Ex-presidente da Petrobras, Parente mantém relação societária com FHC
edro Parente e Fernando Henrique Cardoso estão ligados há anos. E a ação de um e outro levam a um ponto em comum: a sociedade existente entre eles. O Jornal do Brasil trouxe uma extensa reportagem sobre o tema, colocando datas e empresas e comprovações da máxima. Agora, após dois anos de uma desastrosa administração da Petrobras, o tema vai a fundo.
Publicado 09/06/2018 15:36
FHC e Parente estão em relação societária imbricada desde muito, e vão se entrelaçando conforme uma empresa é montada com representação de outra que é ligado a um ou outro. Juntos nos negócios. Um nega outro também, mas as provas levantadas pelo jornal são bem explícitas. Leia a matéria do JB a seguir.
Pedro Pullen Parente, quando era secretário-adjunto do Tesouro, no governo Sarney, fez uma das mais complexas operações na estrutura fiscal do país. Por determinação da Constituição, cortou, em 1988, o cordão umbilical entre o Tesouro Nacional, Banco Central e Banco do Brasil, tarefa em aberto desde a criação do BC, em 1964. Outra foi a gestão da crise de energia, em 2001, no governo Fernando Henrique Cardoso. Era, então, chefe da Casa Civil. Essas operações lhe deram a fama de administrador eficiente. Motivo que o guindou ao comando da Petrobras, em 1º de junho de 2016.
A última aparição de Parente no cenário político nacional durou exatos dois anos. Findou por conta de atritos com o Planalto sobre a política de preços dos combustíveis da estatal. Durante o comando da Petrobras, manteve relações perigosas com pessoas influentes na conjuntura financeira do país. Como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de quem ainda é sócio na incorporadora Sarlat Empreendimentos e Participações. Também fazem parte do quadro societário o ex-ministro das Relações Exteriores de FHC, Celso Lafer, e Lucia Hauptmann, ex-mulher de Parente.
Outra sociedade de Parente, todavia, foi desfeita há menos de um mês. Segundo consta em Certidão da Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp), no dia 10 de maio de 2018, Parente, Hauptmann, Lafer e Paulo Henrique Ferro – outro sócio de FHC na Sarlat – venderam cotas da Montignac Empreendimentos Imobiliários ao engenheiro Fernando Ribeiro Bau. O novo proprietário trocou o nome da construtora para Life LS e transferiu sua matriz para Curitiba, sede da Lava Jato. Fernando Bau é ex-presidente da Estre Ambiental, maior coletora de lixo do Brasil, implicada na operação. O antigo endereço da Montignac, Rua Tenente Negrão, 140, no bairro do Itaim Bibi, em São Paulo, era o mesmo da Sarlat e da Prada Assessoria Empresarial, ambas de Parente.
A Prada, responsável por gerir finanças de famílias milionárias, prosperou durante o período em que Parente esteve à frente da Petrobras. A empresa incorporou clientes ainda mais abastados, famílias bilionárias e até mesmo companhias. Uma das sócias da Prada é Maria Leticia Freitas, conselheira da seguradora BB Mapfre, controlada pelo Banco do Brasil. Pode ter pesado o fato de que o atual presidente da Petrobras, Ivan Monteiro, tenha sido vice-presidente Financeiro do banco de 2009 a 2015.
A seguradora tem algumas dezenas de milhões em contratos ativos com a Petrobras. Destes, três (somam R$ 3 milhões) foram fechados na gestão de Parente na modalidade convite. O que significa que a contratação foi feita com a apresentação de apenas três orçamentos.
“Empresas de gaveta”
Segundo advogados especializados em direito societário ouvidos pelo JORNAL DO BRASIL, o uso do mesmo endereço é comum em casos de “empresas de gaveta”. No episódio dos Panama Papers, por exemplo, várias empresas brasileiras envolvidas na Lava Jato tinham como sede os mesmos escritórios de advocacia no centro financeiro panamenho.
Além da Prada, Pedro Parente e Lucia Hauptmann encabeçam a Viedma Participações, criada para investir em negócios diversos. Pela Viedma, Parente e Lucia são também sócios minoritários da Sarlat Empreendimentos. A Viedma Participações tem R$ 166.600 em cotas da Sarlat Empreendimentos, e se faz presente na Kenaz Participações, de José Berenguer, que é presidente do JPMorgan no Brasil.
Com canais de crédito reabertos, a Petrobras conseguiu captar bônus de longo prazo a juros de 2% acima das taxas de mercado e resgatou, no dia 10 de maio (mesmo dia em que Parente vendeu sociedade para Fernando Bau), empréstimo de US$ 600 milhões com juros de 2,5% acima do mercado junto ao JPMorgan. A estatal explicou a operação, em fato relevante, no dia seguinte. Mas a Federação Única dos Petroleiros (FUP) foi à Justiça para questionar o negócio. Uma vez que o presidente do JPMorgan Brasil, José Berenguer, é sócio indireto do então presidente da Petrobras.
Segundo a revista “Exame”, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso teria participado de comitê consultivo criado em 2017 pela filial brasileira do JPMorgan para discutir decisões estratégicas do grupo no país. Em conversas com o JB nas últimas duas semanas, Fernando Henrique Cardoso negou que tenha feito parte de conselho do banco. Com relação à sociedade com Pedro Parente afirmou, em 28 de maio, desconhecer a existência da Viedma. No dia 1º de junho, ao ser confrontado com documento da Jucesp e ter lamentado a saída de Parente da Petrobras, disse:
“Não sou nem nunca fui sócio do Pedro Parente. Se eventualmente ambos temos dinheiro em algum fundo – e não estou certo disso – isso não me leva a tê-lo como sócio”. Sobre sua relação com José Berenguer, comentou que conhece o presidente do JPMorgan, “cordialmente, sem maiores proximidades”.
De acordo com o JPMorgan, demandas referentes ao comitê estratégico são, hoje, atendidas pela Gávea Investimentos. A gestora de recursos de terceiros tem como um dos sócios Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central no governo FHC. Contatada, a Gávea não respondeu até o fechamento desta reportagem quem controla e como funciona o conselho.