A Síria em guerra

Comentadores de política internacional que não estão a serviço dos meios de intoxicação mental imperialista, nem são “habitués” de embaixadas estadunidenses, consideram a invasão da Síria a operação de guerra secreta mais importante desde a que os chamados “Contras”, bandos de mercenários estipendiados por R. Reagan, empreenderam nos anos 1980 para desestabilizar o governo revolucionário da Nicarágua.

Em meados do ano passado, o Exército Sírio Livre, sigla que abriga terroristas profissionais financiados pelos sheiks da Arábia Saudita e dos Emirados petroleiros, apoiados pela Turquia e pela Otan, passaram a operações mais pesadas. Em 16 de novembro, atacaram com lançadores de granadas, morteiros e metralhadoras uma base na Força Aérea Síria situada em Harasta, subúrbio de Damasco. A BBC, reproduzindo a emissora Al Jazeera, propriedade do Emir semifeudal de Qatar, comemorou o feito dos “Contra” árabes, informando também que eles tinham atingido outros alvos em Duma, Saqbar, Qaboun e Araben, na região de Damasco, congratulou-se com “o avanço estratégico dos opositores”. O que obviamente não impediu o bloco dos feudais e imperialistas de acionar seus sócios e vassalos na ONU para legitimar “bombardeios humanitários” visando a derrubar o “ditador Assad”. De um lado, armavam e financiavam a sedição, de outro ameaçavam intervir para proteger as vítimas do incêndio bélico que eles mesmos estavam ateando.

Essa sórdida comédia prosseguiu nos meses seguintes. Abanando a cauda ao som da voz do dono, os canis mediáticos da Al Jazeera e das emissoras das metrópoles imperialistas, CNN, BBC, Fox News etc., coadjuvadas por seus papagaios periféricos, cumpriram plena e ostensivamente os objetivos da propaganda bélica. Choramingando pelas vítimas, atribuíam ao Exército sírio, no mais das vezes mentirosamente, a responsabilidade pelos atrozes massacres de civis, mas contradizendo-se descaradamente, alardeavam os feitos guerreiros dos Contras, de modo a sinalizar as perspectivas de êxito da invasão, que prosseguia, tanto pelo norte, através da fronteira com a Turquia (que está comprando com sangue sírio sua entrada na famigerada União Europeia), quanto pelo sul, pela fronteira com a Jordânia (cujo reizinho é um fantoche dos gringos).

A agressão neocolonial se intensificou em meados de julho, quando a Otan lançou a operação «Vulcão de Damasco e terremoto da Síria». Nos dias precedentes, uma nova vaga de invasores, composta de algumas dezenas de milhares de mercenários e de fanáticos sunitas ligados à tenebrosa al-Qaeda (atualmente agindo de mãos dadas com a CIA, como já o fizera três décadas atrás na guerra santa contra os soviéticos no Afeganistão), entraram na Síria via Jordânia, após liquidaram grupos isolados de policiais e de militares e se apoderarem de vários postos de fronteira. O objetivo era tomar Damasco de assalto. Na manhã do dia 18, eles desfecharam seu até agora mais bem sucedido ataque terrorista, destruindo a sede de Conselho de Segurança Nacional. Conseguiram matar no ato três generais: Daud Rajha, ministro da Defesa, Assef Chawkat, ministro adjunto, e Hassan Turkmani, secretário da presidência da República.

Simultaneamente, outra aguerrida coluna de invasores atravessou a fronteira turca e rumou para Alepo, onde também se trava uma batalha em que se disputam ruas, prédios, bairros. Levando o incêndio às duas principais cidades do país, e tendo conseguido golpear no crâneo o Estado sírio, os sórdidos tartufos da Casa Branca, os colonialistas empedernidos da Otan, seu satélite turco, a família real saudita e o Emir de Qatar, nutriram fortes expectativas de que tinham triunfado. Por aqui, um desses sub pensadores bem bobinhos da papagaiagem mediática local bradou “Assad game-over” no título de um de seus artiguetes (Folha SP, 19 de julho). Não, o “game” feudal-imperialista ainda não está “over”. Os invasores não conseguiram tomar Damasco e a batalha em Alepo segue furiosamente indecisa.

Enquanto a Síria se esvai em sangue, o imperialismo britânico, embora decrépito, continua insolente e arrogante. Com safadeza ímpar, o governo do camarão resolveu aproveitar os Jogos Olímpicos para comemorar suas agressões coloniais e a de seus predecessores. Um bando de pobres palhaços, envergando túnicas brancas, foi incumbido de entregar a bandeira olímpica a um pelotão de veteranos das tropas de choque de Sua Majestade, que participaram, nas últimas duas décadas, de todas as covardes expedições punitivas da Otan contra o Iraque, o Afeganistão, a Sérvia, a Líbia e a Síria. Com tristeza, mas sem muita surpresa, já que desde 2010 sabíamos que na onda verde de Marina Silva surfam muitos ricaços brincando de alternativos, vimos a ex-candidata ecológica, toda lampeira em Londres, segurando uma das pontas daquela bandeira profanada.

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