Bolsonaro extinguir ministério do Trabalho é novo ataque a trabalhador
De acordo com notícia divulgada nesta terça-feira (6) na Folha de S.Paulo, a equipe de transição do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) estuda o fim do Ministério do Trabalho. Segundo a Folha, a política de trabalho e renda poderia se tornar atribuição do superministério da Economia. Dirigentes sindicais ouvidos pelo Portal Vermelho condenaram a sinalização do novo governo, que demonstra que vai aprofundar o ataque aos trabalhadores.
Por Railídia Carvalho
Publicado 06/11/2018 19:13
Miguel Torres, presidente da Força Sindical, declarou ao Portal Vermelho que cada dia é uma novidade. “A Força soltou nota contra a proposta de fundir os ministérios do Trabalho com a indústria e agora vem essa. É muita confusão em um governo que não começou. Sou contra acabar com o ministério. Quem perde são os trabalhadores”.
Na opinião dele, o fim do ministério do Trabalho deixa o trabalhado em desvantagem na relação capital e trabalho. “É um absurdo. Mesmo perdendo protagonismo nos últimos anos, o ministério é responsável pela fiscalização, intermediação, busca acordos nas mesas redondas”, ressaltou Miguel.
Adilson Araújo, presidente da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) definiu a transição de Bolsonaro de “indigesta” para os trabalhadores. Para o dirigente, o fim do ministério do Trabalho é a moeda de troca para satisfazer aquela parcela de empresários que apoiou a campanha do candidato do PSL.
“Os empresários estão cobrando a liberdade para praticar a legislação que lhes convier sob a batuta da redução de custos”, afirmou Adilson. Ele lembrou ainda que a dobradinha empresários e Michel Temer, que aprovou terceirização e reforma trabalhista, nunca entregou a modernização que pregavam enquanto defendiam o ataque aos direitos trabalhistas.
“O tripé que deu base à reforma trabalhista era modernizar as relações de trabalho, acabar com a insegurança jurídica e gerar empregos. O que vemos agora no Brasil é adoecimento do trabalhador, óbitos, desemprego alarmante, trabalho análogo à escravidão, precarização. O que tem de moderno nisso?”, questionou Adilson.
Para o presidente da CTB, o golpe de 2016 que levou Michel Temer à presidência e que resultou no esvaziamento do ministério do Trabalho sinalizava esse desejo de “tornar essa instituição letra morta”. Adilson enfatizou que o fim do ministério do Trabalho é mais um ataque ao direito social do trabalho.
“O que eles querem é criar um muro para defender os interesses da parte patronal. Nessa movimentação só sobrará espaço para o capital. O trabalho está sendo vilipendiado, suprimido da concepção de um mundo mais humano, menos desigual e socialmente desenvolvido”, salientou Adilson.
Miguel reiterou o respeito a resultado das urnas, no entanto, se mostra preocupado com o direcionamento que novo governo dá ao mundo do trabalho. “Cada dia fica mais nítido que tudo o que se relaciona com o trabalho tem ações negativas vindas do novo governo. Ou são balões de ensaios para ver até onde ele pode ir. Depois do fim do ministério do trabalho vem o quê? O Fim da Justiça do Trabalho, o fim do Ministério público do Trabalho?”, concluiu.
De acordo com a Folha, a notícia do fim do Ministério do Trabalho encontra resistência no próprio órgão. Pela manhã foi divulgada nota do Ministério do Trabalho que diz: “o futuro do trabalho e suas múltiplas e complexas relações precisam de um ambiente institucional adequado para a sua compatibilização produtiva, e o Ministério do Trabalho, que recebeu profundas melhorias nos últimos meses, é seguramente capaz de coordenar as forças produtivas no melhor caminho a ser trilhado pela Nação Brasileira, na efetivação do comando constitucional de buscar o pleno emprego e a melhoria da qualidade de vida dos brasileiros". Procurada pela Folha, a assessoria do Ministério do Trabalho não quis comentar a nota.