O irresponsável Bolsonaro e a panaceia da cloroquina

O pronunciamento oficial do presidente da República, Jair Bolsonaro, na noite de quarta-feira (8) foi mais uma demonstração de descaso com a situação dramática do povo.

Repisando seus falsos conceitos, ele voltou a insistir no relaxamento da regra básica de contenção da transmissão do coronavírus, o isolamento social, destratou governadores novamente e reiterou a receita da cloroquina como panaceia contra a Covid-19.

A questão essencial para a sobrevivência da população, o emprego e a renda sem a exposição à pandemia, não compareceu. Para Bolsonaro, essa é uma obrigação individual e cada um que se vire para garantir a saúde e a vida. Na prática, isso quer dizer que cabe às camadas sociais mais vulneráveis economicamente garantir, além da sua sobrevivência, o funcionamento da economia.

O presidente sabe, pelo seu próprio ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e de praticamente todos os cientistas que analisam o problema que o isolamento social é imprescindível. Ao insistir nessa irresponsabilidade, ele revela, além da sua conhecida mediocridade, que aposta nos acenos aos mais vulneráveis para manter a sua base social de apoio.

Bolsonaro se dirigiu especialmente aos mais pobres dizendo que eles têm de ir à luta em busca do pão de cada dia. Ora, nesse momento essa obrigação é do Estado, do governo. É um crime o apelo do presidente aos extratados maios vulneráveis da população para que voltem ao trabalho justamente agora que se iniciam as notificações de mortes nas localidades mais empobrecidas.

Ao mesmo tempo, isenta o Estado de suas responsabilidades sociais, a essência do programa de governo que levou esse projeto de poder à vitória nas eleições de 2018. A irredutibilidade de Bolsonaro, mesmo diante da tragédia da Covid-19, se deve aos compromissos assumidos com os setores que se beneficiam com a crise econômica global, o rentismo financeiro, aliados à sua incapacidade de gerir o país.

Os ataques aos governadores, repetidos no pronunciamento do dia 8, são parte desse modelo dogmático de governar. Já está mais do que evidente a urgente necessidade de uma virada no rumo da condução econômica do país, deixando de lado o sectarismo ultraliberal e neocolonial para que o Estado assuma a condução das políticas públicas de socorro ao país e à população.

Os governadores, assim como largas expressões representativas da sociedade, cedo perceberam essa urgência e, diante da imobilidade do governo federal, começaram a implementar ações condizentes – embora, em muitos casos, insuficientes – com as recomendações das autoridades médicas e com as demandas dos que foram privados de emprego e renda.

O choque com a política de Bolsonaro foi inevitável. E o presidente, isolado por se imaginar o Joãozinho do passo certo, reage com grosserias e insistindo em suas falsas teses, atentando criminosamente contra a economia nacional e a vida das pessoas. Com essa atitude, ele perdeu a autoridade para responder pelo posto de presidente da República.

Se não bastasse tudo isso, Bolsonaro ainda voltou a receitar a cloroquina para quem se aventurar a seguir suas orientações e se contaminar com o coronavírus. Se o remédio tem alguma eficácia no tratamento da doença não cabe a Bolsonaro responder e, sim, os médicos e pesquisadores. Como informa o próprio Ministério da Saúde, o remédio ainda passa por testes e ainda não se sabe se efetivamente ajuda na cura.

É mais um caso que demonstra a total incapacidade de Bolsonaro de prosseguir como comandante de uma nação que precisa, urgentemente, de ações concretas para enfrentar a crise econômica e a Covid-19.    

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