Brasil e China devem ter respeito mútuo, afirma pesquisador chinês
A crise diplomática provocada pelo filho de Jair Bolsonaro tensiona as boas relações entre os dois países e afeta interesses mútuos.
Publicado 21/03/2020 14:00
A Embaixada da China no Brasil protestou contra a estigmatização da China pelo deputado federal brasileiro Eduardo Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, pedindo que ele retire os insultos e peça desculpas.
Eduardo Bolsonaro desencadeou uma crise diplomática na quarta-feira (18), culpando infundadamente a “ditadura” chinesa pela disseminação do coronavírus, seguindo o tweet do “vírus chinês” do presidente dos EUA, Donald Trump.
Yang Wanming, embaixador chinês no Brasil, respondeu com veemência no Twitter, exortando o parlamentar a retirar imediatamente o “insulto malicioso” e pedir desculpas ao povo chinês.
Em um tweet separado, a Embaixada da China no Brasil disse na quinta-feira (19): “As suas palavras são extremamente irresponsáveis e nos soam familiares. Não deixam de ser uma imitação dos seus queridos amigos. Ao voltar de Miami, contraiu infelizmente, vírus mental, que está infectando a amizade entre os nossos povos”, publicou a embaixada.
Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, publicou em sua rede social um pedido de desculpas endereçado à China na madrugada de quinta-feira (19).
“Em nome da Câmara dos Deputados, peço desculpas à China e ao embaixador Yang Wanming pelas palavras irrefletidas do Deputado Eduardo Bolsonaro”, dizia a publicação de Maia.
No entanto, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, emitiu nota criticando o embaixador chinês por endossar e compartilhar “postagem ofensiva ao Chefe de Estado do Brasil e a seus eleitores”. Ele afirmou que as palavras de Eduardo Bolsonaro “não refletem a posição do governo brasileiro.
De acordo com uma nota da embaixada em Brasília, a parte chinesa não aceitou a gestão feita pelo chanceler Ernesto Araújo à noite do dia 18. “O deputado Eduardo Bolsonaro tem que pedir descupla ao povo chinês pela sua provocação flagrante. O lado chinês defende sempre e de forma resoluta os seus princípios e jamais será ambíguo e tolerante com qualquer prática que afronta os seus interesses fundamentais.”
A embaixada chinesa disse esperar que alguns indivíduos do lado brasileiro, na sua minoria, abandonem as suas ilusões, e muito menos subestimem a nossa resolução e capacidade de salvaguardar os nossos próprios interesses.
Eduardo Bolsonaro emitiu, mais tarde, um pedido de desculpas nas redes sociais na quinta-feira (19), afirmando que seu comportamento “não tem o mínimo traço de xenofobia”.
“Jamais tive pretensão de falar pelo governo brasileiro, mas devido a toda essa repercussão, despido de qualquer vaidade ou ego, deixo aqui cristalina que minha intenção, mais uma vez, nunca foi a de ofender o povo chinês ou ferir o bom relacionamento existente entre os nossos países”, afirmou Eduardo.
Zhou Zhiwei, pesquisador sênior de estudos latino-americanos da Academia Chinesa de Ciências Sociais, afirmou que, embora muitas pessoas e políticos defendam laços mais estreitos com a China, o atual governo de extrema direita do Brasil tem uma forte preferência ideológica em sua diplomacia, o que levou ao seu entendimento estreito e politizado da pandemia e da China.
“O atual governo brasileiro é um seguidor ideológico do governo Trump, mas eles são oportunistas e um negociante duplo em termos de cooperação no campo da economia e comércio com a China”, disse Zhou.
A China quer um bom relacionamento com o Brasil, especialmente no comércio e na economia, mas manter um ambiente político de respeito mútuo é um pré-requisito, disse Zhou, acrescentando que os políticos anti-China precisam enfrentar a realidade de que os laços econômicos do Brasil com a China são ainda mais importantes do que aqueles com os EUA.
A autoridade econômica brasileira informou que as empresas chinesas expandiram seus investimentos no Brasil em agricultura, mineração, telecomunicações, serviços financeiros e eletricidade, além da economia digital.
O investimento direto das empresas chinesas no Brasil no ano passado foi próximo a US $ 100 bilhões, tornando a China a segunda maior fonte de investimento estrangeiro direto no Brasil.
Fonte: Diário do Povo