Nova era: estudantes relatam problemas graves com site do Sisu

Não está sendo fácil para os estudantes brasileiros lidarem com a "nova era" do governo Bolsonaro na Educação. Uma das etapas que mais gera ansiedade nos jovens em busca de uma vaga na universidade é a participação no sistema de seleção do Sisu. Neste ano, o simples acesso à página está se transformando num calvário. Nas redes sociais, há relatos de lentidão e bugs no programa que violam a segurança dos dados. O ministério da Educação até agora não resolveu os problemas.

sisu estudante - Foto: Felipe Ribeiro / JC Imagem

O Sistema de Seleção Unificada (Sisu), plataforma online coordenada pelo Ministério da Educação (MEC), reúne 235.476 vagas em graduações de 129 instituições públicas do País. A relação do estudante com a plataforma deveria ser apenas uma etapa burocrática — ágil e segura — para o processo de ingresso na rede pública de ensino superior. Mas está sendo um verdadeiro calvário para milhares de jovens.

No Instagram do MEC há relatos de estudantes que foram surpreendidos ao entrar na página e se depararam com informações que não eram referentes a eles. No twitter também há vários casos deste tipo e, sobretudo, relatos de lentidão e dificuldade de entrar no site.

O pernambucano Jean Luca Espíndola, 19 anos, foi um deles. Às 9h42 de quarta-feira, ao logar no Sisu, viu as informações referentes a um candidato chamado Edilton, que se inscreveu como cotista, para o curso de farmácia da Universidade Federal da Bahia.

“Fiquei preocupado, isso é perigoso. Foi um ano de muito esforço para mim e para minha família. A gente corre o risco de perder a vaga se alguém acessar e mexer nas minhas opções”, comentou Jean, que vai tentar medicina nas Federais da Paraíba e de Pernambuco. “Com esse sistema ruim, travando sempre, é necessário mais cuidado. Tem que acessar o tempo todo para conferir os dados”, ressaltou.

Iago Perboni, 20 anos, do Mato Grosso, também teve o mesmo problema. Na manhã desta quarta-feira (23), segundo dia de inscrições do Sisu, ele entrou no site e caiu na página de uma candidata chamada Andreza, da Bahia. Ele fez um print da página e alertou outros estudantes sobre o ocorrido.

Num storie do Instagram, Iago escreveu: “Gente, eu entrei no Sisu com minha inscrição e caiu na conta de outra pessoa. Eu tive a possibilidade de mudar tudo que eu queria lá, por erro do sistema”. Depois Iago colocou: “Alguém sabe como devo prosseguir de agora em diante sabendo que minhas informações pessoais e escolha de curso podem estar em risco?”.

O Blog do Fera contactou o estudante, que confirmou a história. Concorrente de medicina, ele vai tentar aprovação pela terceira vez. “É muito grave o que aconteceu. Se isso acontece com alguém que é mau caráter pode prejudicar a vida de outra pessoa. É o terceiro ano que me inscrevo no Sisu. Com certeza é a pior das edições”, comentou o rapaz.

Ao entrar no Sisu, Iago viu o nome completo de Andreza, e-mail e telefone dela. A candidata optou por dois cursos na área de humanas: filosofia na Universidade Federal da Bahia como primeira opção e letras na Universidade Estadual da Bahia como segunda opção.

Outro estudante, chamado Daniel Rizzo, colocou uma mensagem no Instagram do MEC relatando o mesmo problema. “Pessoal, quero registrar aqui uma denúncia: hoje, ao logar minha conta e senha no Sisu, o sistema logou na conta de outra pessoa com nome Jaqueline. Ao contar para alguns colegas, houve relatos de que também aconteceu o mesmo com eles. Tirei foto, print da tela e tudo mais. A ineficiência do MEC e a falta de respeito com os estudantes estão fora do comum!”.

Também não faltaram as piadas com a situação. No Twitter, o perfil @Jacck13 registrou: "Tá mais fácil o Queiroz depositar uns 50 cheques do Flávio Bolsonaro em minutos, do que acessar o sisu, esse site tá uma merda, mas o que esperar dessa equipe do ministério da educação do Bozo, heim ?".

Explicações e nada mais

A Assessoria de Comunicação do MEC foi acionada para esclarecer o problema. Disse apenas que "a área técnica apurou os casos apresentados com o objetivo de garantir a segurança dos candidatos ao Sisu".

Sobre a dificuldade de acessar o site, o MEC publicou em sua página no Facebook que "adotou todas as medidas para resolver a lentidão no Sistema registrada no primeiro dia de acesso dos estudantes". Mas hoje, terceiro dia, a lentidão continua e até se agravou.

A recomendação da área técnica do MEC é que o estudante com dificuldade de acesso atualize a página de inscrição antes de preencher os dados. Segundo o ministério, a instabilidade foi causada por um grande volume de acessos espontâneos na rede do MEC. Mas não explicou porque isso ocorreu já que o volume foi o mesmo de anos anteriores.

Comentário estúpido de Bolsonaro sobre o Enem

Para aumentar ainda mais a desconfiança com o sistema, o presidente Jair Bolsonaro fez um comentário estúpido, realmente estúpido, sobre o próximo Enem (Exame Nacional de Ensino Médio). Durante café da manhã com assessores, em Davos, Bolsonaro afirmou: "Pode ter certeza que alguém do PT vai vazar a prova (do Enem)". E depois reafirmou: "Vai vazar".

Poderia ser apenas mais uma das frases tresloucadas do ex-capitão direitista na sua eterna briga infantil com os adversários políticos. Mas é bem mais grave que isso. É o presidente da República sugerindo que um exame com a dimensão e a complexidade do Enem será alvo de fraude.

"Uma política de estado já consagrada e fundamental na vida de milhões de brasileiros deveria ser tratada com maior responsabilidade pelo presidente da república", protestou o ex-ministro da Educação, Aloísio Mercadante, em nota à imprensa 

Para Mercadante, "Bolsonaro deveria elogiar os servidores que construíram essa história de sucesso, não colocar em suspeição uma política de estado de reconhecido êxito para tentar impor uma ideologia obscurantista na educação". "Neste momento, Bolsonaro e sua equipe no MEC deveriam estar procurando respostas para os recentes problemas nas matrículas do Sisu, que apresentou problemas de instabilidade no sistema e divulgou notas de corte parciais antes do prazo definido", completou o ex-ministro.

Ele conclui a nota afirmando que "a ideologização do Ministério da Educação e a política de fake news do governo Bolsonaro, seguramente, colocam em risco não só o Enem, mas toda a política educacional brasileira. "

Da redação, com informações do Jornal do Commercio