Como o mundo político se despediu da “Mulher do Fim do Mundo”

Personalidades do campo progressista da política ressaltaram a importância política de Elza Soares, na luta contra o racismo, o machismo, a pobreza e a homofobia.

Foto: Ricardo Stuckert

A morte de Elza Soares, aos 91 anos, mobilizou homenagens e solidariedade de personalidades das mais diversas áreas, para além da música e da cultura. Como uma artista com um forte posicionamento político na luta contra o classismo, a desigualdade, o racismo, o machismo e a homofobia, sua despedida não podia deixar de causar pesar entre políticos, que se manifestaram. A cantora morreu nesta quinta-feira, no Rio de Janeiro, por causas naturais, segundo sua família. 

Nas publicações, deputados e senadores dos mais diversos espectros políticos se manifestaram sob a hashtag Mulher do Fim do Mundo, o tema de um de seus álbuns mais recentes. No campo progressista, lembraram do ativismo e das lutas sociais da artista, importante para o movimento negro e feminista. Cantou até o fim, sempre dando espaço para novos artistas e compositores, inovando na forma e no conteúdo, tendo deixado trabalhos a serem lançados, em meio a homenagens recentes, ainda em vida, e expressando suas críticas sociais.

Uma das personalidades da música e da política que expressou uma opinião legitimada pela proximidade com a cantora foi a deputada estadual e sambista Leci Brandão (PCdoB-SP). “Quanta tristeza! A nossa DIVA Elza Soares fez sua passagem hoje. A Voz do Milênio, Elza é uma referência de mulher, artista e ser humano. Elza é eterna! Eu agradeço por sua passagem iluminada nesse mundo. Que Olorum a receba em festa… ElzaSoares sempre presente!”, disse ela nas redes sociais. Entrevistada pela Rádio Band, Leci falou da referência que a cantora sempre foi para artistas como ela.

Em defesa da democracia

Elza marcou a história do Rock in Rio 2019 com sua manifestação política contundente. A apresentação de Elza no grande evento deu o que falar, uma vez que, sem medo de dar sua opinião abertamente, a musa mandou um recado sobre racismo e violência contra mulheres.

Ela começou com uma indireta ao governo do presidente Jair Bolsonaro, afirmando que os brasileiros precisam aprender a votar. Em seguida, após protestar contra tudo isso, o local foi preenchido por gritos que mandavam o presidente “tomar no c*”.

Na ocasião, a jornalista Titi Müller estava cobrindo os bastidores do Rock in Rio 2019, para o Multishow. Ao ouvir os gritos, a repórter também politizada fez uma brincadeira afirmando que a multidão estava chamando o nome da cantora e, ao apontar o microfone para o povo, os gritos: “Ei, Bolsonaro, vai tomar no c*”, preencheram o canal.

Em 2016, em meio ao golpismo contra Dilma, Elza deu uma entrevista à revista Quem, que também causou furor. “Eu não gosto de me aprofundar em política porque, se eu abrir a minha boca, vai ser uma coisa terrível… Votei na Dilma por ela ser mulher. Votei pela classe feminina. Acredito que todos queriam uma mulher no poder, o resto não sei. Isso tudo me deixa muito inquieta e assustada. Estamos passando por um período nebuloso e de muita tensão. Entretanto, me alegra saber que estamos em uma democracia e todos podemos ser investigados como iguais. Viver na democracia é dizer eu sou, eu canto, eu posso”, disse Elza.

Voz de potência política

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lamentou a morte da cantora, afirmando ter recebido com tristeza a partida de quem classificou como um dos grandes nomes da história cultural do Brasil.

“Com muita tristeza recebemos hoje a notícia da partida da nossa querida Elza Soares. Perdemos não só uma das melhores cantoras e vozes mais potentes do Brasil, mas também uma grande mulher, que sempre defendeu a democracia e as boas causas”, escreveu.

Ele também disse que Elza foi uma lutadora pela arte e pela vida contra a fome, a miséria, o racismo e o machismo. “Força à família, aos amigos e à legião de fãs em todo o mundo. Vá em paz, Elza. Sua voz e sua história seguirão vivas nas nossas mentes e em nossos corações”, completou.

O senador Alessandro Molon (PSB-RJ) manifestou sua tristeza pela morte de Elza, mas afirmou “sua voz, sua música, sua, seu exemplo e sua luta” que, segundo ele, “jamais serão esquecidos ”. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) divulgou a contribuição cultural da artista, que classificou como “uma parte imensa da cultura e da construção do nosso povo” e símbolo de resistência.

O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) disse estar “sem palavras para tanta tristeza”. “Elza Soares sempre estará presente onde reinar a alegria e a vontade de viver”, declarou.

A presidenta do PCdoB, vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos, disse que Elza Soares “é ícone”. “Será lembrada pela artista gigante que foi — a dona da voz do milênio — mas também pela potência de uma personalidade que se impôs diante das intempéries e se afirmou como mulher negra, consciente, forte e determinada. Viverá para sempre!”, declarou a dirigente comunista.

A presidente do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann, citou a trajetória de Elza Soares e a definição como “mulher, negra, guerreira, para sempre em nossa lembrança”. Pré-candidato petista ao governo de São Paulo, o ex-prefeito Fernando Haddad escreveu que “nas poucas vezes que estive com nossa Elza Soares, senti a força descomunal de uma mulher extraordinária”.

“Elza Soares veio do planeta fome, como ela mesma dizia, para nos oferecer sua voz, seu talento, coragem, resistência, solidariedade e identidade com nosso povo. Mulher, negra, brasileira, guerreira, para sempre em nossa lembrança”, disse Gleisi. 

O coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto e dirigente do PSol, Guilherme Boulos, disse que Elza Soares é a síntese de um país construído por mulheres negras e fortes. “Fez tudo e mais um pouco pela nossa música e nossa cultura. Vá em paz, gigante!”

O presidenciável Ciro Gomes (PDT) expressou seu lamento dizendo que o Brasil perde uma de suas vozes mais fortes, representativas e mundialmente conhecidas. “Elza Soares, que foi eleita uma das maiores artistas do mundo, teve sua vida marcada pela superação. Sua história é símbolo de luta pelo direito das mulheres, dos negros e dos mais pobres.

Ele lembrou texto de Elza que dizia: “Acho que o primeiro passo para transformar as coisas é continuar lutando, não desistir. Por isso faço questão de ser ativista. É parte da minha personalidade. Eu brigo, grito, vou à luta”. Para ele, “sua luz, ainda mais neste momento sombrio da vida brasileira, fará muita falta! Mas seu exemplo, sua música e sua arte, serão eternos! Meus sentimentos aos familiares, amigos e milhões de pessoas que, assim como eu, são seus fãs”.

O rapper Emicida em foto de João Wainer

A deputada Benedita da Silva (PT-RJ) destacou a importância da cantora para além da música. “A nossa diva, ícone e uma das maiores vozes da música mundial, Elza Soares nos deixou um legado imenso que vai além da carreira artística. Como diz a sua música, o seu país foi lugar de fala. E a sua voz potente jamais será silenciada. A nossa diva, ícone e uma das maiores vozes da música mundial, Elza Soares nos deixou um legado imenso que vai além da carreira artística. Como diz a sua música, o seu país foi lugar de fala. E a sua voz potente jamais será silenciada.”

A deputada federal Talíria Petrone (PSol-RJ) disse estar profundamente triste com a notícia. “Elza foi lendária, falou de temas relevantes em suas música e marcou o nosso país profundamente. Essa era Elza, uma artista que conhecia bem a dor de sua gente. Que descanse em paz e todos que a amam sejam consolados! Viva Elza!”, completou. Já a deputada federal Áurea Carolina (PSol-MG) disse que Elza é gigante. “Do planeta fome ao título de cantora do milênio, Elza Soares é gigante. Eu agradeço por ter vivido no mesmo tempo que ela, a mulher do fim do mundo, que tanto nos ensinou sobre música, valentia e compaixão. O Brasil não seria nem será o mesmo sem Elza.”

A deputada federal Tábata Amaral (PSB-SP) também usou suas redes sociais para se manifestar: agradeceu à cantora e afirmou: “Nenhuma mulher deveria passar pelo que você passou. Você lutou, você lutou e transformou de forma forte, bela e poética o nosso país e a vida das que foram tratadas depois de você”.

A deputada Olívia Santana (PCdoB-BA) foi responsável por uma homenagem à cantora em 2009, quando ela recebeu o título de cidadã soteropolitana pela Câmara Municipal de Salvador. A parlamentar lamentou o falecimento da “mulher do fim do mundo”. “Mulher negra de enorme talento, de voz única, e que se fez exemplo de resistência e luta. Ela nos deixa um legado artístico, cultural e feminista potente! Gratidão, rainha!”

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