Polícia para quem precisa de polícia
É inegável a simpatia de setores da PM a política de tiro, porrada e bomba do bolsonarismo, o episódio de Recife não foi o primeiro, basta lembrar as cenas bárbaras da greve da polícia no Ceará em 2020, mas precisa ser exemplo de medidas efetivas para que se torne, talvez, o último.
Publicado 31/05/2021 10:22
Recife, 29 de maio. Ali ocorreu um dos movimentos que mais respeitou em sua organização o distanciamento, a distribuição de máscaras e o uso de álcool em gel durante todo o ato. Em meio a pandemia, manifestantes pleiteavam pela vacina urgente, renda básica justa e a saída do presidente Bolsonaro. Todas as medidas sanitárias foram acatadas, porém a festa democrática terminou com uma demonstração de abuso de autoridade chocante. A Polícia Militar nos fez lembrar dos anos de chumbo, da repressão rasteira e gratuita. Fez lembrar que a democracia está, sim, correndo perigo.
Movimentos estudantis, centrais sindicais e movimentos sociais estavam juntos, não de braços dados, mas unidos por um mesmo propósito. Tudo corria em sintonia com a convocação feita pela UNE que tomou todas as capitais do país e mais de uma centena de cidades de forma democrática.
Até que representantes dos movimentos foram covardemente atacados por tiros de borracha, precisaram ser socorridos da ação bárbara da PM que, com o estapafúrdio argumento de manter a ordem e evitar aglomeração, causou cegueira de transeuntes os quais sequer estavam no ato, bateu em manifestantes e agiu de forma truculenta. Uma vereadora foi ao chão após ter sido literalmente lançado no rosto dela um spray de pimenta em uma distância pequena e perigosa para saúde da pessoa.
A Polícia Militar demonstrou, na manhã de sábado, um comportamento que reprovável ainda não seria o adjetivo suficiente para descrevê-lo. Seria até eufemismo. O comportamento da polícia foi vil, covarde!
Todos os policiais envolvidos nessa ação devem ser responsabilizados imediatamente por essa arbitrariedade, há uma clara tentativa de insubordinação e balbúrdia provocadas por bolsonaristas no interior das PMs para desestabilizar governos estaduais. Paulo Câmara agiu corretamente ao afastar os envolvidos e abrir investigação.
O Brasil é signatário de várias legislações internacionais de proteção aos Direitos Humanos, as quais defendem a dignidade da pessoa humana. Não foi o que Recife mostrou. Trabalhadores e trabalhadoras, estudantes, movimentos sociais, nem nenhuma pessoa merecia este tratamento que fora dado por efetivos que deveriam proteger os manifestantes, como vem sendo feito exemplarmente pelas mesmas forças policiais nos atos em apoio à Bolsonaro recentemente realizados aqui mesmo, na capital pernambucana. É inegável a simpatia de setores da PM a política de tiro, porrada e bomba do bolsonarismo, o episódio de Recife não foi o primeiro, basta lembrar as cenas bárbaras da greve da polícia no Ceará em 2020, mas precisa ser exemplo de medidas efetivas para que se torne, talvez, o último. A polícia não pode ser seletiva, não deve adotar posição política que antipatize determinado setor da sociedade, não pode se engajar na onda conservadora e reacionário do país, precisa proteger a todos. É política, não milícia.
A polícia é um serviço público com a obrigação de proteger o povo e ser garantidora das liberdades individuais. Não pode ser usada como arma de guerra. A paz não se constrói com tiros. E a passeata do sábado foi ordeira, respeitosa e democrática.