Não querem Lula nos debates porque evidenciaria diferença de propostas
Em entrevista ao Portal Vermelho, o jornalista e professor Laurindo Lalo Leal classificou a conduta da Globo como censura. Para ele, os debates eleitorais estão prejudicados pela ausência do candidato que é líder em todas as pesquisas.
Por Dayane Santos
Publicado 24/08/2018 10:25
“A mídia mostra a sua parcialidade neste caso. Mas, por outro lado, Lula continua crescendo nas pesquisas, o que demonstra que os oito anos de governo sedimentaram alguma coisa na população”, enfatizou o professor da USP.
Na avaliação de Lalo, os debates foram estruturados de modo a engessar os candidatos, o que não contribui no processo eleitoral.
“O horário é muito ruim, tendo em vista que invade a madrugada em dia útil. Depois a forma como está estruturado o deixa engessado. Os candidatos fazem a pergunta para outro, não interessado, obviamente, na resposta do outro, mas na possibilidade de, na réplica, exporem as ideias que têm sobre os temas pelos quais perguntaram”, analisa.
“Os debates são muito enfadonhos. Não prendem a atenção do eleitor. O modelo é muito ruim e não permite momentos mais amplos como o que aconteceu com Marina e Bolsonaro”, lembrou ele, se referindo ao embate entre os dois presidenciáveis na Rede TV.
De acordo com o professor, aos boicotar a campanha de Lula, a grande mídia esconde suas propostas que, comparadas aos demais candidatos, são as únicas a se contrapor ao projeto que prevalece nas candidaturas da direita.
“As propostas que aparecem são redundantes. As propostas do PT não aparecem, o que vai se configurando uma tentativa de polarizar o debate na narrativa do ‘extremo’, colocando no mesmo nível de posições o Bolsonaro e o Lula. Mas fazem questão de esquecer que Lula tem dois mandatos como presidente e existe uma série de situações que são escamoteadas”, aponta Lalo.
Para ele, essa manobra “é uma fraude”. “Comparar Bolsonaro, que não tem nada em termos de realização, com Lula é uma fraude. Lula tem o que mostrar, pode até se criticar ou tentar desconstruir, mas ele tem o que criticar e tem duas gestões muito bem avaliadas pela população. Ele saiu do governo com mais de 80% de aprovação. Mas Bolsonaro é um zero”, salienta.
E acrescenta: “Tentam transformar duas candidaturas que do ponto de vista do conteúdo são absolutamente diferentes na busca de igualar por uma pretensa polarização ideológica. O debate não mostra isso de maneira alguma. A presença do Lula ou mesmo do Haddad nos debates, apesar do engessamento, iria evidenciar a diferença. Não vemos no debate se falar de ações bem-sucedidas. Temos um debate absolutamente parcial e uma postura de censura quando temos oficialmente a decisão de não cobrir a candidatura do PT”.