Com Temer e Bolsonaro, País deixa de bater metas de vacinação infantil
Os patamares de vacinação não bateram as metas em 2019 – o que deve se repetir em 2020
Publicado 16/10/2020 17:39 | Editado 16/10/2020 20:06
Quatro anos após o golpe de 2016 contra a presidenta Dilma Rousseff, os impactos da ascensão da direita ao poder já começam a atingir até crianças que nem sequer eram nascidas do período do impeachment. Segundo Francieli Fontana, coordenadora-geral do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde, as coberturas vacinais encolheram nos últimos anos e não vêm atingido nenhuma meta no calendário infantil.
Em entrevista nesta sexta-feira (16) para apresentar a Jornada Nacional de Imunizações, Francieli declarou que as últimas metas para o público infantil foram atingidas no País em 2018 – último ano do governo ilegítimo de Michel Temer (MDB). O Brasil, na ocasião, vacinou 99,72% do público-alvo para a BCG e 91,33% para o público da vacina contra o rotavírus humano. Para ambas, a meta é superar os 90%.
Com a chegada de Jair Bolsonaro à Presidência, a situação se agravou. Embora tenham continuado acima dos 80%, os patamares de vacinação não bateram as metas em 2019 – o que deve se repetir em 2020. Até o último dia 2 de outubro passado, a taxa de imunização do público-alvo da BCG era de 63,88%, e da vacina contra o rotavírus, de 68,46%.
A maior cobertura atingida no calendário infantil até outubro de 2020 foi na vacina Pneumocócica, com 71,98%. No ano passado, essa mesma vacina chegou a 88,59% do público-alvo. Entre as 15 vacinas do calendário infantil – o que inclui a segunda dose da Tríplice Viral –, metade não bate as metas desde 2015, o que inclui a vacina contra poliomielite.
Francieli Fontana admite que a pandemia da Covid-19 pode ter afetado as campanhas de vacinação infantil. “A gente ainda não tem uma avaliação real do impacto da pandemia nas coberturas vacinais – mas acredita-se que, sim, vamos ter prejuízos em relação à cobertura vacinal devido a esse momento”.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 125 campanhas de vacinação que estavam marcadas para o primeiro semestre de 2020 foram adiadas. O problema da interrupção dos serviços de vacinação levou a OMS e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) a alertarem que 117 milhões de crianças em 37 países poderiam deixar de receber a vacina contra o sarampo – o que provocou surtos no Brasil e em diversas partes do mundo nos últimos anos.
Antes das quedas nas coberturas, o Programa Nacional de Imunizações do Sistema Único de Saúde (SUS) era considerado um dos mais amplos e bem-sucedidos do mundo. O programa teve um aumento expressivo nas taxas de vacinação entre 1980 e 1995, ano a partir do qual as taxas ficaram estáveis em patamares elevados, e, em alguns casos, superiores a 100%.
Depois do golpe de 2016 e de medidas como o teto de gasto, o declínio na cobertura se evidenciou. Antes mesmo da pandemia, já pesavam fatores como horários de funcionamento das unidades de saúde, a circulação de informações falsas sobre a segurança das vacinas e até mesmo a impressão de que as doenças imunopreveníveis já deixaram de existir. Sem contar o descaso com o SUS, marca dos governos liberais.
Exemplo do fracasso é o avanço do sarampo, que chegou a ser considerado erradicado no Brasil, mas hoje apresenta transmissão ativa em quatro estados e casos em 21. “A partir do momento que passamos a ter uma cobertura vacinal baixa, pode haver uma reintrodução de doenças que já foram eliminadas”, admite Francieli.
A coordenadora do PNI também destaca a necessidade de engajamento e capacitação do profissionais de saúde, para transmitirem informações corretas à população. “A gente verifica muitas fake news, muitas notícias falsas. Muitas vezes, o profissional de saúde – em vez de buscar uma fonte segura e se empoderar em relação ao conhecimento – multiplica essa notícia”, diz Francieli. “É importante que a gente busque informação fidedigna, para que a gente possa ter segurança em orientar a população.”
Diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações, o infectologista Guido Levi cita estudos que atribuem às vacinas um aumento de cerca de 30 anos na expectativa de vida global ao longo do século 20. No Brasil, segundo ele, cumprir o calendário de vacinação é dever dos cidadãos previsto em lei desde a criação do Programa Nacional de Imunizações, na década de 1970.
Instrumentos legais como o Estatuto de Criança e do Adolescente (ECA) preveem a possibilidade de acionar o Conselho Tutelar em caso de recusa à vacinação por parte dos responsáveis por uma criança. Mas, na opinião de Levi, o diálogo com informações claras deve ser o principal instrumento de profissionais da saúde e da educação que se depararem com cadernetas de vacinação incompletas.
“O conselho tutelar é uma última instância. A primeira instância é informação, informação e informação”, afirma. “Quando uma criança vem à escola com a carteirinha incompleta, deve-se chamar os pais e responsáveis, conversar com eles. É muito importante a conversa olho no olho, porque sabemos que os profissionais de saúde têm um alto nível de confiabilidade no nosso país.”
Com informações da Agência Brasil