Governo Bolsonaro paga R$ 15 milhões à empresa envolvida em fraude da vacina
Randolfe Rodrigues diz não ser verdade que o governo Bolsonaro não desembolsou um real para Precisa Medicamentos, envolvida no contrato fraudulento de vacina com o Ministério da Saúde. Em novembro de 2020, a empresa recebeu R$ 15 milhões pela venda de preservativos
Publicado 23/09/2021 14:22 | Editado 23/09/2021 15:01
O vice-presidente da CPI da Covid, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), desmontou nesta quinta-feira (23) o discurso dos senadores governistas segundo o qual o governo Bolsonaro não pagou um real para a Precisa Medicamentos, acusada de fechar um contrato fraudulento com o Ministério da Saúde na venda de 20 milhões de doses da vacina Covaxin, do laboratório indiano Bharat Biotech. O valor do contrato era de R$ 1,6 bilhão.
De acordo com Randolfe, a pasta da Saúde firmou contrato e pagou o valor de R$ 15 milhões com a Precisa para fornecer preservativos no dia 15 de novembro de 2020. No dia 25 de fevereiro desde ano foi fechado o contrato para venda da vacina Covaxin, que só não teve o valor antecipado de US$ 45 milhões pagos por causa das denúncias de irregularidades feitas na CPI.
Ambos contratos foram avalizados pela FIB Bank, que não é banco, mas forneceu carta de fiança para formalizar o acordo, mesmo sem possuir capacidade financeira. O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), está sendo investigado como o mentor de todas as negociações.
Num encontro no dia 20 de março deste ano, Bolsonaro disse aos irmãos Miranda (o deputado Luis Miranda e Luis Ricardo servidor da Saúde) que as negociações para a compra da vacina era “rolo” de Ricardo Barros. Na ocasião, os Mirandas levaram ao presidente as denúncias de irregularidades na compra das vacinas como o pagamento antecipado a uma empresa em paraíso fiscal. Bolsonaro ficou de levar o caso para o comando da Polícia Federal (PF), mas não encaminhou.
No depoimento desta quinta-feira (23) na CPI, o empresário Danilo Trento, apontado como sócio oculto da Precisa Medicamentos, afirmou não ter tido nenhum tipo de contato com o líder do governo na Câmara para tratar da inclusão da Índia entre os países cuja aprovação da autoridade sanitária valeria no Brasil, sendo Barros o autor do projeto de lei nesse sentido.
O relator, Renan Calheiros (MDB-AL), demonstrou surpresa com a informação. O depoente disse que era diretor de relações institucionais da empresa e não participou do acordo para a venda da vacina Covaxin.
“Que pessoas do governo federal, como diretor de relações institucionais não é possível que não saiba, procurou para que Jair Bolsonaro enviasse telegrama ao primeiro-ministro da Índia (Narenda Modi), indicando sua preferência no momento em que se recusava a comprar vacinas da Pfizer, do Butantan, da OMS (Organização Mundial de Saúde), indicando a preferência pela aquisição dessas 20 milhões de doses de vacina indiana da Covaxin?”, indagou o relator. “Senhor senador, da Precisa, ninguém”, respondeu o depoente.
Trento não respondeu se a Primarcial, empresa da qual ele é sócio, foi usada para adquirir imóveis ou outros bens para o grupo empresarial de Francisco Maximiano, dono da Precisa Medicamentos. O relator da CPI, no entanto, informou que a Primarcial recebeu recursos de firmas ligadas a Maximiano.
“A 6M transferiu R$ 15,6 milhões para a Primarcial e recebeu R$ 11,7 milhões. A análise revela que quando a conta da Primarcial ficava com saldo negativo, a 6M, de Francisco Maximiano, injetava dinheiro”, disse Renan.
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Em quase todas as indagações, Trento se mantém em silêncio para não se autoincriminar. Os senadores avaliam até mesmo a prisão do depoente, pois o habeas corpus concedido a ele pelo Supremo Tribunal Federal (STF) não lhe permite abusar do direito.
Para Randolfe, o silêncio dele pode comprometê-lo. “Danilo Trento é um caso curioso: É diretor Institucional da Precisa Medicamentos, mas não sabe de nada, não participa de nenhuma negociação ou reunião, disse.
O senador questionou, por exemplo, para quem foi o relógio rolex comprado em Curitiba. Diante do silêncio, o senador diz que com certeza foi para o pulso de quem articulou o contrato, “esse é um dos pulsos suspeitos que serão investigados pela CPI.”
Com anotações sobre transações suspeitas entre empresas do grupo, Randolfe revelou que a Primacial fez transferência para a Elite que, por conseguinte, transferiu recursos da ordem de R$ 9 milhões e R$ 1,9 milhão para quatro padarias. “Haja pão!”, ironizou.
Lavagem
O vice-presidente da CPI ainda levantou outro possível caso de lavagem de dinheiro. O grupo abriu no dia 15 de fevereiro, no estado de Wyoming, nos EUA, que é um paraíso fiscal, a empresa Barão Turismo. Segundo o senador, a Primarcial e as empresas de Marcos Tolentino, sócio oculto da FIB Bank, transferiram recursos para anova empresa.
“Tudo indica que a abertura da offshore era para os recursos das empresas do grupo, inclusive da empresa do senhor Danilo, serem transferidos por essa offshore nos EUA. A Barão Turismo é a lavadora de dinheiro, e o salto das transferências é no mês de fevereiro, mês da assinatura de contrato (vacina)”, esclareceu o senador.