Aos 73 anos, Vital Nolasco ainda é um militante indispensável
Em 16 de dezembro de 1946, nascia em Belo Horizonte (MG) Eustáquio Vital Nolasco. Sua trajetória teve passagens marcantes, como a participação, em 1968, na greve dos metalúrgicos de Contagem (MG) e os dois mandatos como vereador de São Paulo.
Publicado 17/12/2019 09:55 | Editado 17/12/2019 12:42
Na história do PCdoB, 16 de dezembro é uma data inevitavelmente associada a um dos maiores crimes perpetrados contra os comunistas do Brasil – a Chacina da Lapa, ocorrida em 1976. Mas é também o aniversário de um grande expoente da classe operária nas fileiras do Partido. Em 16 de dezembro de 1946, há 73 anos, nascia em Belo Horizonte (MG) Eustáquio Vital Nolasco.
A trajetória de Vital tem passagens marcantes, como sua participação, em 1968, na greve dos metalúrgicos de Contagem – a primeira paralisação trabalhista sob a ditadura militar (1964-1985). Vereador de São Paulo por dois mandatos, entre 1989 e 1996, foi um dos raríssimos operários que se elegeram, após a redemocratização, para a maior e mais importante Câmara Municipal do País.
Sua vida pública teve início na década de 1960, em Minas Gerais, sob a influência da Juventude Operária Católica (JOC) e na resistência à ditadura. Nos meios operários, uma das principais bandeiras unitárias era a luta contra o arrocho salarial. Em abril de 1968, quando uma greve operária na chamada “Cidade Industrial” de Minas surpreendeu os militares, Vital trabalhava na Belgo Mineira e já era um dos líderes do Sindicato dos Metalúrgicos de Belo Horizonte e Contagem.
A paralisação operária dobrou o governo e foi vitoriosa, mas acirrou os ânimos do regime. A repressão se acentuaria ao longo de 1968 e culminaria no AI-5. Mesmo com o deslocamento preventivo para São Paulo, Vital foi preso e barbaramente torturado. Não entregou um “ponto” sequer do Partido, tampouco delatou companheiros. Mas teve sua atividade cercada.
Da JOC, Vital passou para a Ação Popular (AP) e, em 1972, para o PCdoB. Continuou na resistência clandestina, ajudou o Movimento contra a Carestia e depois retomou a atividade fabril. No Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, entre os anos 70 e 80 do século passado, foi da oposição e da direção.
Em 1988, candidato a vereador em São Paulo pelo PCdoB, ficou na primeira suplência – mas assumiu de cara uma cadeira no Legislativo, graças à vitória de Luiza Erundina à prefeitura e a nomeação de diversos vereadores eleitos a secretarias municipais. Reeleito em 1992, tornou-se um dos mais firmes opositores à gestão Paulo Maluf.
Ao deixar o parlamento, ocupou tarefas partidárias, como o posto de secretário nacional de Finanças do PCdoB (2003-2013). Aposentou-se da fábrica, mas não da luta. Hoje, com mais de 50 anos de vida pública, é dirigente nacional do Partido e está à frente da Secretaria Sindical do PCdoB São Paulo.
Quando comecei a militar no PCdoB, em 1995, Vital integrava a bancada do PCdoB na Câmara, ao lado da camarada Anna Martins. Uma de suas medidas mais ousadas, como parlamentar, foi o “passe livre” para trabalhadores desempregados – ideia agora resgatada pela pré-candidatura de Orlando Silva à Prefeitura de São Paulo. Sem contar a memorável homenagem que realizou, em nome da Câmara, ao líder sul-africano Nelson Mandela.
A história de Vital foi contada em um livro narrado por ele próprio e organizado pelo jornalista Osvaldo Bertolino. É a biografia Vale a Pena Lutar – Minha Vida na Ação Popular (AP) e no Partido Comunista do Brasil (PCdoB), lançado em 2016 pela Editora Anita Garibaldi e pela Fundação Maurício Grabois.
Dois anos depois, eu próprio tive a satisfação de tomar o depoimento de Vital sobre sua atuação durante os “anos de chumbo”. É que, em 2018, fui convidado pela jornalista e pesquisadora Carolina Maria Ruy – minha querida amiga Carolzinha – a participar de um projeto do Centro de Memória Sindical sobre o cinquentenário dos levantes de 1968. Vital era um dos entrevistados e falou, sobretudo, a respeito da greve em Contagem. Quem conhece o tom ponderado de Vital nos dias de hoje talvez estranhe o entusiasmo quase ingênuo com que ele encarava aquelas ações contra a ditadura:
André: Qual era a expectativa com a greve?
Vital: Havia a idealização de que a gente ia botar a ditadura abaixo. Tanto que, quando estava no auge da greve, lembro que entrei todo feliz na sala da Conceição, que era a secretária-geral, e falei: “Ô, Conceição, dessa vez a gente vai botar a ditadura abaixo”. Porque era corrente, né? Nas organizações, na JOC, no movimento sindical, todos achávamos que deveríamos aproveitar toda aquela mobilização para botar abaixo a ditadura. Agora, claro que os operários, a grande massa, não tinham essa expectativa. Queriam mesmo era o aumento.André: Havia também temores?
Vital: Não, rapaz… Vou te dizer o seguinte: naquela época, era todo mundo “porra louca” (risos). A gente queria “botar pra quebrar”. Tanto que a aceitação dos 10% [de aumento] foi sob a condição de que a gente já começasse a preparar a greve de outubro.André: Qual foi seu sentimento em relação à greve?
Vital: Foi um sentimento de vitória, apesar de não termos conseguido os 25% de aumento, e nem termos derrubado a ditadura, porque aquilo era um sonho. Só pelo fato de a greve ter se expandido e ter confrontado a ditadura, foi um movimento e tanto, entendeu?
Vital foi e ainda é um militante indispensável. Minha geração só tem a agradecer por ter convivido e aprendido com esses excepcionais comunistas que ajudaram a forjar o PCdoB na cidade de São Paulo, como Jamil Murad, Benedito Cintra, Anna Martins e o próprio Vital Nolasco. Vida longa ao aniversariante e camarada Vital!
Veja abaixo a entrevista completa de Vital Nolasco ao CMS:
Grande Vital! Quanta luta, determinação e perseverança.