Ítalo Coriolano: Um péssimo cartão de visitas
"O que o mundo esperava de Bolsonaro eram ideias concretas para tirar o Brasil da crise econômica, dentro do modelo liberal defendido pelo ex-parlamentar. Queriam algo novo. Não veio nada. O que transpareceu para o público foi uma pessoa insegura e despreparada para o cargo que ocupa”.
Por Ítalo Coriolano*
Publicado 25/01/2019 11:18 | Editado 04/03/2020 16:22
A estreia do presidente Jair Bolsonaro (PSL) no exterior não poderia ser pior: dos 45 minutos a que tinha direito em seu discurso na abertura do Fórum Econômico Mundial, só falou seis. Para deixar tudo ainda mais constrangedor, insistiu nas frases vazias repetidas mil vezes durante a campanha eleitoral e que pouco interessam a investidores e autoridades internacionais. Afirma que seu governo não terá "viés ideológico", mas não perdeu a oportunidade de criticar a esquerda. Caso não lembre, o País mantém relações comerciais com governos "vermelhos", como é o caso da China, maior comprador de produtos brasileiros. Vai romper com o País por pura picuinha? Impossível! Vai ter, sim, que dialogar com a potência comunista. Para isso, a ficha de que as eleições já acabaram ainda precisa cair.
O que o mundo esperava de Bolsonaro eram ideias concretas para tirar o Brasil da crise econômica, dentro do modelo liberal defendido pelo ex-parlamentar. Queriam algo novo. Não veio nada. O que transpareceu para o público foi uma pessoa insegura e despreparada para o cargo que ocupa.
E quando se imaginava que seria possível extrair do chefe do Executivo algo mais palpável sobre seus planos para o País, a entrevista coletiva para diversos órgãos de imprensa do planeta é cancelada, 40 minutos antes de ela acontecer, num grave desrespeito aos profissionais da área e a quem consome seus conteúdos.
Tiago Pereira Gonçalves, assessor da Presidência da República, chegou a afirmar que o cancelamento da entrevista coletiva foi devido à "abordagem antiprofissional da imprensa". Mas o que seria "abordagem antiprofissional"? Fazer perguntas que eventualmente incomodem Bolsonaro? Aprofundar questões? A imagem que tudo isso transmite é a de que a "boa imprensa" é somente aquela que não incomoda, que não toca em assuntos delicados, que não confronta informações, subserviente, sem autonomia. Nesta quarta-feira, Bolsonaro concedeu entrevista apenas à Rede Record, cujo dono, Bispo Edir Macêdo, declarou apoio ao militar reformado durante a disputa presidencial.
Caso não consiga entender e respeitar o trabalho dos jornalistas, o presidente criará embates que não ajudarão em nada na difícil tarefa de governar o Brasil pelos próximos quatro anos. Para o mundo, no caso específico da não-coletiva em Davos, fica a impressão de um sujeito arredio, antipático, grosso, intolerante às diferenças. Que belo cartão de visitas, heim?! Poderia aprender um pouco com seu vice, general Mourão, que aliás vem dando um show de performance na relação com a imprensa durante o exercício da Presidência.
A expectativa agora é de que a experiência de Bolsonaro em Davos sirva ao menos como um choque de realidade. O Brasil e o mundo não precisam mais de um candidato, mas de um presidente, de um estadista que consiga atrair investimentos, que consiga fazer as reformas necessárias, que diminua as desigualdades sociais, que resgate a nossa autoestima, que deixe de desperdiçar energia com temas inócuos, que atue para além das redes sociais, que haja com maturidade.
*Ítalo Coriolano é jornalista.
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