Publicado 20/05/2022 21:13 | Editado 20/05/2022 21:14
A notícia do assassinato da jornalista palestiniana Shireen Abu Akleh há uma semana, em Jenin, na Cisjordânia, pelas forças israelitas, é um caso de estudo na história da mídia.
Lamentos e consternações à parte, atente-se como grande parte da comunicação social, para dar conta do abominável crime, recorreu à expressão “foi morta”, que é o mesmo mas não é igual a “foi assassinada”.
Como muito bem sabem as centrais de (des)informação que todos os dias nos bombardeiam com a verdade oficial, as palavras têm peso e o peso importa na gestão das emoções, que é o campo onde nos querem confinar para evitar que a razão se intrometa e se ponha a avaliar o que nos servem de bandeja.
Por isso Shireen Abu Akleh “morreu” ou “foi morta”, apesar de devidamente identificada com capacete e colete com as letras PRESS, quando se preparava para cobrir o ataque israelita a forças palestinas.
Israel logo veio descartar responsabilidades, primeiro divulgando um vídeo que se veio a comprovar não ser do local do crime, e depois, à falta de melhor, declarando que as “forças de defesa de Israel nunca irão deliberadamente visar não combatentes”, porque estão “comprometidos com a liberdade de imprensa e com a santidade das vidas humanas”.
A prova cabal da seriedade da afirmação foi dada de imediato com o bombardeamento do edifício da Al-Jazeera, onde estavam também os escritórios de correspondentes de meios de comunicação social de diversos países. Nada que a Otan não tenha feito há mais de 20 anos, em Belgrado, para calar a televisão sérvia. Anos volvidos, no apuramento de responsabilidades, um tribunal muito isento havia de concluir que o atacante não tinha tido intenção de provocar vítimas, que as houve, sendo disso culpado o dirigente da estação por não ter mandado evacuar o edifício. Não é humor negro, são fatos.
O compromisso com a liberdade de imprensa que assola a União Europeia, os EUA e demais correligionários também ficará para os anais da história do jornalismo ocidental como um caso sui generis em que diversidade é para abater, ou seja, o que a UE considera “veículo de propaganda de Putin” deve “ser policiado e, até, silenciado”. Foi o que sucedeu com o canal Russia Today (RT), classificado pelos EUA como “agente estrangeiro” e consequentemente banido, tal como outros, o que nos deixa com a liberdade de acessar… ao que nos deixam acessar.
E por que motivo havia o mundo de querer a RT se tem desde a Segunda Guerra Mundial a Voz da América, financiada pelo governo federal dos EUA, dependente do presidente, retransmitida via rádio e televisão em dezenas de idiomas, tão isenta, mas tão isenta, que não pode emitir para o interior do país para não bafejar a administração em exercício?
Pergunta tola, esta. A liberdade é assim mesmo.
Fonte: Avante!