Sem convencer, diretor nega na CPI omissão da ANS no caso Prevent Senior

Apesar das denúncias se tornarem públicas desde março, a ANS só autuou a Prevent Senior no mês passado, isto é, depois que médicos entregaram um dossiê à CPI contendo as acusações contra a empresa

O diretor-presidente da ANS, Paulo Rebello, durante depoimento na CPI (Foto: Edilson Rodrigues / Agência Senado)

O diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Paulo Rebello Filho, não convenceu senadores da CPI da Covid ao falar sobre a omissão do órgão na apuração das denúncias contra a Prevent Senior. A operadora é acusada de pressionar médicos a receitar medicamentos sem eficácia contra a Covid-19, usar pacientes como cobaias para testar o chamado “kit covid” e fraudar atestados de óbitos para omitir a Covid-19 como causa da morte.

Apesar das denúncias se tornarem públicas desde março, a ANS só autuou a Prevent Senior no mês passado, isto é, depois que médicos entregaram um dossiê à CPI contendo as acusações contra a empresa.

Os senadores da comissão investigam a suposta omissão tanto da ANS quanto do Ministério da Saúde. Na semana passada, a advogada Bruna Mendes Morato, que representa 12 médicos que acusaram a operadora, revelou à CPI que após o então ministro da Saúde, Henrique Mandetta, denunciar a empresa houve uma aproximação da Prevent com médicos que aconselhavam o governo Bolsonaro na política negacionista de combate à pandemia.

O senador Otto Alencar (PSD-BA) foi duro nas críticas. Ele lembrou a Paulo Rebello que, em março passado, jornais de São Paulo e blogues já denunciavam a empresa. “Vossa Senhoria deve ter, dentro da sua estrutura, uma assessoria de imprensa muito boa, e nunca tomou conhecimento disso desde março, em que já vinham ocorrendo esses casos todos? Quer dizer, eu acho que, sinceramente, não me convence que só depois da CPI é que Vossa Senhoria tomou conhecimento disso”, questionou o senador.

Em abril, o diretor-presidente da ANS disse que o órgão solicitou informações da operadora. “Eles apresentaram declarações dos médicos e também dos pacientes, informando, primeiro, que eles concordavam em receber esses medicamentos, e os médicos, todos eles, informavam, no caso, que tinham autonomia e tinham liberdade pra prescrever. Por isso é que foi arquivado esse processo especificamente”, justificou.

“Eu continuo sem me convencer do fato, até porque uma das atribuições da Agência Nacional de Saúde é fiscalizar onde tem a denúncia. Então, a agência não mandou absolutamente nenhum dos seus funcionários, muito menos Vossa Senhoria, ao hospital para verificar denúncias. Então, houve uma omissão, sim, nessa questão”, voltou a criticar Otto.

Lembrou ainda que só depois da CPI é que a agência tomou conhecimento. “Até porque nós temos convicção de que existia um acobertamento no Ministério da Saúde e também na Agência Nacional de Saúde, pra que os testes fossem feitos de forma errada, equivocada, sem nenhuma autorização pra fazê-lo”, protestou.

Dossiê

O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), exibiu dossiê com denúncia à ANS que teria sido apresentada por uma médica contra Prevent Senior ainda em abril de 2021. Em resposta, Rebello afirmou que só tomou conhecimento do caso em 4 de outubro.

O senador Humberto Costa apontou a demora da ANS para agir no caso Prevent Senior. “Só o senhor e a diretoria da ANS que não estavam sabendo do assunto Prevent Senior no Brasil”, afirmou o senador, lembrando várias matérias jornalísticas sobre a operadora durante a pandemia e ainda uma denúncia formal apresentada à ANS no ano passado pela deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ).

Ricardo Barros

Rebello também negou a influência do deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo Bolsonaro na Câmara dos Deputado, na sua indicação para ANS. Ele admitiu que trabalhou como chefe de gabinete quando Barros foi ministro da Saúde, mas disse que foi indicado à ANS pelo sucessor de Barros na pasta, o ex-ministro Gilberto Occhi.

“O senhor está sendo muito ingrato com Ricardo Barros”, provocou Otto Alencar. Randolfe disse que era fato o que o depoente estava falando, mas lembrou que Occhi sucedeu Barros por indicação do próprio deputado. “Indicação do mesmo consórcio envolvendo o Partido Progressista, envolvendo os progressistas. E é notória a relação do Gilberto Occhi com o Ricardo Barros”, lembrou.

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