Ao negar mais auxílio emergencial, Guedes “faz graça para o mercado”
Ministro também negou ter desistido de imposto “feio” sobre transações. Saiba o que defendem as centrais sindicais.
Publicado 16/10/2020 22:53 | Editado 17/10/2020 16:44
Enquanto as Centrais Sindicais pedem aumento do auxílio emergencial para R$ 600, pelo menos até dezembro, Paulo Guedes não apenas reduziu o valor para R$ 300, sem considerar a argumentação do movimento sindical, como antecipou, hoje, que não existe hipótese da renda emergencial continuar depois de dezembro, “para não explodir o teto de gastos”.
Reduzido recentemente para R$ 300 (R$ 600 para mães solteiras), o auxílio emergencial não será estendido em 2021, disse o ministro da Economia, Paulo Guedes. Ele reiterou que o teto de gastos será mantido após o fim do estado de calamidade aprovado neste ano por causa da pandemia de Covid-19.
“Não há qualquer plano para estender o auxílio, nenhum. Isso não é verdade. Essa não é nossa intenção, não é o que o presidente disse. Não é o que o ministro da Economia quer. De jeito nenhum”, afirmou Guedes em evento virtual promovido por uma corretora de investimentos.
O presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Adilson Araújo, diz que o movimento das centrais procurou mostrar a importância do auxílio emergencial para a economia do país, além de garantir renda para os mais vulneráveis num momento de profunda crise no país.
“O auxílio emergencial é importante diante da total falta de um projeto nacional de desenvolvimento para o país, subordinado que está o governo aos interesses do imperialismo norte-americano. Com isso, a missão do Paulo Guedes é fazer graça para o mercado financeiro”, afirmou.
Apesar de reafirmar o compromisso com o teto de gastos, o ministro repetiu declarações anteriores segundo as quais o orçamento de guerra poderia ser retomado caso o país seja novamente atingido por uma pandemia em outro ano. Guedes, no entanto, negou que isso signifique estender o estado de calamidade pública indefinidamente.
Entre as prerrogativas do orçamento de guerra, estão a suspensão das metas de resultado primário (déficit ou superávit), a compra de títulos públicos e privados por parte do Banco Central e a concessão de créditos extraordinários, que estão fora do teto de gastos, em grandes valores.
“Quando a pandemia nos atingiu, nós criamos um regime emergencial. Agora, nós não podemos utilizar a desculpa do regime emergencial para explodir o teto de gastos”, disse, fazendo parecer que foi o governo que estimulou a quebra do teto de gastos aprovada no Congresso Nacional por parlamentares de todas as correntes políticas.
Araújo, por sua vez, diz que não há qualquer previsão de retomada do crescimento econômico, daí a necessidade de recursos emergenciais. Para ele, a afirmação da equipe de governo de que “não há dinheiro” é uma falácia, pois o Congresso garantiu recursos para atender as necessidades básicas da população na pandemia, por meio do “orçamento de guerra”.
Ele diz que o auxílio emergencial pode ajudar o país a retomar a atividade econômica, estimulando, inclusive, a arrecadação. Segundo o sindicalista, as centrais defendem outras medidas para isso, como o estímulo ao crédito, inclusive para pequenas empresas, para gerar empregos, controlar a inflação, promover o consumo e a consequente arrecadação. “Esta atitude do Paulo Guedes mostra que o governo é genocida e negacionista, mergulhado na corrupção de uma tal forma que não tem nem mais onde esconder o dinheiro”, criticou.
Novo imposto
Em relação à implementação de um imposto sobre transações, semelhante à antiga Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), Guedes negou ter desistido da ideia. Segundo ele, a criação do tributo, que cobriria uma desoneração parcial da folha de pagamentos, é essencial para a criação de empregos formais. Ontem, o ministro afirmou à emissora CNN Brasil que talvez desistiria do novo tributo.
“Não me importo se o tributo é feio, desde que ele funcione criando novos empregos. É necessário. Mas então eu dei uma informação errada ontem, porque é esse o sentimento”, afirmou. “Eu não sou um homem de desistir facilmente das coisas”.
Adilson criticou que a única via de solução da “grave recessão econômica” seja a criação de um imposto, baseando toda sua estratégia na confiança das transações do capital privado. Para ele, a falta de planejamento e os recuos frequentes da equipe econômica diante da criação do programa Pró-Brasil, mostram que a criação de um novo imposto não é solução para os problemas do país.
O líder sindical acrescentou que empresas estatais como a Petrobras podem ser motores da geração de empregos e estímulo à indústria nacional por seu caráter estratégico. “No entanto, Guedes só fala em privatizar empresas estatais para agradar a especulação e o sistema financeiro”, explicou.
Recuperação
Sobre o desempenho da economia, o ministro repetiu que o Brasil segue uma recuperação em “V” (forte queda seguida de forte alta), depois da paralisação da economia durante boa parte do primeiro semestre provocada pela pandemia de Covid-19. Segundo ele, o período pós-pandemia exigirá compromisso com a responsabilidade fiscal.
“A doença está diminuindo e, à medida que diminui, o Brasil está em recuperação em ‘V’. Nós devemos ter responsabilidade quanto ao nosso orçamento e devemos mostrar que somos responsáveis, e fortes, e resilientes o suficiente para pagar pela nossa guerra, ao invés de rolar [renovar a dívida] para nossas crianças no futuro”, concluiu.