Sapatos da submissão, sapatada da dignidade

Às vésperas de recente visita ao Brasil, Shimon Peres, presidente de Israel, declarou em entrevista para o Estado de São Paulo (7 nov.2009) que “o Irã é um problema do mundo, não apenas de Israel”. A frase é duplamente falaciosa. Quem deu ao senhor Peres autoridade para falar em nome do mundo?

Às vésperas de recente visita ao Brasil, Shimon Peres, presidente de Israel, declarou em entrevista para o Estado de São Paulo (7 nov.2009) que “o Irã é um problema do mundo, não apenas de Israel”. A frase é duplamente falaciosa. Quem deu ao senhor Peres autoridade para falar em nome do mundo? Certamente não a ONU, cujas decisões são sistematicamente violadas pelos terroristas sionistas responsáveis pelos genocídios de Deir-Yacin, de Sabra, de Chatila e pelo Estado racista que ergueu o infame Muro do Apartheid, retalhando a Palestina ocupada. E é o senhor Peres, presidente dessa abominação toda, que quer dizer ao mundo com quem ele deve ou não se relacionar. Não há plebiscitos planetários, mas provavelmente uma nítida maioria da opinião internacional considera que o problema para o mundo, não é o Irã, mas Israel, Estado terrorista e colonialista abominado por todos os que não comem na mão dos donos do dólar e do Pentágono.

Mas o presidente israelense não está sozinho. Dispõe de muitos apoios no Brasil. No Senado, a tucanalha e os DEM(ocratas!ha!ha!ha!) criticaram Lula porque este, retribuindo em março 2010 a  visita de Peres,  recusou-se, com dignidade, a inclinar-se diante do túmulo do fundador do sionismo, movimento político com fortes componentes colonialistas, racistas e fascistas. O facho-sionista Lieberman, ministro do Exterior do Estado israelense, irritou-se a ponto de não comparecer, em 15 de março, à sessão especial do Parlamento (Knesset) em que Lula tomou a palavra. Segundo o serviço de notícias israelense "Ynet", zelosamente reproduzido no “noticiário UOL” (que não perde ocasião de agredir quem não come na mão do Sacro Império), Lieberman considerou a decisão do presidente brasileiro “um grave descumprimento do protocolo”. Cumprir protocolo, segundo esse perigoso energúmeno, é sabotar acintosamente um presidente estrangeiro convidado pelo governo de que ele próprio faz parte.

Além de Lieberman, a UOL mobilizou Gilberto Sarfati, um “professor de relações internacionais especializado em Oriente Médio da Universidade Rio Branco”, que pontificou: “Infelizmente, isso [não visitar o túmulo] foi uma gafe diplomática bastante grande. Se isso foi uma mensagem intencional [por parte da diplomacia brasileira], foi um erro muito grande. […]Torço para que tenha sido uma gafe”. Não dá para acreditar na sinceridade de Gilberto. Ele tem todo jeitinho de torcer mesmo para o sionismo e seu Estado-terrorista. Tanto assim que acrescentou “Não visitar o túmulo é quase que apoiar o [presidente do Irã] Mahmoud Ahmadinejad quando ele nega o direito do Estado de Israel de existir”. Considerando que tenha sido uma gafe, “o professor defende que o Itamaraty deva se apressar em apresentar um pedido de desculpas ao governo de Israel”. Ele gostaria, pois de que o Brasil se humilhasse para dar razão a fascistas como Lieberman.

Outro reforço para Lieberman e o facho-sionismo foi prestado pelo senador Artur Virgilio. Exalando udenismo, ele acusou Lula de “manter uma relação de cumplicidade com praticamente todas as ditaduras do mundo" (São Paulo, ANSA, 17-3-2010). Os conceitos de ditadura e de DEM-ocracia da direita liberal pró-imperialista são sobejamente conhecidos: “democratas” são os militantes da submissão. Formam um bloco que mesmo não estando inscrito em nenhum cartório oficial, é muito forte. Seus adeptos distribuem-se por ampla gama do espectro ideológico, embora estejam majoritariamente concentrados na tucanagem e em outras formações neoliberais. Nenhum deles suporta gestos dignos de quem se recusa a lamber as botas do Pentágono.

Essa imagem das botas é velha, mas o uso dos calçados, em si mesmos politicamente neutros, tem ganho conotações ético-políticas contraditórias. Em 31 de janeiro de 2002, o então ministro do Exterior Celso Lafer, intimidado e subserviente a ponto de esquecer de que os membros de governo e diplomatas gozam de imunidade em revistas policiais nos aeroportos, obedeceu ao meganha estadunidense que o mandou tirar o sapato.

Mas em 14 de dezembro de 2008, Muntazer al-Zaidi, um jornalista iraquiano, numa cena que correu o mundo, jogou seu sapato na cabeça do presidente estadunidense George W. Bush. O gesto lhe valeu espancamento e prisão por parte dos colaboracionistas e esbirros a soldo dos ocupantes. Mas para os anti-imperialistas do mundo inteiro, al-Zaidi, mostrou que botas e sapatos não são necessariamente símbolos de pusilanimidade e submissão.

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