Israel inicia processo de deportação de africanos
Governo começa a enviar cartas a dezenas de milhares de refugiados de Eritreia e Sudão, ordenando que deixem o país. Medida é amplamente condenada por personalidades, acadêmicos e sobreviventes do Holocausto
Publicado 07/02/2018 16:48
O governo israelense começou no domingo (4) a entregar cartas a dezenas de milhares de imigrantes do Sudão e da Eritreia, ordenando-lhes que deixem o país dentro de 60 dias. Cada afetado receberá um apoio financeiro de 3.500 dólares e a passagem de avião.
Esse é o primeiro passo do criticado plano, aprovado em janeiro pelo governo e que afeta entre 35 mil e 40 mil imigrantes. Eles serão enviados para seu país de origem ou para um terceiro país – provavelmente Ruanda. Quem se recusar será preso.
A maioria dos imigrantes africanos entrou clandestinamente no país pela fronteira egípcia do Sinai. O governo israelense, porém, construiu um muro que agora separa ambos os territórios.
Segundo a ONG Hotline para Refugiados e Migrantes, cerca de 12 mil pessoas solicitaram refúgio ao chegar ao país desde 2013, mas 7 mil solicitações foram negadas, apenas 11 foram aprovadas e as demais ainda estão sendo processadas.
Atualmente, 37 mil eritreus e sudaneses residem em Israel, segundo a ONG, que explicou que por enquanto, as famílias, as pessoas com vulnerabilidade, os menores de idade e os idosos ficam excluídos do plano. "Mas isso poderia mudar no futuro", diz.
Dezenas de imigrantes reclusos em um centro de detenção em Holot, no sul do país, já receberam cartas com ordens para abandonar Israel. A eles foi apresentada a opção de voltar ao seu país ou viajar a Ruanda se não quiserem ser presos indefinidamente, segundo o jornal Haaretz.
A nova política do governo para imigrantes africanos foi condenada publicamente por personalidades, coletivos de rabinos, escritores, acadêmicos, médicos e sobreviventes do Holocausto, que enviaram cartas às autoridades israelenses solicitando sua anulação, e por pilotos, que dizem se negar a pilotar os aviões com deportados. Eles dizem que as deportações ferem a ética e a imagem de Israel como um país que protege refugiados.
Na sexta-feira passada (2), um grupo de acadêmicos especializados em direito internacional declarou em um documento que o plano do governo viola as leis internacionais de direitos humanos, a jurisdição internacional sobre o estatuto do refugiado e o princípio de não devolução, e pediram à procuradoria que se oponha a ele.