Fome: No Governo Bolsonaro, comida custa 25 horas a mais de trabalho por mês
Segundo levantamento realizado pelo Dieese para o Portal Vermelho, no início do Governo Bolsonaro, o custo da alimentação de um trabalhador estava em R$ 467,65 enquanto o salário mínimo foi fixado em R$ 998,00. Ou seja, era suficiente para comprar 2,1 cestas. Em setembro de 2021, a cesta já chegava a R$ 673,45 para um salário de R$ 1.100,00, conseguindo o mínimo adquirir 1,6 cesta.
Publicado 21/10/2021 20:10 | Editado 21/10/2021 20:53
São necessárias 25h01m a mais de trabalho ao mês, atualmente, para se conseguir comprar comida do que eram quando Bolsonaro assumiu a Presidência. Segundo levantamento realizado pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em São Paulo, era preciso trabalhar um total de 103h05m mensais para comer em janeiro de 2019, ante 128h06m de julho de 2021. “O salário mínimo, que vem sendo reajustado abaixo da inflação desde 2019, está perdendo poder de compra”, analisa a supervisora da Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos, Patrícia Lino Costa.
De acordo com levantamento realizado pelo Dieese para o Portal Vermelho, no início do Governo Bolsonaro, o custo da alimentação de um trabalhador estava em R$ 467,65 enquanto o salário mínimo foi fixado em R$ 998,00. Ou seja, era suficiente para comprar 2,1 cestas. Em setembro de 2021, a cesta já chegava a R$ 673,45 para um salário de R$ 1.100,00, conseguindo o mínimo adquirir 1,6 cesta. Este patamar representa um grande retrocesso com relação às conquistas obtidas pelos trabalhadores na década anterior.
“A desvalorização do mínimo é consequência de uma escolha. Antes, o reajuste era concedido segundo o PIB (Produto Interno Bruto) per capita mais a inflação, durante o Governo Lula, quando começou esta política de valorização do salário mínimo. Ela foi cumprida até 2018, quando Temer resolveu mudar, mas foi uma decisão do Bolsonaro mantê-la, seguindo a posição do Paulo Guedes, que é de não interferência no mercado”, afirma.
Segundo a economista, a política bolsonarista vem sendo de a cada ano sinalizar com o congelamento do salário mínimo. “As pessoas reclamam e o Governo acaba dando R$ 20 ou R$ 30 de aumento, mas o Governo Bolsonaro não interfere nas questões sociais. Com o impeachment de Dilma, houve uma mudança na política econômica e entrou o receituário neoliberal. Como o Governo Bolsonaro trata a pobreza? Dando auxílio, vale gás. Há uma mudança de orientação e o Bolsonaro vem com o Guedes e a direita ultraliberal atrás. A diferença está nesse tratamento da pobreza, que antes era de inclusão por políticas de geração de renda e consumo, e agora é vale leite, vale gás, e a visão de que o reajuste do salário mínimo aumenta o custo da mão de obra”, sintetiza.
Soma-se à desvalorização do salário mínimo, dificultando o acesso da população à comida, o abandono das políticas agrícolas, diz ela. “Sob esta mesma orientação de não intervenção na economia, não há mais estoques de arroz, milho, trigo, feijão. Com a política de estoques reguladores, no momento em que há excesso de oferta, o Governo compra arroz do produtor e guarda. Quando há falta, ele abastece o mercado interno. Mas agora, como não há estoques, o preço sobe”, explica.
A economista lembra que, em agosto de 2019, a carne de primeira – categoria que inclui colchão duro, colchão mole e patinho – custava R$ 25 em São Paulo e, em setembro de 2021, alcançou R$ 43. Em Salvador, subiu de R$ 22,48 a R$ 37,82 no mesmo período. “O Governo Bolsonaro trabalha com a ideia de que o produtor vai escolher como fazer. Mas é claro que, se o produtor vê o preço da soja subindo e a economia interna deprimida, a população sem renda, vai querer exportar. O povo brasileiro que pague mais caro ou que coma osso”, lamenta.