Os falsos atalhos e o apoio do PMDB

Tinha um colega na Universidade Federal de Pernambuco, em meados dos anos sessenta, que se vangloriava de escolher o melhor atalho para percorrer a distância entre o Instituto de Ciências do Homem, onde trabalhávamos, e

– Vocês não sabem que a menor distância entre um ponto e outro é uma linha reta?

 

– Sim, respondíamos, bem sabemos. Mas é preciso ter cuidado com esse atalho porque é também o mais arriscado. Um dia você pode ser assaltado.

 

E preferíamos um caminho sinuoso, mais seguro, embora um pouco mais distante. Até que um dia o colega foi mesmo assaltado, pois o atalho em linha reta que preferia passava por uma área pouco iluminada e foi exatamente nela que o ladrão o surpreendeu. A partir de então ele se juntou a nós na preferência pelo caminho mais longo, porém menos perigoso.

 

É que na vida nem sempre o melhor caminho é o mais fácil. Mais ainda na luta política. Por isso a História é rica de empreitadas frustradas porque os que pretendiam levá-la a bom termo se iludiram com falsos atalhos.

 

Essa experiência é muito viva entre as correntes políticas sectárias, voluntaristas. Miram o objetivo e concentram suas energias na tentativa de atingi-lo, sem considerarem, contudo, os obstáculos e as contra-reações naturais na vida social e na luta política. Desconhecem a correlação de forças existente, ignoram a necessidade de atrair aliados e de enfraquecer o campo adversário. Bastam-se a si mesmas. E perdem – ou, quando muito, alcançam vitórias efêmeras.

 

O risco de atalhos falsos pode contagiar, agora, os que, na base de sustentação do governo Lula, se deixarem inebriar pelos dados das últimas pesquisas, que indicam forte tendência à ampliação do apoio ao governo e do voto no presidente, caso se candidate à reeleição – isto exatamente nas camadas populares.

 

– Olhaí o que mostram as pesquisas – dizem alguns voluntaristas, chamando a atenção para a “base popular” de Lula.

 

– Tudo bem – devemos contra-argumentamos. Partiremos de uma consistente base popular, porém para alcançarmos a maioria política e social através do voto, urge juntar mais forças, pois o embate é ingente e arriscado.

 

É aí que se salienta a importância do apoio do PMDB, essa grande agremiação centrista, que congrega um aglomerado de grupos regionais e não tem uma linha política una que lhe permita ter candidato próprio à presidência da República, nem formalizar apoio a candidato de outro partido. Mas que pode ser aliado decisivo – para que Lula vença a eleição e governe com maioria parlamentar. Ao largo de atalhos ilusórios.

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