Especialistas repercutem PIB fraco: quebra de expectativas

PIB cresceu 1,1%. No final de 2018, projeções eram de que a economia cresceria entre 2,5% e 3% com a aprovação da reforma da Previdência.

Especialistas repercutiram o crescimento fraco de 1,1% do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas produzidas em um país) em 2019, divulgado nesta quarta-feira (4) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Eles destacaram a quebra das expectativas do setor privado e da imprensa, que apostavam em uma retomada extraordinária com o governo de Jair Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes.

“Esse resultado pode ser considerado ridículo se a gente imaginar toda a expectativa que estava sendo criada junto aos setores formadores de opinião, dos grandes meios de comunicação ao sistema financeiro. Deu-se exatamente o oposto. O Guedes conseguiu um desempenho do PIB, de 1,1%, menor do que o dos dois anos de governo Temer, que foi de 1,3% em 2017 e 2018”, afirmou Paulo Kliass, doutor em Economia e membro da carreira em gestão pública.

Kliass destaca ainda a atividade econômica em 2019 foi reforçada artificialmente, com políticas como o saque de parte do saldo do FGTS. Ou seja, sem essas medidas paliativas o crescimento seria ainda mais fraco, contrariando projeções de que a reforma da Previdência impulsionaria a economia. “Esse número representa o fracasso do governo Bolsonaro”, diz.

Queda do investimento

Professor do Instituto de Economia da Unicamp, Marco Rocha apontou a queda do investimento. “Os números do PIB confirmam as expectativas de mais um ano de quase estagnação da economia brasileira. O dado conjuntural mais importante talvez seja a queda dos investimentos, que revelam o baixíssimo grau de confiança na economia brasileira, a despeito do que vem sendo anunciado por maior parte do jornalismo econômico”, afirmou.

No 4° trimestre de 2019, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), considerada um termômetro do investimento, caiu 3,3% em relação ao trimestre anterior. No ano, o indicador cresceu 2,2%. O número foi comemorado pelo Ministério da Economia, mas é inferior ao crescimento de 3,9% registrado para 2018.

“Tudo indica que nos próximos meses veremos a já tradicional reavaliação para baixo do crescimento previsto para 2020, que, ao que tudo indica, será outro ano de crescimento econômico pífio. O que mais impressiona talvez seja a incapacidade do governo em reagir a esse quadro, demonstrando que a crise econômica é sobretudo funcional para a promoção de sua agenda de desmontes”, acrescenta Marco Rocha.

Incapacidade do Estado

Para Clemente Ganz Lúcio, sociólogo e ex-diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o governo promoveu um bloqueio dos instrumentos por meio dos quais o governo financia e organiza o investimento.

 “As estimativas que os agentes econômicos faziam no final de 2018 era de um crescimento de 2,5%, podendo chegar a 3%. Seria o crescimento econômico após o país aprovar a reforma da Previdência, que destravaria o investimento. Os resultados mostram que isso não ocorreu. Há uma queda de intensidade no investimento e as políticas do governo não animam a economia a sair da crise. Pelo contrário. Criam, por incapacidade do Estado, bloqueio nos instrumentos de financiamento do investimento e de capacidade de organizar o investimento”, disse.

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