Possível ataque químico na Síria causa tensão diplomática
A Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq) abriu uma investigação na segunda-feira (9) para determinar se dezenas de pessoas morreram sufocadas em um ataque perto da capital da Síria, possivelmente devido ao uso de um coquetel químico de gás sarin e cloro; potências ocidentais acusam o governo sírio, mesmo sem a conclusão das investigações por parte de Opaq
Publicado 10/04/2018 16:38
O diretor da Opaq, Ahmet Uzumcu, disse estar respondendo com “profunda preocupação” ao possível ataque com armas químicas ocorrido no sábado na cidade de Douma, próxima de Damasco.
Testemunhas e médicos apontaram para ao menos 60 mortes, com quase mil feridos depois que ao menos duas bombas atingiram um hospital e prédios próximos. Cerca de 500 pessoas foram tratadas por problemas de respiração. Testemunhas também relataram ter sentido cheiro de cloro, e médicos disseram que os sintomas mais parecem com os de um agente nervoso.
Muitas das vítimas estavam se escondendo em abrigos subterrâneos depois que forças do governo conduziram ataques aéreos e terrestres em Douma, a última cidade controlada por rebeldes no distrito de Ghouta Oriental. Gases tóxicos podem adentrar esconderijos que bombas não conseguem alcançar.
O governo da Síria nega que suas forças tenham realizado tal ataque químico, argumentando que destruiu seu arsenal e o ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, disse que tais alegações são falsas e uma provocação.
A agência oficial síria, a SANA, respondeu às acusações, segundo informa a Abril Abril. "O exército está progredindo de forma rápida e determinada, portanto não teria nem por que utilizar qualquer tipo de material químico". A ofensiva do exército desencadeou-se depois do grupo terrorista Al-queda "ter quebrado a trégua e atacado com mísseis áreas residenciais de Damasco", causando dezenas de baixas, entre mortos e feridos – informação omitida pelos meios ocidentais.
Em comunicado, a porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Heather Nauert, acusou a Rússia de "ter violado os compromissos" com a ONU e de ter quebrado a convenção sobre armas químicas, exigindo o fim da "proteção incondicional ao regime de Assad", vista a sua "incapacidade para impedir o uso de armas químicas na Síria". Nauert responsabilizou a Rússia pelos ataques que atingiram vários civis e sufocaram comunidades vulneráveis da Síria com armas químicas.
O presidente Donald Trump afirmou que "o presidente Putin, a Rússia e o Irã são responsáveis pelo apoio ao animal que é Assad" e que "haverá um alto preço a pagar", no que pode ter sido uma declaração para fortalecer seu discurso anti-Irã, que ameaça a influência norte-americana no Oriente Médio.
Em comunicado emitido pelo ministério das Relações Exteriores russo, o país repudiou com firmeza o que considerou "informações fabricadas" e "sem qualquer fundamento", as quais acusou de "proteger os terroristas" da derrota inevitável e próxima no terreno, desqualificando a ONG Capacetes Brancos como "tendo sido repetidamente flagrada em ações com terroristas", tal como outras organizações "originárias nos Estados Unidos ou na Grã-Bretanha".
O chefe de direitos humanos da ONU, Zeid Ra'ad al-Hussein, criticou fortemente os membros do Conselho de Segurança nesta segunda-feira (9). Segundo ele, “diversos Estados muito poderosos estão envolvidos diretamente no conflito na Síria, e, mesmo assim, eles fracassaram completamente em impedir essa ameaçadora regressão em direção a um vale tudo de armas químicas”, disse, e reiterou que "esse desdém coletivo com mais um possível uso de uma das armas mais terríveis já desenvolvidas pelo homem é incrivelmente perigoso". Estados Unidos, Rússia, Irã e Turquia vem atuando na Guerra da Síria.