Diretora de Indústria Americana: “Deveríamos compartilhar a riqueza”
Reichert foi membro do Novo Movimento Americano, um dos dois grupos que se fundiram para formar os Socialistas Democratas da América em 1983.
Publicado 16/02/2020 18:00 | Editado 16/02/2020 15:37
Um dia antes da citação a Marx no Oscar, conversamos um pouco com Julia Reichert, co-diretora de American Factory (lançado no Brasil com o nome de Indústria Americana, já disponível no Netflix). Ela falou sobre seu socialismo democrático e sua já longa trajetória na esquerda.
Na cerimônia em que seu filme recebeu o prêmio de melhor documentário, Julia Reichert mencionou a “desigualdade de renda”, no melhor discurso de aceitação do Oscar.
O primeiro filme lançado pela Higher Ground Productions, de Barack e Michelle Obama, Indústria Americana é sobre um capitalista chinês que reabre uma fábrica fechada em Ohio, e emprega milhares de trabalhadores dos EUA.
Durante uma coletiva de imprensa em uma barraca na praia de Santa Monica, perguntei a Reichert, que já havia sido indicada ao Oscar pelos documentários de 1976 (Union Maids – Sindicato das Empregadas) e de 1983 (Seeing Red , Enxergando Vermelho, em uma tradução livre): “Você acha que o socialismo é a resposta para a desigualdade de renda?”. Em resposta, Reichert perguntou quantas pessoas haviam visto Seeing Red, um filme sobre o Partido Comunista dos EUA, e riu, pois aparentemente eu era o único jornalista presente a ter visto o filme.
Reichert, que estava ao lado de seu co-diretor de Indústria Americana, Steven Bognar, continuou falando: “Eu retomo um longo caminho, em que estava antes de Bernie Sanders. Volto aos anos 60, já sou velha. Acho que o socialismo é a resposta para o nosso país? Todos nós deveríamos… compartilhar a riqueza. Deveríamos tributar mais as pessoas ricas. Os cuidados de saúde devem ser para todos. É mais parecido com o que eu chamaria de ‘socialismo democrático feminista’. E é isso que eu sempre fui. E ninguém mais me pergunta isso”, disse.
“Sabe, é engraçado, as coisas em que acreditávamos no final dos anos 60 e início dos anos 70, costumávamos falar sobre ‘feminismo socialista’ e ‘socialismo democrático’ e ‘poder do trabalhador’. E então, desde os anos Reagan, ninguém mais falou sobre isso. E agora estamos falando outra vez. Isso é bom”, continuou.
Reichert foi membro do Novo Movimento Americano, um dos dois grupos que se fundiram para formar os Socialistas Democratas da América em 1983.
Os indicados ao Oscar finalmente tiveram a chance de fazer um discurso ao receber o prêmio de melhor documentário ganho por Indústria Americana. E Reichert citou o “Manifesto do Partido Comunista”, de Karl Marx e Friedrich Engels, proclamando na televisão, ao vivo: “Os trabalhadores têm cada vez mais dificuldade hoje em dia e acreditamos que as coisas vão melhorar quando os trabalhadores do mundo se unirem!”
No documentário de Reichert, o protagonista Cao Dewang, bilionário chinês, adquire uma fábrica da General Motors em Ohio fechada em 2008 e a reabre como Fuyao Glass America.
Cao contrata dois mil empregados nos EUA, em meio a grande propaganda sobre o investimento. Mas, à medida em que a empresa se empenha em ter lucro, as condições de trabalho se deterioraram, com acelerações no ritmo da produção e salários baixos, levando a um grande esforço de sindicalização, que é combatido com sucesso pela empresa, que contratou consultores anti-sindicais.
O próximo filme de Reichert, também co-dirigido com Steven Bognar, será “9 a 5: A História de um Movimento”, contando a epopeia de um grupo de trabalhadoras de um escritório de Boston que se organizaram no início dos anos 1970.
Fonte: Jacobin
Tradução: José Carlos Ruy/Edição: Mariana Branco