Dossiê explora as várias faces da obra de Celso Furtado
Nova edição da “Revista do IEB” traz artigos sobre a vida, o pensamento e as ações do economista paraibano
Publicado 23/05/2021 18:48
“Nascido na Paraíba, em 1920, sua formação e maturidade praticamente atravessaram o século 20, conseguindo deixar um legado de independência crítica e de engajamento por uma sociedade mais justa que serve de inspiração para lidar com os anos sombrios que atualmente vivemos. (…) Furtado é um pensador da brasilidade, conceito difícil de definir, mas que acena para uma particularidade histórica e social que deve ser compreendida, ou ao menos questionada.” É o que escrevem os professores Fernando Paixão, Inês Cordeiro Gouveia e Luciana Suarez Galvão no editorial da nova edição da Revista do IEB – publicada pelo Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP -, que traz um dossiê sobre o economista Celso Furtado (1920-2004), reconhecido como um dos grandes intérpretes do Brasil.+ Mais
Com o título Celso Furtado, Transdisciplinar e Contemporâneo, o dossiê é organizado por Alexandre de Freitas Barbosa e Alexandre Macchione Saes – ambos da USP -, Vera Alves Cepêda, da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) e André Botelho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Tratar de Furtado e de sua obra é refletir sobre as mudanças profundas que se gestaram na sociedade, na cultura e nas instituições brasileiras desde 1920 até hoje, e que estão enraizadas nos propósitos, formas e resultados da reflexão do autor”, escrevem na abertura.
Os 12 artigos que compõem o dossiê estão agrupados em três grandes eixos. Como explicam os organizadores, o primeiro eixo examina as contribuições basilares de Celso Furtado, investigando sua formação como economista e sua interpretação sobre o Brasil e a encruzilhada do subdesenvolvimento; o segundo acompanha a trajetória de suas ideias, mobilizadas em diferentes contextos históricos, debatendo os limites do liberalismo e a centralidade do papel do Estado e do planejamento, num contexto de subdesenvolvimento e dependência; e o terceiro expande a leitura do economista Celso Furtado para seus diálogos transdisciplinares, uma interpretação incapaz de ser contida na rígida e hermética teoria econômica.
A revista traz ainda, na seção Documentação, o artigo Volta às Fontes Batismais: Celso Furtado e a Profecia da Sudene, escrito por Darlan Praxedes Barboza e Elisabete Marin Ribas, apresentando materiais inéditos do acervo pessoal de Celso Furtado referentes à Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), da qual ele foi o fundador, em 1959. “Além de mapear o debate em torno da Sudene e a sua condução pelo também ‘jovem’ Furtado, são apresentados no texto os principais adversários do projeto de transformação do Nordeste, que ia muito além da transformação econômica. Com base nessa documentação, pode-se refutar de uma vez por todas a afirmação leviana de alguns economistas, para quem Furtado não teria se dedicado ao tema da educação. Uma das prioridades da Sudene era justamente eliminar o analfabetismo e ampliar a oferta de pessoal técnico, como o demonstra o plano estrutural de educação, de 1962, elaborado em cooperação com os governosestaduais, a Usaid (Aliança para o Progresso) e o MEC”, revelam os organizadores.
Há também duas resenhas de livros de Furtado: uma sobre os Diários Intermitentes, publicado em 2019 pela Cia. das Letras, e Celso Furtado e os 60 anos de Formação Econômica do Brasil, lançado em 2020 pelas Publicações BBM e Edições Sesc.
“Percebemos que as releituras possíveis da obra e da trajetória de Furtado carregam as marcas da transdisciplinaridade e da contemporaneidade, presentes na formação de sucessivas gerações, e ainda fundamentais para a compreensão deste país tão distinto – e ao mesmo tempo tão semelhante – daquele que obcecou Furtado desde o início de sua carreira”, consideram os organizadores do dossiê.
A Revista do IEB, número 78, publicação do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP, está disponível gratuitamente no Portal de Revistas da USP.