Preço do gás encanado dispara, e brasileiros já correm para o botijão 

Depois de mais de dez anos usando gás encanado para alimentar os fogões de seu restaurante em Campinas, o empresário Alexandre Rodrigues Gomes decidiu migrar de volta para o gás de botijão. Sua conta na Comgás girava em torno de R$ 20 mil a R$ 22 mil por mês. Com a instalação de grandes botijões de gás de cozinha, vai economizar entre R$ 7 mil e R$ 8 mil. “É uma diferença gritante”, comenta.

gás de cozinha - Arquivo/Agência Brasil

Clientes comerciais e residenciais já vêm sentindo na pele problema enfrentado também pela indústria: desde que o governo de Michel Temer (MDB) passou a se basear no aumento das cotações internacionais do petróleo e na desvalorização cambial, o preço do gás natural disparou no país. A política, desastrosa para a imensa maioria dos brasileiros, foi continuada pelo presidente Michel Temer (PSL).

O problema não está restrito a São Paulo: de acordo com dados do MME (Ministério de Minas e Energia), entre junho de 2018 e junho de 2019, o preço do gás entregue a distribuidoras subiu, em média no país, quase 30%.O preço do gás natural vendido pela Petrobras acompanha a variação das cotações internacionais de óleos combustíveis e a taxa de câmbio. É ajustado a cada três meses, de acordo com a evolução dos indicadores em trimestres anteriores.

A alta em 2019 tem forte impacto da escalada do dólar a partir do período eleitoral, quando a moeda norte-americana chegou a bater a casa dos R$ 4,10. Como a cotação atual continua em torno desse patamar, a expectativa do mercado é que o gás continue caro.

Em São Paulo, o baque foi maior em 2019, já que os contratos de concessão preveem reajustes anuais – há estados em que os repasses são trimestrais. Por ter prazo mais longo, o contrato paulista tem um gatilho que pode disparar reajustes extraordinários quando o preço do insumo subir muito durante o ano.

O gatilho foi disparado em fevereiro. Em maio, durante a revisão anual, a Arsesp (Agência Reguladora de Saneamento e Energia de São Paulo) autorizou novo aumento. Em um ano, a tarifa de gás para residências na área da Comgás com consumo entre 34 e 600 metros cúbicos subiu 43%. Para clientes comerciais com consumo entre 500 e 2.000 metros cúbicos, a alta foi de 29%.

Insatisfeitos, consumidores inundam a página do Facebook da companhia de reclamações. A empresa afirma que os ajustes têm por objetivo repassar aumento de custos e podem ser para baixo, como em 2016, quando o petróleo e o dólar caíram. Já a Arsesp alega que parte do aumento na conta de gás reflete também elevação no consumo durante o inverno, com uso maior de água quente no chuveiro. “As tarifas de gás natural da Comgás são atualizadas conforme contrato de concessão”, diz a agência.

A Petrobras não divulga os preços de venda por distribuidora. Em seus balanços trimestrais, porém, a empresa mostra que o valor de venda do gás natural no Brasil atingiu este ano o maior valor desde 2014, quando também houve pressão da disparada do dólar na eleição do ano anterior.

No segundo trimestre de 2019, a empresa vendia o combustível ao preço médio de US$ 47,97 por barril, alta de 19,8% em um ano e de 60% com relação ao segundo trimestre de 2016, quando o preço atingiu seu menor patamar desde o pico de 2014. A empresa diz que a fórmula de reajuste de preços é “prática internacional consagrada” e que aumentos na tarifa de distribuidoras podem refletir também outros custos além do gás.