Villas: Povo precisa ganhar densidade ou forças centrífugas desagregam
Em entrevista aos jornalistas após seu discurso em uma conferência do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES), nesta terça-feira (20), o comandante das Forças Armadas, general Eduardo Villas Bôas, disse estar "muito preocupado" com os resultados da intervenção federal no Rio de Janeiro. Sem citar o nome da vereadora Marielle Franco (Psol), executada na semana passada, o general falou do mal que a polarização provoca na sociedade e disse que é preciso que a população brasileira se una.
Publicado 20/03/2018 17:39
“Se nós não ganharmos densidade, estaremos sujeitos à potencial fragmentação, senão territorial, da nossa sociedade. Forças centrífugas acabam ganhando muita força, acabam ganhando uma capacidade muito grande de nos desagregar e até mesmo um efeito fortuito”, afirmou o general.
E acrescenta: “Vejam agora esse injustificável assassinato dessa moça. Vejam, verifiquem, o potencial de desagregação, de potencializar os ideiais de minorias. Como diz o ministro Aldo Rebelo, o caminho da separatividade da nossa sociedade. Então, nós temos de ganhar densidade novamente”.
Aos jornalistas, classificou o crime como “terrível” e enfatizou a expectativa de que ele “seja elucidado o mais rápido possível”. Além disso, destacou que o caso gerou uma "rede internacional de solidariedade".
"Vem toda a parte de igualdade racial, direito das mulheres, enfim, são coisas que são demandadas pela nossa sociedade”, disse.
Sobre a intervenção, o general se disse "otimista e preocupado". "Confesso que muito preocupado pela incerteza de que nós vamos, realmente, atingir todos os resultados", afirmou o general. "Esse estado de coisas a que nós chegamos é resultado de décadas e décadas de omissões e de necessidades básicas da população não atendidas que acabam se represando e transbordando sob formas de violência", declarou.
Villas Bôas pediu “a compreensão” da sociedade porque “os companheiros que lá estão às voltas com esse tema [da intervenção], quanto mais se debruçam mais verificam a sua complexidade”.
Nesta segunda (20), durante a reunião com a comissão externa da Câmara dos Deputados que acompanha a intervenção, o general Braga Netto, nomeado interventor na segurança pública do Rio de Janeiro, disse que havia um déficit nas contas da segurança pública fluminense de R$ 3 bilhões e que as verbas destinadas pelo governo era insuficientes.
No decreto da intervenção de Temer, ele determina que as Forças Armadas assumam a responsabilidade do comando das polícias Civil e Militar no estado.
Villas Bôas disse ainda que, diante do quadro complexo que vive a segurança pública do Rio, os militares envolvidos na intervenção “têm procurado manter uma postura de não gerar expectativas, não tomar atitude espetaculosa e de não inaugurar promessa”.
“Os resultados virão com o tempo, e as soluções serão realmente de muito longo prazo”, afirmou o general. No decreto, a intervenção termina em 31 de dezembro de 2018.
O general disse que o sistema penitenciário é alvo da maior preocupação dos interventores.
“Algo que nos preocupa e que é chave: a nossa lei de execução penal tem que se adequar à maneira efetiva como nós temos que atuar para conseguirmos atingir essas estruturas do crime organizado. Isso não vai ser solucionado nos dez meses restantes”, disse.