Cuba ocupa o topo dos países mais vacinados do mundo
Entre as grandes nações, Cuba lidera a vacinação com mais de 80% totalmente imunizados, mesmo com sanções, tendo que produzir suas próprias vacinas.
Publicado 25/11/2021 08:05 | Editado 24/11/2021 22:27
«Os resultados de Cuba contra a covid-19 mostram o quanto a nação fez para vencer a batalha contra uma doença devastadora contra os humanos», disse o dr. José Angel Portal Miranda, ministro da Saúde Pública de Cuba, apresentando uma atualização sobre as contribuições da ciência neste combate, perante uma plenária entusiasmada com a presença dos destacados cientistas que protagonizam a imunização e do tratamento da doença.
A frase do ministro celebra um resultado que se destaca silenciosamente em todo o mundo, conforme Cuba chega ao topo da lista de países mais imunizados contra a covid-19 em todo o mundo, sem ser mencionada a façanha surpreendente na imprensa corporativa ocidental. Cuba sofre embargos, sanções e bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelo governo dos Estados Unidos, que se intensificou durante a pandemia. Bloqueios que dificultaram seu acesso a vacinas e insumos, mesmo assim, sendo capaz de produzir não apenas uma vacina, mas três em uso e duas em testes, podendo se tornar exportadora para países como México e Irã.
Contando os países com mais de 10 milhões de habitantes, Cuba ocupa o primeiro lugar, com mais de 80% da populaçào totalmente imunizada, e quase a totalidade com uma dose da vacina. Único país da América Latina com suas próprias vacinas, Cuba é seguida de Portugal, Chile e China, que também computam recordes de vacinação. Neste ranking, o Brasil também se destaca em 16o. lugar.
Um triste registro, ao lado de Cuba, é o Haiti entre os países menos vacinados do mundo, com pouco mais de 1% da população com alguma dose da vacina. A imensa maioria dos países com taxas semelhantes a esta estão situados no continente africano.
Nesta lista não estão inclusos pequenos países, ilhas e arquipélagos com baixa densidade demográfica que também possuem altas taxas de vacinação. É o caso de Gibraltar, na Europa, com seus 32 mil habitantes, que ultrapassou os 100% de vacinados. Mesmo se estes países fossem incluídos na lista, Cuba ocuparia o 5o. lugar entre os mais vacinados, depois de Gibraltar, Emirados Árabes, Singapura e Brunei.
O ministro cubano lembrou que em 2020 foi alcançado um bom controle da epidemia que foi possível manter até o início de 2021, apesar do aumento de casos que significou a entrada de novas variantes do SARS-COV-2 entre dezembro e fevereiro.
«Desde o início de 2021, o contexto epidemiológico cubano teve um crescimento sustentado de casos, até atingir os valores máximos em 23 de agosto, com 9.907 casos», avaliou o ministro.
Destacou que a partir de 20 de setembro -— data em que mais de 40 mil pessoas foram internadas com o vírus — iniciou-se a queda acelerada dos ativos, registrando-se em 27 de outubro 8.261, o que significou uma redução de 32.723 ativos (75% a menos do que o admitido) em 27 dias.
Ferramentas contra a covid
No entanto, o país não parou de desenvolver seus meios de enfrentamento à doença. Portal Miranda destacou que no ano passado a rede de Laboratórios de Biologia Molecular continuou se expandindo, alcançando todas as províncias e o município especial de Isla de la Juventud. Hoje são 27 instituições desse tipo em funcionamento, com capacidade para processar 25 mil testes de PCR por dia.
Do Plano, frisou que um dos seus eixos principais é a organização dos serviços de Saúde, em que o trabalho tem sido escalonado na disponibilidade de leitos hospitalares, na disponibilização de ventiladores pulmonares e outros equipamentos médicos e tecnológicos, bem como na preparação de profissionais e técnicos que atuam na zona vermelha e nos demais centros e serviços.
«Esta forma de atuação» — frisou — «tem permitido, durante grande parte da epidemia, manter o equilíbrio entre as necessidades e capacidades dos leitos hospitalares e outros serviços de tratamento de doentes seropositivos, apesar dos momentos tensos vividos recentemente com o aumento significativo de casos e a crise com o oxigênio medicinal».
«É justamente na ciência que se encontraram as melhores respostas para combater o vírus e, apesar da tragédia que causou sua disseminação pelo mundo, sua disseminação acelerada promoveu o desenvolvimento do conhecimento de uma forma sem precedentes em Cuba», afirmou.
O ministro valorizou o trabalho das universidades cubanas e seus vínculos com o setor da Saúde, valioso exemplo de cooperação, bem como a integração do Sistema de Saúde com a indústria da biotecnologia e com outras instituições de pesquisa e centros de produção, o que favoreceu valiosas contribuições na luta contra a covid-19.
Cuba tem produzido e testado 27 produtos desenvolvidos pelas empresas da BioCubaFarma. São quatro imunomoduladores, três antivirais, três medicamentos antiinflamatórios, três vacinas com aprovação de uso de emergência e duas candidatas de vacinas ainda em teste clínico, quatro diagnosticadores serológicos, quatro diagnosticadores moleculares e quatro equipamentos médicos.
Cuba ainda foi capaz de produzir seus próprios ventiladores pulmonares pela indústria biofarmacêutica, para o atendimento de pacientes em estado crítico. O Centro de Estudos Avançados de Cuba produziu insumos nanotecnológicos, usados pelos Laboratórios de Biologia Molecular.
Houve ainda combinação inovadora de medicamentos cubanos, incluindo o uso de Biomodulin T e Surfacen, com sobrevida de 99,9% nos pacientes tratados.
Partindo para o reforço vacinal
Em 8 de novembro, começou na capital o reforço da vacinação contra a covid-19 em trabalhadores da saúde e da BioCubaFarma, que será estendida de forma escalonada, segundo o site do ministério da Saúde Pública (Minsap).
Será aplicada a vacina cubana Soberana Plus, e durante a semana outros trabalhadores dessa esfera do resto do país vão aderir à vacinação. Aguarda a aprovação de um estudo com a candidata, também cubana, Soberana 01, após o qual será utilizado em outras instituições de Havana e Cienfuegos.
Dagmar García Rivera, diretora de Pesquisas do Instituto Finlay de Vacinas (IFV), acrescentou que as evidências mostram uma duração de resposta favorável em vacinados com ambos os imunógenos, e que os resultados do reforço são positivos, bem como o reforço da Soberana 01 para os imunizados com a vacina Pfizer.
Até o final deste mês, espera-se começar a fortalecer a população em geral, com outra vacina cubana, a Abdala, a partir dos primeiros municípios a aderir à imunização. Ao mesmo tempo, poderá haver vacinação em territórios de alto risco.
A drª Miladys Limonta Fernández, coordenadora dos projetos de desenvolvimento de vacinas candidatas anti-Covid-19 do Centro de engenharia Genética e Biotecnologia (CIGB), destacou a adequação da Abdala como dose de reforço. Ressaltou que tem demonstrado essa capacidade em indivíduos convalescentes, em indivíduos vacinados com outras formulações, como Sputnik e Sinopharm, e naqueles que foram imunizados cinco meses antes com o esquema completo da Soberana 02 Plus, bem como com Abdala. Além disso, o uso de Abdala para a administração de doses de reforço é eficaz em pessoas com idade superior ou inferior a 60 anos.
Comemoração desconfiada
A diminuição das infecções no país se mantem há seis semanas. Ainda assim, esse melhor comportamento da doença em todo o território nacional, é tratado com desconfiança pelo governo.
«É um comportamento que se manifesta em todo o país e parece irreversível», disse anteriormente o dr. Raúl Guinovart, reitor da Faculdade de Matemática e Computação, no encontro com o grupo de cientistas e especialistas.
«A queda também continua», detalhou o ministro Portal Miranda, «no número de infectados com a doença que são internados. No final da semana passada havia 3.892 pessoas, o que significa 1.839 menos do que no mesmo período anterior».
Como um elemento significativo, destacou que as internações residenciais continuam diminuindo, e, neste momento, a maioria dos confirmados tem internação hospitalar.
No entanto, esta realidade chamou a atenção para seis províncias, nas quais se concentraram 72% dos casos diagnosticados na semana passada.
Diante do cenário iminente que começará a se viver em Cuba, com a passagem ao novo normal e o incremento de diversas atividades e serviços, o ministro da Saúde reiterou às autoridades das diferentes províncias a importância de não recuar — devido ao descumprimento dos protocolos — no controle da doença.
«Em alguns lugares começam a ser vistas pessoas que não usam máscara facial e é uma medida básica que não podemos ignorar. O controle da doença não pode ser confiado apenas às vacinas; não se pode confiar em ninguém, é imprescindível continuar insistindo nas medidas básicas de proteção pessoal: não é apenas exigi-las, mas também para garantir que sejam cumpridas».
Com informações do Granma