Weiber Tapeba – A farsa do descobrimento: No Ceará tem índio, sim
"Estima-se que 42 povos habitavam a região que atualmente corresponde ao Ceará. Atualmente, existem 14 povos indígenas no Estado, com uma população de 33.048 indivíduos, distribuídos em 20 municípios”.
Por Weiber Tapeba*
Publicado 19/04/2018 09:12 | Editado 04/03/2020 16:22
No mês em que celebramos o Dia do Índio, fazemos uma rápida viagem na história do Brasil para tratarmos da situação dos povos indígenas. A historiografia oficial aponta para a existência de cerca de 6 milhões de índios no período da chegada dos europeus ao Brasil. O extermínio de povos indígenas foi a principal estratégia do projeto colonial para ocupar a terra dita “descoberta”. Esse extermínio se caracterizou pela dizimação violenta de muitos povos ou pela dominação e tentativa de integração forçada dos indígenas a comunhão nacional.
No ano de 1863, 13 anos depois da aprovação da Lei de Terras, que estabelecia a compra como a única forma de acesso à terra e abolia em definitivo o regime de sesmarias, a Província do Siará Grande aprovou um relatório informando à Coroa Portuguesa a inexistência de povos indígenas no Estado. Esse documento foi uma espécie de “carta branca” para a tentativa de dizimação definitiva desses povos no Ceará.
Estima-se que 42 povos habitavam a região que atualmente corresponde ao Ceará. Atualmente, existem 14 povos indígenas no Estado, com uma população de 33.048 indivíduos, distribuídos em 20 municípios.
Este conflito está diretamente relacionado à morosidade do Estado Brasileiro em regularizar as terras ocupadas pelas etnias. Das 23 contabilizadas pelo movimento indígena, apenas a dos Tremembés do Córrego João Pereira, em Itarema, está devidamente regularizada, enquanto que as demais estão em estágios diferentes de regularização ou sem nenhuma providência.
No Abril Indígena é importante reforçar o patrimônio cultural dos povos indígenas contrapondo uma abordagem equivocada feita no Dia do Índio em que nós, indígenas, estamos vinculados a passado distante ou a estereótipo que teima em residir no imaginário das pessoas. Os rituais sagrados, medicina tradicional, culinária, pinturas, espiritualidade, são partes integrantes de identidades que cada povo construiu ao longo de sua história. Nós resistimos por meio da memória dos nossos ancestrais. Os ensinamentos dos nossos “troncos velhos”, a espiritualidade bastante presente precisam ser respeitadas. Todo dia é Dia de Índio. Terra Demarcada, vida garantida!
*Weiber Tapeba é advogado, vereador de Caucaia e integra o Conselho Nacional de Política Indigenista.
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