Alemães, uma gente muito estranha!

Outro dia, circulou pela internet um pequeno texto, atribuído a um Joseph Orígenes, de impressões sobre sua deslumbrante viagem pelas vitrines e estradas da Europa. Um texto irônico que contrapõe a asséptica vida alemã, de “uma gente muito estranha”, à no

Preservaram apenas uma pequena parcela das suas matas, hoje quase restrita àquilo que restou da Floresta Negra. E não vamos falar aqui de quantas vidas humanas foram ceifadas pelo mundo afora em nome do progresso e do arianismo alemãs.


 



Esse povo “muito estranho” não sabe há quanto nem por quanto tempo foi submetido, como nós, ao tacão expansionista e parasitário das suas riquezas. Terá sido sob os romanos dos césares? Ou sob os francos de Carlos Magno? De nossa parte, ainda somos os pobres mortais explorados do hemisfério sul. Exploração que se exerce ora sob a força das armas, como no mundo árabe ora sob a forma de tratados de “livre” comércio, bloqueio econômico… O propósito é esbulhar os dividendos que mandamos aos montes para lá, contando com subserviente ajuda das Mirians Leitãos. Uma pequena digressão: alguém escreveu ou disse que acha que a Mirian Leitão é um clone do Cauby Peixoto


 



Quando, na América, ainda nem estávamos em gestação europeus de todos os matizes já nadavam em riquezas extraídas do nosso subsolo. Levaram, de graça e sob o preço da matança dos nossos ancestrais índios, depois, também, nossos ancestrais negros, toneladas e toneladas de ouro, prata, diamantes. Depois, levaram quase tudo de graça. Levaram nossa borracha e, não contentes, piratearam as próprias seringueiras e, junto, nossas plantas medicinais, para devolvê-las depois a preço de ouro. Do mesmo modo levam nosso aço, nossa madeira, nosso futebol. Patenteiam a nossa rapadura, nosso cupuaçu e nosso pau-rosa.


 



Esse povo “muito estranho”, ao mesmo tempo nababo e xenófobo, não sabe o que é viver em território (24 vezes maior) tão amplo, tão populoso (2.2 vezes maior), com tão grande diversidade sócio-econômica (PIB 4,7 vezes menor). E secularmente espoliado. Eles vivem hoje de uma riqueza acumulada, extorquida, parasitada. Por isso, podem falar de BMW, de Mercedes, de caixas automáticos, de garagens subterrâneas. E o turista das calçadas alemãs nem percebeu que, no metrô de lá, foi constrangido e humilhado para ceder seu lugar ao ariano “muito estranho”. Não observou que a xenofobia, lá, é legal. E ainda ficam a cobrar uma dívida externa que já pagamos várias vezes. E com juros superfaturados.


 



A propósito, é bom recordarmos trechos de um discurso feito por Guaicaípuro Cuatemoc, cacique de uma nação indígena da América Central, que embasbacou os principais chefes de Estado da Comunidade Européia. Em Madri, maio de 2002, um momento surpreendente e revelador. Os chefes de estado europeus ouviram, perplexos e calados, um discurso que, embora irônico e cáustico, encerrava uma exatidão histórica acadêmica. O discurso foi publicado no Jornal do Comércio – Recife, Pernambuco – e republicado no Anuário Humanus IV – Sama Multimídia, páginas 98/99.


 


 
O cacique Cuatemoc é descendente dos que povoaram a América há 40 mil anos e lembra que ali está para encontrar os que a encontraram há apenas 500 anos. “O irmão financista europeu me pede o pagamento – ao meu país – com juros, de uma dívida contraída por Judas, a quem nunca autorizei que me vendesse”, diz. “Outro irmão europeu me explica que toda dívida se paga com juros, mesmo que, para isso, sejam vendidos seres humanos e países inteiros sem pedir-lhes consentimento. Eu também posso reclamar pagamento e juros”, acrescenta. Lembrando que consta no “Arquivo da Cia. das Índias Ocidentais” que somente entre os anos 1503 e 1660 chegaram a São Lucas de Barrameda 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata provenientes da América, questiona: “Teria sido isso um saque?” Ele mesmo responde: “Não acredito, porque seria pensar que os irmãos cristãos faltaram ao sétimo mandamento!”.


 



Vai adiante: “Teria sido espoliação? Guarda-me Tanatzin de me convencer que os europeus, como Caim, matam e negam o sangue do irmão. Teria sido genocídio? Isso seria dar crédito aos caluniadores, como Bartolomeu de Las Casas ou Arturo Uslar Pietri, que afirmam que a arrancada do capitalismo e a atual civilização européia se devem à inundação de metais preciosos tirados das Américas! Não, esses 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata foram o primeiro de tantos empréstimos amigáveis da América destinados ao desenvolvimento da Europa. O contrário disso seria presumir a existência de crimes de guerra, o que daria direito a exigir não apenas a devolução, mas indenização por perdas e danos. Prefiro pensar na hipótese menos ofensiva”.


 



Mais: “Tão fabulosa exportação de capitais não foi mais do que o início de um plano “Marshalltesuma”, para garantir a reconstrução da Europa arruinada por suas deploráveis guerras contra os muçulmanos, criadores da álgebra, da poligamia, e de outras conquistas da civilização. Para celebrar o quinto centenário desse empréstimo, podemos perguntar: Os irmãos europeus fizeram uso racional, responsável ou pelo menos produtivo desses fundos? Não. No aspecto estratégico, dilapidaram nas batalhas de Lepanto, em navios invencíveis, em terceiros reichs e várias formas de extermínio mútuo. No aspecto financeiro, foram incapazes, depois de uma moratória de 500 anos, tanto de amortizar o capital e seus juros, quanto independerem das rendas líquidas, das matérias-primas e da energia barata que lhes exporta e provê todo o Terceiro Mundo”.


 



Quando terminou seu discurso diante dos chefes de Estado da Comunidade Européia, o Cacique Guatemoc havia provado, sem nada saber de Direito Internacional e com base nele, que os europeus teriam que pagar por toda a espoliação que aplicaram aos povos que aqui habitavam, e com juros civilizados. E explicou, sem querer, por que o alemão é “uma gente tão estranha”.

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