Por que aceitamos o genocídio brasileiro a céu aberto?

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Foto: Alex Pazuello/Semcom

O Brasil ultrapassa a marca de 250 mil mortos por Covid-19 e após um ano do primeiro caso atinge seu momento mais letal da pandemia. Enquanto hospitais entram em colapso em vários Estados da federação, o Presidente da República segue com sua agenda negacionista, não atua de forma incisiva para a compra das vacinas necessárias para imunizar a população, desorganiza o Sistema Único de Saúde e sugere aos brasileiros para engolirem o choro.

As perguntas que precisam ser feitas são: por que aceitamos o genocídio do fascismo bolsonarista? Qual é o grau de letargia, apatia ou psicopatia social que possibilita uma agenda da morte avançar para cima da nossa sociedade de maneira tão cruel e com requintes de crueldade? Perdemos a capacidade de nos indignar?

Do ponto de vista político, Bolsonaro reorganizou as bases de sustentação do seu governo no Congresso Nacional com uma aproximação com o famigerado centrão, que tem se tornado uma entidade tão abstrata quanto o “mercado”. O sindicato de partidos fisiológicos se posicionou junto ao Capitão, porém, deu o seu recado, quer o poder sobre o orçamento da União. Dizem que o acordo para a eleição de Lira ao comando da Câmara dos Deputados contou com vultuosas promessas de “emendas extras” ao orçamento, ou seja, Bolsonaro abre espaço cada vez mais no cofre para deputados colocarem as suas mãos.

É natural do jogo democrático a divisão e compartilhamento de poderes, pode se querer dizer que o Presidente da República está sendo enfraquecido em suas prerrogativas pelo Poder Legislativo, mas quanto mais os atores políticos normalizam Bolsonaro, negociam com o seu governo, fazem concessões e alianças pragmáticas, mais esse se sentirá autorizado para avançar com seu discurso autoritário.

Bolsonaro testa sistematicamente as instituições, mesmo que muitas das vezes, em seus arroubos antidemocráticos ou de suas milícias de extrema-direita, as instituições os façam recuar, o que interessa para o fascismo é o avanço tático e o alastramento das suas ideias populistas pela estrutura política e social feito um vírus difícil de ser controlado.

O discurso e as ideias negacionistas de Bolsonaro estão matando mais de mil brasileiros por dia. Ao se omitir de tomar decisões em uma ação coordenada pelo Governo Federal de combate ao coronavirus, o atual Presidente desorganiza o Sistema Único de Saúde, uma política universal de saúde pública tripartite, com funcionamento compartilhado entre União, Estados e Municípios. O SUS é um exemplo mundial de controle de endemias e poderia, com investimentos públicos robustos e coordenação estratégica nacional, ter amenizado os graves efeitos da pandemia, inclusive com a produção nacional de vacinas.

Ainda não satisfeito com a sua omissão criminosa, o Presidente da República desacredita de organizações sanitárias mundiais e nacionais, ataca os protocolos elaborados pelos cientistas, médicos e sanitaristas no controle da pandemia, debocha do uso de máscara, duvida da eficácia das vacinas, além de atacar Governadores e Prefeitos, que tiveram por conta própria, de adotar meditas restritivas para minimizar os efeitos da pandemia nas perdas de vidas de seus cidadãos e nas suas economias.

Não se sabe de fato até aonde irá o relacionamento de Bolsonaro com o centrão. Como compreender que a classe política irá sustentar um governo genocida cada vez mais ocupado por militares? As Forças Armadas estão se associando com um fascista que despertou as viúvas da Ditadura Militar, saudosistas de um Brasil submisso e sem liberdades políticas, culturais e de imprensa. Não se sabe também até aonde chegará esse delírio.

São 250 mil vidas de brasileiros que se foram na pandemia com esse arranjo político-institucional que se formou após a eleição de Bolsonaro entre militares, fascistas de extrema-direita, liberais da Faria Lima, neopentecostais e a aristocracia rural. Se as instituições, que para alguns estão funcionando, permitem um genocídio desta natureza, tem algo de muito errado então com essas instituições ou com o seu funcionamento.

Enquanto isso as oposições, muitas e fragmentadas, se digladiam em debates sobre 2022 projetando a corrida eleitoral sem saber se até lá terá eleição. É preciso parar a ação criminosa e genocida de Bolsonaro desde já, não ficar apenas no discurso buscando se cacifar para disputa eleitoral. A luta de classes é diária e reflete a correlação de forças políticas na sociedade. Dessa compreensão urge a necessidade da criação de frentes amplas políticas e sociais no máximo de espaços institucionais e da sociedade civil organizada possíveis para se combater o fascismo bolsonarista.

Na perspectiva social, o povo está imerso em uma espiral de incertezas e medos, cercado por fake news que dificultam a compreensão real da gravidade da situação. Vivemos a maior crise sanitária do nosso tempo, talvez uma das maiores da história, aliada a crise profunda do sistema de produção capitalista. O povo está sofrendo com desempregos em massa, aumento agressivo do custo de vida, perda de valor da moeda nacional e do poder de compra, além do alto índice de endividamento das famílias.

Os serviços públicos e as políticas sociais que foram sendo desmontadas ao longo dos últimos 4 anos, primeiro na dobradinha Temer/PSDB e em seguida no ultraliberalismo Guedes, não conseguem atender uma demanda avassaladora de assistência social, sanitária e econômica. O auxílio emergencial se transformou em principal fonte de renda de grande parte da população neste momento de crise, a sua interrupção sem o reestabelecimento dos programas sociais e de transferência de renda, ocasionará um grave aumento da pobreza e da miséria. O cenário nos grandes centros urbanos do país já é desolador com o rápido crescimento da população em situação de rua e mendicância.

Bolsonaro sabe do impacto do auxílio emergencial principalmente na sua popularidade, mas está também comprometido com os interesses ultraliberais do seu Ministro da Economia, que o sustenta no metiê do mercado e defende um ajuste fiscal draconiano de preferência em cima dos direitos do povo. Por isso Bolsonaro chantageia conceder mais parcelas do auxílio em troca do golpe quase de morte nas políticas sociais com a desvinculação total de receitas da União, acabando com percentual mínimo de investimentos em saúde e educação garantidos pela Constituição de 1988.

As classes médias veem também empobrecendo e vendo suas economias pessoais minguarem além de estarem sofrendo também um forte impacto da pandemia. Bolsonaro tenta culpar os governadores e prefeitos, mas ele é o principal e único responsável pela desorganização econômica e social durante a pandemia. O fascismo precisa do caos e da desordem para oferecer a sua solução mágica e mitológica capaz de salvar os cidadãos de bem do inimigo imaginário comum da nação, geralmente o inimigo são os comunistas, já foram também os judeus entre outros.

Ao observar as experiências fascistas, a burguesia e as massas populares tiveram alguns motivos para apoiar Hitler e Mussolini. Ambas as nações, Alemanha e Itália, estavam acometidas por grave crise econômica após a 1ª Guerra Mundial. Os regimes fascistas ofereceram emprego em suas milícias que depois viraram seus exércitos, eram nacionalistas e protecionistas na economia o que por sua vez desenvolveu a industrialização e o avanço tecnológico consolidando as suas empresas nacionais agradando, portanto, as burguesias.

Bolsonaro promove um genocídio de seus compatriotas em outros moldes com uma grande contradição, o fascismo bolsonarista não oferece nada em troca, não é nacionalista e promove um desmonte da indústria nacional junto com o entreguismo da soberania ao capital internacional, não tem emprego e renda para oferecer ao povo e as grandes massas, as milícias bolsonaristas não passam de um bando de playboy de classe média, portanto o genocídio brasileiro não se justifica nem mesmo pelos interesses econômicos, por mais mesquinhos que esses sejam. A burguesia brasileira é suicida, a classe média masoquista e o povo perdeu a capacidade de se indignar.

Quando nos perguntamos “ como o povo alemão foi capaz de apoiar Hitler e os nazistas no genocídio judeu? ”. No futuro perguntarão “ Como os brasileiros foram capazes de apoiar o genocídio de seu povo promovido pelo fascismo bolsonarista? ”.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
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