Grécia: a ilusão do fim do "resgate"
O anúncio do fim do "resgate" não dá aos gregos razões para comemorar. Foram oito anos de empobrecimento, perda de soberania nacional e ataque aos direitos sociais, que alguns querem perpetuar
Publicado 21/08/2018 15:12
Na verdade, o anunciado fim do terceiro programa de assistência financeiro não permitirá aos gregos respirar de alívio, considerando o programa de acompanhamento de que a Grécia continua a ser alvo, por parte do FMI e da UE, que limita, através de imposições orçamentais, a soberania e a resposta aos graves problemas econômicos e sociais vividos pelo país.
Os dados do Eurostat comprovam o efeito sanguessuga dos chamados "credores". A riqueza criada no país helênico em 2017 foi inferior àquela que se produziu em 2004. O PIB per capita em PPP (paridade de poder de compra), que dois anos antes da entrada da troika (2008) era 16,6 pontos percentuais (pp) inferior à média da União Europeia (UE), passou em 2017 para 37 pp abaixo da média.
A emigração de quadros qualificados foi uma realidade alicerçada no trabalho cada vez mais precário e no desemprego galopante, que chegou a 27,5% em 2013, sendo apenas de 7,8% em 2008. No período compreendido entre 2008 e 2017, o rendimento médio dos gregos caiu 32%. Em 2015, a exclusão social atingia cerca de quatro milhões de gregos.
Os direitos do trabalho não escaparam à chantagem da troika que Alexis Tsipras executou enquanto acenava com a proximidade da "saída limpa", embora tenha sido eleito com um programa que prometia reverter as políticas de austeridade.
Foram parcelas de dinheiro a troco de menor estabilidade profissional, vínculos laborais precários e rendimentos insuficientes para assegurar condições de vida dignas. Até o direito à greve, enquanto forma de protesto contra as medidas impostas, foi alvo de cerceamento.
Por isso, "não é o regresso à normalidade", como tentou fazer crer na segunda (20) o presidente do Eurogrupo, Mário Centeno. Mais condizente com a realidade é o "bem-vindos de volta", infeliz saudação escolhida pelo ministro português das Finanças, uma vez que os constrangimentos que decorrem da "vigilância" realizada pelo FMI e pela UE impossibilitam o desenvolvimento da Grécia num quadro de soberania capaz de responder aos problemas que o país tem pela frente.