Bolsonaro interfere em estatísticas da covid-19 e gera dubiedade
Presidente decidiu atrasar divulgação para evitar telejornais do horário nobre e reduz dados consolidados. Imprensa e instituições começam a montar sistemas próprios de contagem para manter transparência e confiança do público.
Publicado 06/06/2020 00:00 | Editado 06/06/2020 01:54
O balanço divulgado nesta sexta-feira(5) pelo Ministério da Saúde mostra que nas últimas 24 horas foram registrados mais 1.005 óbitos por covid-19 no Brasil. Nesse período foram confirmados mais 30.830 casos da doença e 11.977 recuperados.
O total de casos confirmados de covid-19 no país nas últimas 24 horas era de 645.771; 34.021 mortes e 254.963 recuperados. Pelo menos cinco dados que eram informados, não serão mais: total de mortes em investigação, número de mortes ocorridas nos últimos três dias, números totais de mortes e casos, seja nacional ou por estados, total de pacientes recuperados ou em acompanhamento, sinal de tendência (para cima ou para baixo) de mortes e casos. O site do governo federal com os dados e toda a série histórica está fora do ar, pela primeira vez, após as repercussões críticas às mudanças.
O Ministério da Saúde não divulgou os dados totais da contaminação no novo coronavírus no Brasil. Sem ministro, o órgão atende a todas as solicitações do presidente Bolsonaro, que exigiu a divulgação dos dados somente depois dos telejornais e sem divulgar mortes que tenham ocorridas fora das 24 horas. Essas, se não entrarem no dia em que ocorreram podem ficar sem registro.
Com isso, empresas jornalísticas e instituições como a Câmara dos Deputados pretendem montar sistemas próprios de contabilização dos dados para manter a transparência e confiança do público. O “apagão de dados” está sendo atacado como censura por especialistas e gestores de todo o país, que ficam no escuro para elaborar políticas públicas adequadas ao combate da pandemia. Outra grave consequência é reduzir o engajamento da população no controle epidêmico, conforme não se saiba se a doença avança e em que ritmo.
Os estados que mais registraram casos confirmados do novo coronavírus nas últimas 24 horas foram São Paulo (5.365), Bahia (2.965), Pará (2.911), Maranhão (2.684) e Rio de Janeiro.
São Paulo também registrou o maior número de mortes nesse período, 282; seguido por Rio de Janeiro (146), Pará (122), Ceará (77) e Pernambuco (71).
Os estados com o menor registro de novos casos foram Mato Grosso do Sul (72), Rio Grande do Norte (158), Acre (263), Mato Grosso (287) e Tocantins (301).
Mato Grosso do Sul relatou uma morte nas últimas 24 horas.
Veja como ficou o Boletim epidemiológico covid-19, e como era antes das mudanças:
A picuinha contra o Jornal Nacional
O Ministério da Saúde introduziu hoje nova mudança no método de divulgação do balanço da pandemia no país: não só eles são apresentados mais tarde, para não haver cobertura nos telejornais, como deixaram de trazer a soma total de casos e mortes por estado e nacional.
O novo formato de divulgação dos dados parece atender a ordem do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). No início da noite, disse a jornalistas: “É para pegar o dado mais consolidado. E tem que divulgar os mortos no dia. Ontem, por exemplo, dois terços dos mortos eram de dias anteriores. Tem que divulgar o do dia.”
O presidente também defendeu que a pasta divulgue no final da noite os dados sobre a pandemia no país como forma de atacar a Rede Globo. “Acabou matéria no Jornal Nacional”, disse.
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