Praia, futebol, carnaval e campanha eleitoral
Era um ato de apresentação dos títulos da coleção Paulo Rosas do Centro Paulo Freire, na Universidade Federal de Pernambuco. À mesa, a velha educadora fazia sinais de quem quer dizer alguma coisa, difícil de compree
Publicado 01/06/2006 01:00
– Queria tanto falar com você! Sua declaração ao Jornal do Commercio está perfeita.
– Como assim?
– “Nós polemizaremos sempre”, você disse. É isso mesmo, campanha eleitoral tem que ter debate.
– Realmente, a campanha deve buscar o voto e ao mesmo tempo propiciar o debate para que as pessoas elevem o nível de compreensão política acerca do mundo em que vivem. E descortinarem objetivos maiores, de longo prazo, na transformação da sociedade.
Pena que a conversa parou por aí. Poderia ter falado que a campanha tem também que ser como praia, futebol e carnaval. Democrática, aberta à participação de todos, emocionante, alegre.
Para quem sonha com um futuro radioso, no qual o sistema social injusto e perverso possa ser superado por um modo de viver em que reine a liberdade e a fartura, como dizia Marx, o ato de lutar há que traduzir insatisfação e revolta em face da ordem vigente, mas igualmente esperança e alegria de viver.
A boa campanha conquista votos e dá azo a que as pessoas experimentem uma ponta de felicidade, mesclando combatividade com leveza. Não pode ser um fardo, jamais. Deve atrair, despertar, sensibilizar, unir, envolver, motivar. Inspirar solidariedade e prazer.
Não é assim na praia? Você chega, encontra seu espaço, contempla o mar e a linha do horizonte, experimenta aquela sensação de paz e de liberdade. Cumprimenta a quem nunca viu, puxa conversa, faz amizade.
No futebol, improvisado como pelada de várzea ou a sério e de acordo com as regras, você vive a solidariedade da equipe, o saber que não se vence sem a cooperação dos demais. Na arquibancada, então, compartilha o xingamento ao juiz, a vaia ao adversário, confraterniza na hora do gol. Não há lugar onde tantos se abraçam a tantos sem sequer se conhecerem. Amigos e irmãos de ocasião, na tristeza da derrota ou na empolgação da vitória.
No carnaval, nem se fala. Se for no Recife ou em Olinda, ou em outros lugares pernambucanos, você se sente à vontade no meio da multidão para destilar dores, amores, desejos e esperanças.
Pois é. Campanha eleitoral tem mesmo que ser assim – o mínimo indispensável de organização, o máximo de liberdade de iniciativa. Para que cumpra plenamente seus propósitos, desperte a energia criadora de cada e um de todos, obtenha votos e semeie consciência coletiva avançada.
Faltou dizer tudo isso à velha educadora. Fica para quando nos encontrarmos novamente. Ou para a próxima entrevista ao jornal.
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