Wuhan: Duas singelas histórias de amor

O i21/Portal Vermelho terminou nesta quarta-feira (14) a publicação, em 10 partes, do Livro: “A Batalha da China contra o coronavírus – um relatório de atividades diárias de 23 de janeiro a 23 de fevereiro”.

É um material rico, com muitas informações sobre os investimentos, contatos internacionais e providências do Estado chinês e do Partido Comunista da China no combate à epidemia, cujo epicentro foi Wuhan, capital da província de Hubei, que concentrou 61% dos casos da China continental e 77% das mortes até o dia que marcou a suspensão do isolamento da cidade, em 8 de abril. Mas o texto não é um relatório frio de números e atos oficiais, pelo contrário.

Ao longo de suas páginas, exemplos de sacrifício, histórias de esperança e dramas humanos são narrados, em diversas perspectivas, como o caso do médico Peng Yinhua, voluntário para lutar “na linha de frente”, como os chineses gostam de dizer, no combate ao Covid-19. Ele morreu de coronavírus no dia 20/02, deixando na gaveta os convites não enviados para a festa de casamento que iria se realizar e foi adiada devido ao surto.

Ou como a enfermeira de UTI, Zhu Haixiu, 22 anos. Vinda de outra cidade, Guangzhou, ela também foi voluntária para enfrentar a epidemia em seu epicentro, tendo chegado a Wuhan no dia 24 de janeiro. Quando disse aos seus pais que iria para Wuhan, viu o pai chorar pela primeira vez. Entrevistada em pleno centro de tratamento por uma rede de tv, ela se recusou a mandar um oi para casa. Ela justificou que se mandasse um oi para os pais iria chorar e ela não queria chorar, pois ao chorar a condensação provocada pelas lágrimas embaçaria os óculos de proteção e dificultaria a continuidade do trabalho.

Mas minhas preferidas são estas duas pequenas histórias, que passo a narrar tendo como base o texto do livro.

Uma declaração silenciosa

No Hospital Wuchang, um dos hospitais designados para pacientes com COVID-19 em Wuhan, Wang Xiaoting é pediatra. Ela está “na linha de frente” da luta contra o coronavírus desde o dia 23 de janeiro, trabalhando no turno da noite.

Para proteger sua família da possibilidade de contaminação, Wang Xiaoting insistiu em cortar todo e qualquer contato direto com eles. Saiu de casa e mudou-se para um hotel próximo ao hospital, comunicando-se com a família apenas por telefone e outros meios eletrônicos.

No entanto, toda a vez que ela sai do hotel à meia-noite, para ir a pé ao trabalho, um carro a ilumina com os faróis e durante o trajeto a acompanha devagar até a entrada do hospital.

É o seu marido, Wang Yinghe, quem dirige, a protegendo com os meios à sua disposição e fazendo desta forma uma silenciosa e diária declaração de amor.

Uma líder de base

Foto de Li He – Agência de Notícias Xinhua

Lei Lihua é secretária do Comitê Comunitário do Partido Comunista da China de Shenyang, correspondente ao que seria, no Brasil, uma dirigente partidária de base.

Shenyang é uma comunidade do distrito de Jiang’an, em Wuhan. A localidade abriga três mil famílias em um conjunto de prédios construídos nas décadas de 1930-1940. Boa parte dos moradores são idosos.

Desde o dia 2 de fevereiro Whuan adotou a seguinte política de “admissão incondicional”: casos diagnosticados ou suspeitos são encaminhados a hospitais para tratamento ou isolamento.

Lei Lihua coordena uma equipe de voluntários que cobre todas as 17 saídas do conjunto habitacional. Os voluntários, a maior parte membros do partido, medem as temperaturas e distribuem diariamente suprimentos aos moradores.

Em uma semana de trabalho, Lei e sua equipe identificaram 67 desses pacientes e os transferiram para os hospitais designados para tratamento ou isolamento.

A líder de base coordena as famílias dos pacientes, a comunidade, a vizinhança e os hospitais, na esperança de ajudar os pacientes a serem internados o mais rápido possível.

Lei Lihua recebe muitas ligações todos os dias de idosos ou moradores preocupados com a epidemia. Ela responde às perguntas pacientemente, os acalma e impede que a ansiedade se espalhe. Seu telefone fica ligado 24 horas, 7 dias por semana.

Quando cai a noite ela está exausta e rouca, mas pensa nos trabalhadores da saúde “que estão na linha de frente” e sente-se privilegiada por não ter que se separar da família.

Afinal, não importa quão tarde Lei Lihua chega em casa, sempre encontra quartos limpos e refeições quentes. Ela conta que é seu marido que cozinha as refeições, “cuida da casa, do nosso filho e do meu sogro. Nestes tempos excepcionais, meu marido me garante.”

Exemplos como estes, singelos, mas cheios de calor humano, nos incentivam a seguir adiante, tarefa nem sempre fácil no Brasil de Bolsonaro e sua turma. Neste espírito de perseverar na esperança, finalizo citando um trecho do último capítulo do livro:

“No final, nos encontraremos novamente em uma multidão movimentada, dando um sorriso amigável no primeiro dia do resto de nossas vidas”.

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