De Olho no Mundo por Ana Prestes

Um resumo diário das principais notícias internacionais

Gangorra

O presidente Trump falou sobre o Brasil nos jardins da Casa Branca no dia de ontem (30). Questionado pela repórter da GloboNews, Raquel Krahenbuhl, sobre a indicação de Eduardo Bolsonaro para a embaixada brasileira em Washington, o presidente americano disse: “acho que é uma grande indicação, não sabia disso”, e continuou: “considero o filho dele extraordinário… conheço o filho dele provavelmente é por isso que o indicaram. Estou muito feliz”, sem se preocupar com o nepotismo da indicação. Trump se referiu ainda à negociação de um acordo de livre comercio com o Brasil, segundo ele, “o Brasil é um grande parceiro comercial, eles nos cobram muitas tarifas, mas nós amamos essa relação”. O Secretário de Comércio dos EUA, Wilbur Rossa, está no Brasil e deve se encontrar com o Ministro da Economia, Paulo Guedes no dia de hoje (31).

Uma velada crise diplomática entre Brasil e Paraguai provocou a renúncia do chanceler Luis Castiglioni e do embaixador do Paraguai no Brasil, Hugo Caballero. Trata-se da negociação de uma ata de um acordo bilateral referente ao cronograma de compra de energia elétrica de Itaipu, pertencente aos dois países. Também renunciaram o presidente da ANDE (Administração Nacional de Eletricidade), Alcides Jiménez, e do diretor paraguaio de Itaipu, Alberto Alderete. As renúncias foram fruto de pressões, dada à contrariedade popular, parlamentar e midiática com o acordo negociado. Segundo a imprensa, o acordo poderia causar um prejuízo de 300 milhões de dólares ao Paraguai. O Congresso paraguaio anulou o acordo na última segunda, 29. A controvérsia com o Brasil se dá principalmente sobre o excedente de energia gerada, mais barata, portanto, e da qual o Paraguai se beneficiaria. A situação deixa o governo Bolsonaro em uma saia justa, justamente por seu declarado apoio a Marito Abdo, presidente do Paraguai há um ano. De sua parte, Marito sofre pressões para entregar a direção da parte paraguaia de Itaipu a opositores de seu governo, do partido Liberal.

Finalmente, as duas embarcações iranianas, Termeh e Bavand, deixaram o porto de Paranaguá, no Paraná. Os navios, que vieram abastecidos de ureia comprada pelo Brasil, levam consigo 100 mil toneladas de milho para o Irã. No total foram mais de 50 dias parados no porto brasileiro depois que a Petrobrás se recusou a vender combustível para o abastecimento, alegando que os navios estavam na lista de empresas sancionadas pelos EUA. A Petrobrás temia ser penalizada pelos EUA, demonstrando a situação de subserviência atual do Brasil aos EUA, a ponto de prejudicar seu comércio exterior e relação bilaterais com vários países. O Irã é um dos maiores compradores do milho brasileiro. Foi preciso que o presidente do STF, Dias Toffoli, determinasse que a Petrobras fornecesse o combustível. Uma das embarcações ainda apresentou problemas técnicos por falta de abastecimento por um período prolongado.

O Senado americano não conseguiu derrubar os vetos de Trump a leis que proibiam a venda de certos tipos de armas para a Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e outros países. O governo americano, portanto, continuará vendendo equipamentos militares à Arábia Saudita enquanto prossegue o massacre da mesma sobre o Iêmen e o aumento da tensão com o Irã no Oriente Médio.

O governo francês vai revisar o acordo Mercosul – União Europeia. O gabinete do primeiro ministro Edouard Philippe anunciou a criação de uma comissão de dez especialistas para avaliar o projeto de acordo. A equipe será curiosamente liderada por um economista ligado à pasta do Meio Ambiente, Stefan Ambec, do Instituto Nacional de Pesquisa Agronômica. Segundo o gabinete do primeiro ministro, a comissão “se dedicará particularmente à avaliação do acordo em termos de emissão de gás de efeito estufa, desmatamento e biodiversidade”. Desde junho centenas de ONGs e coletivos franceses têm pedido à União Europeia que interrompa imediatamente as negociações sobre o acordo em razão da situação dos direitos humanos e do meio ambiente no Brasil de Bolsonaro, a pressão deve aumentar com o assassinato do cacique Emyra Wajâpi no Amapá, assim como com os ataques de Bolsonaro ao INPE em relação aos dados do desmatamento na Amazônia e a flexibilização da legislação que pune ruralistas pela prática de trabalho escravo.

Uma imagem tem comovido o mundo nos últimos dias. Trata-se de gangorras para crianças instaladas nas frestas do muro que separa os Estados Unidos do México. Criadas por um professor de arquitetura da Univesidade de Berkeley, Ronald Rael, as gangorras estão na altura da região de Cidade de Juárez no México. A fronteira entre EUA e México possui mais de 3 mil quilômetros do Pacífico ao Atlântico e pode ser cruzada legalmente em 42 postos fronteiriços. A cada dia cruzam a fronteira para trabalhar, estudar ou fazer visitas um milhão de pessoas nas duas direções.

O governo de Jovenel Moise, do Haiti, que conta com o respaldo da administração americana está cada vez mais sob pressão. O presidente da Câmara dos Deputados do país, Gary Bodeau, revelou a preparação de uma sessão de acusação contra Moise a partir de um requerimento de cerca de 20 parlamentares com denúncias de malversação de fundos públicos. As denúncias estão embasadas em um informe do Tribunal de Contas que implcia vários ex-funcionários do governo e diretores de empresa em contratos de projetos incompletos ou que nunca chegaram a ser executados com recursos do fundo PetroCaribe. A reunião deve-se dar antes do parlamento ratificar o novo gabinete do governo apresentado por Moise. A oposição insiste na renúncia do presidente, instalação de um governo de transição e a realização de uma Conferência Nacional. O Haiti está em crise desde as manifestações iniciadas em julho de 2018.

Após multitudinárias e históricas manifestações de rua por duas semanas seguidas diante da revelação de comunicações de membros do governo e a renúncia do administrador colonial de Porto Rico, Ricardo Rosselló, os porto-riquenhos devem ter nova administração anunciada até a próxima sexta. Segundo a constituição, deveria assumir o governo o secretário de Estado, mas este também renunciou junto ao governador. A autoridade seguinte a assumir pela lei seria o titular da Secretaria de Justiça, no caso Wanda Vázquez. Advogada, Wanda, anunciou no último domingo que não deseja ser a governadora interina de Porto Rico. A secretária também enfrenta processos na justiça por exercício irregular do cargo e outras denúncias. Para além da luta anticolonial que o povo de Porto Rico enfrenta há anos, há também uma dramática situação econômica local em que 40% da população está na pobreza e ainda sofre as consequências dos furacões do ano de 2017 que deixaram mais de 3 mil mortos e danos milionários à sua infraestrutura. São aventados os nomes do presidente do Senado, Thomas Rivera Schatz, e da representante de Porto Rico no Congresso dos EUA, Jenniffer Gonzáles, para assumir a administração colonial. Vejamos como reagirá a população.

De Brasília
Ana Prestes