Acusações na CPI da Covid contra Bolsonaro são destaques no mundo
O tema ganhou as páginas de jornais influentes como o New York Times, Washington Post, Financial Times e The Guardian
Publicado 21/10/2021 11:19 | Editado 21/10/2021 12:09
As acusações feitas pela CPI da Covid ao presidente Jair Bolsonaro ganha ampla repercussão internacional, estampando páginas de diversas publicações na imprensa estrangeira ao redor do mundo. O tema é destaque em jornais influentes como o New York Times, Washington Post, Financial Times e The Guardian.
Despacho da Associated Press vai direto ao ponto: Relatório do Senado pede acusação de pandemia ao líder do Brasil. “Um relatório do Senado brasileiro recomendou na quarta-feira a perseguição de crimes contra a humanidade e outras acusações contra o presidente Jair Bolsonaro por supostamente atrapalhar a resposta do Brasil ao Covid-19 e contribuir para que o país tenha a segunda maior taxa de mortes da pandemia no mundo”, escrevem Débora Álvares e Diane Jeantet. O material foi replicado em 15,7 mil veículos noticiosos em todo o planeta.
Reuters destaca em reportagem que senadores do Brasil retiraram a acusação de homicídio Covid-19 contra Bolsonaro e, em vez disso, acusam-no de “crimes contra a humanidade”. “O relatório de quase 1.200 páginas, tornado público na terça-feira, havia solicitado mais de 20 acusações contra 66 pessoas e duas empresas, incluindo Bolsonaro, seus três filhos e cinco ministros ou ex-ministros”, resume. O material foi reproduzido em mais de 11,4 mil sites.
New York Times informa que o comitê que investiga Bolsonaro no Senado brasileiro fez mudanças na última hora para suavizar as recomendações criminais contra o presidente brasileiro. “Os senadores da CPI de 11 membros tiveram dúvidas sobre a probabilidade de acusações de homicídio e genocídio”, relata. “Em vez disso, eles acusaram o presidente de ‘crimes contra a humanidade’”.
Diz a reportagem: “A mudança de última hora, após alguns dos detalhes do relatório já terem vazado, reflete o cenário político polarizado e complicado de Bolsonaro, cuja popularidade despencou desde que ele assumiu o cargo em 2019, mas que ainda detém enorme poder, fazendo seus adversários pisarem com cautela”.
Washington Post também amplifica a repercussão da denúncia: comissão do Senado brasileiro acusa Bolsonaro de crimes contra a humanidade por negligência astuta. “Um legislador que liderava a investigação acusou o presidente brasileiro e outras autoridades de tomar decisões que permitiram a disseminação do coronavírus, resultando em mortes desnecessárias”, resume. “O relatório final, com mais de 1.000 páginas, acusa Bolsonaro e aliados por deixarem de agir para parar o mortal coronavírus, minando ainda esforços para fazer isso”.
Financial Times destaca que o relatório da CPI pede que Bolsonaro do Brasil enfrente acusações pela resposta à pandemia. “Avaliação da comissão do Senado recomenda que presidente deve enfrentar indiciamento criminal”, diz. O diário britânico aponta que o relatório é “contundente”. A CPI acusa o chefe da nação mais populosa da América Latina de não conseguir adquirir as vacinas a tempo, promover tratamentos sem base científica como a cloroquina, divulgar “notícias falsas” que incentivam a população a não respeitar as medidas sanitárias e falsificar documentos.
Crime contra humanidade
O inglês The Guardian também repercute as acusações da CPI: Bolsonaro deve ser acusado de crimes contra a humanidade, concluiu o inquérito da Covid. “Presidente brasileiro é acusado por resposta ‘macabra’ e ‘desleixada’ à pandemia e ‘negligência deliberada’ dos povos indígenas”, sublinha o diário. Segundo o relato do correspondente Tom Phillips, duas das acusações mais dramáticas contra o presidente brasileiro — assassinato e genocídio de populações indígenas do país — foram retiradas da versão do relatório na noite de terça-feira, após conversas entre senadores da oposição que participavam do inquérito. “Mas a versão final sugere que o comitê recomendará ao presidente populista do Brasil que seja acusado de nove crimes distintos, incluindo charlatanismo, incitação à prática de crimes, propagação de germes patogênicos e crimes contra a humanidade”, sintetiza.
The Times é direto na manchete: Inquérito acusa o presidente Bolsonaro de assassinato por erros da pandemia Covid no Brasil. O jornal informa que Bolsonaro rejeitou o relatório dizendo que a acusação de assassinato é uma “piada”. Mas é cético: “Bolsonaro considera o relatório motivado por interesses políticos e é altamente improvável que ele seja julgado, já que quaisquer acusações teriam de ser apresentadas pelo procurador-geral do Brasil — que foi nomeado pelo líder de extrema direita”.
O francês Le Monde destaca a gestão “criminosa” da pandemia por Jair Bolsonaro no Brasil. “Uma comissão do Senado acusa o presidente de extrema direita por milhares de mortes por meio da disseminação de informações falsas e do abandono intencional de populações indígenas”, relata a correspondente Anne Vigna. “O presidente passou o dia apresentando seu novo programa social, criado para substituir o lendário Bolsa Família, instituído há quinze anos por seu adversário, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, disse Lula. Como por milagre, o programa Auxilio Brasil, anunciado há meses, foi revelado no mesmo dia em que ‘a gestão desastrosa e criminosa da pandemia pelo governo Bolsonaro’ ganhou as manchetes”.
Libération também dá ampla cobertura ao relatório da CPI: “Charlatanismo”, “homicídio doloso”: o Senado brasileiro responsabiliza Bolsonaro pela gestão da Covid-19. A reportagem da correspondente Chantal Reyes começa pela reação do presidente: “‘Renan imagina que não vou dormir sobre isso à noite. Esse bandido!’ Foi com uma de suas bravatas habituais que Jair Bolsonaro reagiu, já na semana passada, aos primeiros vazamentos sobre o conteúdo do relatório final da comissão senatorial de inquérito responsável por examinar sua gestão desastrosa da crise de Covid-19”. Ela diz que, no relatório, o chefe de Estado é acusado de “charlatanismo”, “homicídio doloso” e “crimes contra a humanidade”.
Os espanhóis El País e El Mundo também reforçam as a imagem negativa do presidente do Brasil. Uma comissão do Senado acusa Bolsonaro de crimes contra a humanidade — diz o primeiro. “Os senadores que investigaram sua forma de lidar com a pandemia retiraram as acusações de assassinato em massa e genocídio”, resume a correspondente Carla Jimenez, chefe do escritório do El País em São Paulo.
O argentino Clarín abre pela declaração de Bolsonaro, que se defende das acusações: “Não temos culpa de nada”. O presidente do Brasil dissociou-se dos dez crimes de que a comissão de inquérito do Senado o acusa”, reporta. “‘Sabemos que não temos culpa de absolutamente nada. Sabemos que fizemos a coisa certa desde o início’, disse o presidente durante ato oficial no estado do Ceará, poucas horas após a apresentação do relatório que atribui ao presidente, a três filhos e ministros diversas responsabilidades na crise da saúde, que deixou mais de 600 mil mortos no Brasil”.
Página 12 diz que relatório é difícil contra Jair Bolsonaro: o Senado brasileiro o acusou de cometer dez crimes durante a pandemia, após seis meses de investigação. O jornal diz que ele é acusado de crime contra a humanidade e que Bolsonaro expôs a população ao risco de uma infecção em massa. Há 68 acusados, incluindo os três filhos do presidente.
O português Diário de Notícias destaca as acusações contra o líder da extrema-direita nacional, que vão de incitação ao crime a extermínio. Os 10 crimes que indiciam Bolsonaro. “O relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito o Senado do Brasil pede o indiciamento do presidente por ter colocado, durante a pandemia, ‘a população em risco de uma verdadeira infeção em massa’”, informa, também destacando a reação do presidente: “Não temos culpa de absolutamente nada”.
O também lusitano Público é outro a repercutir as denúncias: Bolsonaro acusado de nove crimes por comissão de inquérito sobre a pandemia. “Senadores deixaram de lado indiciamento por homicídio e genocídio. Cabe agora ao procurador-geral da República decidir se acusações avançam”, aponta o jornal. Bolsonaro diz que investigações ‘nada produziram’.
O alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung também fustiga o presidente brasileiro: Senadores pedem ação legal contra Bolsonaro. “No Brasil, relatório de investigação do Senado dá ao presidente Jair Bolsonaro um testemunho devastador de sua política contra a corona”, informa. “O relatório lista várias condutas impróprias do governo e recomenda ações legais contra o chefe de estado extremista de direita”.
O saxônico Süeddeutsche Zeitung vai na mesma linha e diz que há sérias acusações contra Bolsonaro por causa da sua política contra o coronavírus. Ele minimizou o coronavírus desde o início da pandemia e rejeita medidas de proteção e restrições, destaca o jornal, a partir de despacho da agência de notícias da Alemanha DPA. “O governo agiu com negligência e ‘expôs deliberadamente a população ao risco concreto de infecção em massa’ para obter imunidade coletiva, disse o senador Renan Calheiros ao ler o relatório final em Brasília na quarta-feira”.
Fonte: Boletim da Fundação Perseu Abramo