A leitura e a escrita como processos de resistência, por Luciana Bessa

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Desde os primórdios, a construção histórico-social colocou os sexos masculino e feminino em posições desiguais. Ao homem coube o papel de força, de razão, de provedor do lar, sujeito dominante. À mulher, geradora de filhos e cuidadora do lar, sujeito dominado e inferior. Assim, o homem era o fim único da mulher.

Criou-se, então, a ideia de mulher mãe, mulher do lar, mulher como uma criatura frágil, mulher sonhadora e casadoira, mulher como um ser sagrado. A naturalização do papel secundário da mulher, o servilismo e o fato de não frequentarem os bancos escolares e acadêmicos, ocultou a participação e a importância do sexo feminino em todas as áreas do conhecimento.

Durante décadas foi negado ao feminino o capital necessário para que ela pudesse se desenvolver, já que o ideal de mulher estava pautado não só na submissão, mas na manifestação de condutas como a sensibilidade, a castidade, a honra e o decoro.

O sexo feminino possui um histórico de lutas, discriminação e negação à educação. Por meio da leitura e da escrita as mulheres adquirem senso ético, estético, sobretudo, crítico não só para construção de sua independência econômica (principalmente), mas também para construção de sua identidade e libertação das amarras sociais.

Saber ler e escrever são formas de conhecimento, de resistência ao ostracismo e ao silenciamento, instituem relações de hierarquia, pois divide os sujeitos em dois grupos: os alfabetizados e os não alfabetizados, letrados e não letrados. São, ainda, ferramentas de poder, de inclusão social, de tomada de consciência de si e do outro.

Quando a mulher teve acesso a pena e o papel, e pôde dominar o código linguístico, não só descobriu o prazer de ler e de escrever, mas o poder que a linguagem lhe conferia: podia narrar-se, libertar-se e construir sua própria identidade.

Luciana Bessa é coordenadora da Roda de Poesia no Gesso do Coletivo Camaradas e idealizadora do Blog Literário: Nordestinados a Ler

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