Josué de Castro rebateria Bolsonaro: A fome é projeto político 

Josué Apolônio de Castro foi um intelectual que se destacou por combater, ao longo de sua vida, o que considerava a causa principal do atraso econômico e social do Brasil: a fome. Nascido em Pernambuco, filho de retirantes, poderia muito bem se encaixar no rótulo preconceituoso de "paraíba". Mas Josué de Castro, orgulhoso de sua origem nordestina, revolucionou, há mais de 70 anos, a compreensão dos impactos sociais do subdesenvolvimento e da fome.

Fome

Seu livro Geografia da Fome, de 1946, se tornaria uma referência fundamental para a análise dos impactos sociais do subdesenvolvimento. Para o autor, a fome é fruto da ação humana, de suas escolhas e da condução econômica do país. “Fome e subdesenvolvimento são uma mesma coisa”, afirmou. E o subdesenvolvimento, concluiu, é produto da apropriação injusta da abundância de recursos da natureza.

Josué foi contra a corrente do pensamento da época, que atribuía a miséria às condições naturais, climáticas e étnicas. Ele foi pioneiro ao defender a instituição do salário mínimo como garantia de segurança alimentar das famílias. Formulou ainda, para o governo, uma política de merenda escolar com o objetivo de reduzir a subnutrição infantil, além de ser um veemente defensor da reforma agrária, convencido de que a agricultura familiar fixaria o homem ao campo e garantiria a produção de alimentos necessária para a superação da miséria.

Em suas obras Geografia de Fome (1946) e Geopolítica da Fome (1951), Josué dá ao flagelo o estatuto político e científico de produto de estruturas econômicas e sociais desumanas, fabricado por homens contra homens. O pensador não apenas afirmou que havia solução para o problema da fome, mas também apontou caminhos – como, por exemplo, a implantação de políticas de segurança alimentar e a cooperação global. Seus estudos foram fundamentais para o sucesso de programas integrados de combate à fome adotados pelo Brasil nos governos Lula e Dilma e que se tornariam referência mundial.

Josué se elegeu duas vezes deputado federal pelo PTB de Pernambuco. Nesse período, assumiu também o cargo de presidente do Conselho Executivo da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Em 1963, foi indicado embaixador do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU).

Com o golpe de 1964, seu nome figurou na primeira lista de cassados. Exilado em Paris, lecionou na Universidade de Sorbonne. Foi indicado três vezes ao Prêmio Nobel: Medicina, em 1954, e Paz, em 1963 e 1970. Morreu em 1973, no exílio, sem readquirir seus direitos políticos de cidadão brasileiro.

Fonte: Fundação Perseu Abramo