Os abutres da Otan alçam voo novamente
Numa de suas primeiras declarações, ao ser eleito presidente da França, François Hollande preconizou uma intervenção da Otan na Síria. Seu predecessor,o gnomo maligno Sarkozy, tinha destruído a Líbia.
Publicado 02/07/2012 18:10
Outros chefes de Estado e de governo franceses tinham se associado, em anos anteriores, às demais empreitadas do cartel bélico imperialista, o qual antes de se voltar contra os regimes árabes antiimperialistas e antissionistas, destruiu em 1999 a Iugoslávia, último bastião socialista do Leste europeu, numa guerra que FidelCastro, com razão, classificou na época como "a mais covarde de todos os tempos". Particularmente odioso foi o papel desempenhado pelo social-imperialista Lionel Jospin, então chefe do governo francês, em “coabitação” com o presidente de direita Jacques Chirac. Ousou até justificar o bombardeio da Sérvia com o argumento infame de que se tratava de uma “guerra pela civilização”. Mas como bom social democrata, quis sujar-se só pela metade. Apoiou a fundo a destruição da Sérvia e a entrega do Kosovo à máfia albanesa, porém condenou os bombardeios crônicos do Iraque (jáinvadido uma primeira vez por Bush pai em 1991) pela dupla Clinton e Blair, mais radicais na patifaria. Hollande tem pois atrás de si umaarraigada tradição de hipocrisia colonialista.
Ao longo das muitas agressões neocoloniais que levou adiante nas duas últimas décadas, o cartel bélico da Otan seguiu o mesmo método: campanha internacional de intoxicação mediática contra o governo indesejável; apoio a movimentos “rebeldes” dispostos a minar a resistência nacional; ofensiva balística visando a danificarpesadamente e no limite a destruir a infraestrutura econômica do país atacado;invasão e ocupação do território, com instalação de um governo fantoche. Obviamenteo desenrolar deste roteiro variou em cada situação concreta, mas em grandeslinhas seguiuas mesmas etapas. A atual intervenção na Síria está ainda na primeira etapa: cerco diplomático (ao qual o governo brasileiro aderiu, em franco retrocesso relativamente à política externa independente que Lula tinha levado adiante);financiamento de movimentos armados e demais colaboradores locais, manipulaçãodas notícias num bombardeio ideológico que fantasia de defesa dos direitos humanos e da democracia as mais sórdidas operações terroristas contra umgoverno que Israel e os feudais árabes querem aniquilar.
A grande diferença em relação às invasões precedentes está no veto da Rússia e da China ao prosseguimento das guerras neocoloniais da Otan. A diplomacia russa admitiu ter errado ao não vetar os “bombardeios humanitários” sobre a Líbia e prometeu não fazer mais média com a harpia Clinton e seus abutres. Até agora está cumprindo a palavra e enfrentando as mentiras difundidas pela mediática a serviço dos governos do Eixo Washington-Londres-Paris, e pela TV Al-Jazeera que pertence aos sheiks petroleiros de Qatar. Esse Eixo admite abertamente estar financiando o chamado Exército Livre da Síria, cartel terrorista formado em moldes semelhantes aos da tropamista de mercenários e de fundamentalistas islâmicos que destruiu o Estado líbio e entre outros assassinatos, infligiu a Khadafi morte atrozmente ignominiosa. Entretanto, com seu insolente descaramento, atribui a autoria de todas as violências mortíferas ao governo de Bachar Assad. Assim em relação ao odioso massacre de Al Hula em 25 de maio passado. Clinton, Cameron e demais parceiros e satélites da Otan, inclusive os social-imperialistas franceses, atribuíram imediatamente a reponsabilidade da hecatombe às armas pesadas do Exército sírio.
Sergei Lavrov, ministro doExterior da Rússia, desmentiu essasacusações. "Os corpos mostram claramente que as vítimas foram torturadas até a morte em uma região em que os grupos armados pareciam estar no controle e cercados por forças governamentais". Sem excluir aresponsabilidade do governo sírio, pois houve, segundo o relato da missão da ONU, tiros de artilharia para tentar desalojar os rebeldes financiados e armados pelos EUA, ele frisou que "a oposição também é responsável peloque está acontecendo na Síria e pelas vidas dos civis". Na mesma linha o vice-chanceler russo, Gennady Gatilov, declarou que "há informações provando que as vítimas não foram atingidas por fogo de artilharia".
O representante da Rússia na ONU, Igor Pankin , observou que "o número de vítimas é muito alto para o grau de destruição que se viu na área. O que se soma à suposição de que as mortes foram resultado de ação a curta distância". Ibrahim Alloush, em entrevista à TV Rússia Today, destacou que"não faz o menor sentido que o exército sírio cometesse massacres como este, depois se retirasse e deixasse os rebeldes a sós para filmar e tirar fotos para seus documentários". Segundo Alhoush, houve um amplo ataque sobre Hula em um contexto de um ataque na região: "Também atacaram e incendiaram o Hospital Nacional e depois entraram em casas e começaram a matança indiscriminada". Além disso, conclui o analista: "estes crimes foram cometidos em um ponto em que uma solução política está em andamento, ao passo que os grupos armados de oposição, querem ver uma intervenção armada; seu projeto só pode avançar mediante uma intervenção estrangeira e esta só pode vir a acontecer sob pretexto de massacres".
A jornalista italiana Marinella Correggia também salientou que as mortes ocorreram a curta distância, com armas leves e facas. "As crianças não parecem ser vítimas de bombardeio ou artilharia, mas de assassinato a curta distância. Portanto não é possível acreditar na conexão entre ataque de artilharia e a forma com que as crianças [mais de trinta] foram mortas".
A jornalista aponta que os vídeos distribuídos pela oposição também trazem informações erradas. "Um dos vídeos diz ‘bandos de Assad mataram crianças em Hula’, mas de fato as imagens mostradas são de crianças que a agência de notícias do governo, SANA, já havia exposto anteriormente acusando os grupos armados de matança em outrasaldeias". Correggia também pensa ser "quase impossível de que o governo cometesse um tal massacre". "Devemos perguntar: quem tira proveito? Uma chacina em cima de um encontro do Conselho de Segurança, como o ocorrido em Homs; ou, como agora, logo antesde uma visita de Kofi Annan […]". Ela citou o documento Vox Clamantis, expedido pelo centro de informações da Igreja Católica da Síria, que relata vários casos de massacres pelos grupos armados neste período. "A sensação da maioria do povo sírio é de profunda ansiedade. Vemos que os atos de violência cega estão por toda parte e não há onde nos refugiarmos. O perigo atinge a todos no atual caos, mas especialmente os cristãos, os druzos, os alauitas e outras minorias religiosas. Caos é a estratégia da oposição extremista que está fora de controle e super-armada. O caos enfraquece o Estado e cria uma situação de pânico e desespero. As mutilações, bombardeios e ameaças têm um objetivo psicológico: fazer a população ficar de joelhos. Há ainda um terceiro elemento:os criminosos que transitam livremente, tirando vantagem da situação. Escondem-se por trás da oposição", diz o informe da Igreja.