Ataque à estátua de Ariano Suassuna e a cruzada contra a cultura
Essa canalha sabe as razões por que derrubam e depredam valores universais esculpidos em pedra no Recife. Pois como vândalos são bárbaros, que odeiam a cultura.
Publicado 21/09/2020 14:01
A imprensa nesta segunda-feira (21) divulga a notícia, mas não se dá conta do mal que tem diante dos olhos.
“A estátua do escritor Ariano Suassuna, localizada na Rua da Aurora, área central do Recife, amanheceu depredada e caída após ato de vandalismo.
Em março deste ano, a estátua de Ariano Suassuna teve o nariz quebrado e a de João Cabral de Melo Neto teve o nariz e parte do queixo quebrados, além das placas de identificação pichadas”.
O que as notícias não dizem é que esse vandalismo é sintoma de uma cruzada contra a cultura, um assalto que vem do alto, ou melhor, que vem do mais baixo valor que está na presidência. O desgoverno do Brasil hoje atrai e espalha uma onda contra tudo que representa educação e artes. Nestes dias, não há um só ato bárbaro que não seja inspirado e estimulado pelo bolsonarismo.
Destruir um patrimônio cultural é natural em bárbaros no governo que prevê um corte de 78% na verba destinada à cultura, em nível de orçamento. Mas em nível ideológico a pregação contra valores humanos é feita por todos escalões do seu ministério. Eles aconselham e incendeiam matas e florestas de árvores e de gentes. Alguma dúvida? Alunos filmam professores nas salas de aula para denunciá-los, mulheres são espancadas nas ruas, negros sofrem racismo explícito, público, declarado, lideranças indígenas são mortas. E de tal modo estão à vontade, que não se envergonham de expressões fascistas de baixo calão:
“Atos antidemocráticos são meus ovos na goela de quem inventou isso!”
No conjunto dessa destruição, os vândalos desta segunda-feira podem não saber a dimensão do escritor Ariano Suassuna, que um dia falou em entrevista:
“Considero Canudos o mais importante episódio brasileiro. É quando Brasil urbano e privilegiado se lança contra o arraial popular. Agora, na literatura universal, Dom Quixote foi fundamental na minha vida e obra, porque Cervantes conseguiu expressar, como ninguém, os problemas do ser humano, a partir de circunstâncias locais”.
Esses bárbaros podem não alcançar O Cão sem plumas de João Cabral de Melo Neto, cuja estátua na Rua da Aurora também já foi mutilada:
“A cidade é passada pelo rio
como uma rua
é passada por um cachorro;
uma fruta
por uma espada.
O rio ora lembrava
a língua mansa de um cão,
ora o ventre triste de um cão,
ora o outro rio
de aquoso pano sujo
dos olhos de um cão.
Aquele rio
era como um cão sem plumas.
Nada sabia da chuva azul,
da fonte cor-de-rosa,
da água do copo de água,
da água de cântaro,
dos peixes de água,
da brisa na água….”
Mas essa canalha sabe as razões por que derrubam e depredam valores universais esculpidos em pedra no Recife. Pois como vândalos são bárbaros, que odeiam a cultura. E desse modo cometem atos contra a arte, a ciência e a civilização. Destroem símbolos porque desejam destruir o que representa a história. As trevas em primeiro lugar, o fascismo acima de tudo.
Hoje, vendo a foto de Ariano Suassuna assim caído, as mãos para trás do escritor me pareceram estar amarradas, algemadas. De fato, na imagem e em outros atos, os bárbaros tentam derrubar a cultura, na escultura, para assim melhor o bolsonarismo andar à solta.
Urariano. Você nos representou muito bem na sua matéria, em torno da estatua de Ariano Suassuna. Que lamentável! Ariano, entre muitos outros escritores brasileiros, trouxeram a alma do povo para o interior de suas obras, enquanto os lacaios bolsonaristas tentam destruir.
Uma “civilização” que vai gerando monstros e mais monstros é uma “civilização” não tão somente suicida, mais assassina, genocida, dominada por covardes.
Muito obrigado, maestro José Amaro Santos da Silva. Muito obrigado, Ramos Sobrinho. Estamos juntos.
Um grande nordestino… Uma inteligência inata, arguta e vivaz como alguns que são da Região Nordeste…
Infelizmente, veio nascer aqui no Brasil nessa terra de papagaios onde não há o menor respeito entre pessoas que se dizem “seres humanos”.
Data vênia, ao cavalheiro que fez o artigo… O nosso problema não é político mas, sim cultural.
Somos eternos habitantes desse lodaçal de miséria moral, mental e espiritual desde 1500.
Atenciosamente.
Jbp.