugal (PCdoB-BA), afirmou que o governo não tem compromisso com o meio ambiente. “Enfraquece órgãos de fiscalização, flexibiliza leis que permitem a exploração de reservas naturais e ainda despreza o Fundo Amazônia, com mais de 288 milhões que eram destinados pela Alemanha e Noruega para preservação da Amazônia”, lembrou.
A Fundação Nacional do Índio (Funai), por exemplo, que tinha como principal função proteger os povos indígenas, foi esvaziada e passou a implementar políticas anti-indigenistas. “O indigenista Bruno Araújo foi exonerado do cargo de coordenador na Funai após pressão de setores ruralistas que apoiam o governo. O jornalista Dom Phillips foi destratado por Bolsonaro ao perguntar sobre desmatamento na Amazônia. O desaparecimento deles afunda a imagem do genocida”, afirmou o senador Humberto Costa (PT-PE).
O senador Fabiano Contarato (PT-ES) criticou o desmonte: “Enfrentamos grandes desafios na agenda ambiental, a começar pela postura negacionista do governo atual, que acabou com a Secretaria de Mudança Climática, acabou com o Plano de Combate ao Desmatamento, acabou com o Departamento de Educação Ambiental, enfraqueceu órgãos de fiscalização como Ibama e ICMBio e criminaliza ONGs”.
“Bolsonaro mentiu para o mundo. Disse ‘somos uma potência agrícola sustentável’ e que ‘reforçou o combate ao desmatamento’. Isso depois de passar boiada, estimular desmatamento e mineração ilegais, grilagem, abandonar yanomamis e ambientalistas e liberar os piores agrotóxicos”, criticou o deputado Ivan Valente (PSOL-SP).