Temer culpa povo brasileiro por ter dado um golpe contra a democracia
Entrando para a história como um conspirador golpista e rejeitado pela imensa maioria do povo, Michel Temer tenta empurrar a culpa de sua traição para o povo brasileiro. Durante cerimônia em Itu, interior de São Paulo, sobre as comemorações do dia da Proclamação da República, nesta quarta-feira (15), ele afirmou que os movimentos centralizadores ocorrem no país por desejo do povo, não simplesmente por causa de um golpe de Estado que desconsidera a vontade popular.
Publicado 16/11/2017 11:19
“Se não prestigiarmos certos princípios constitucionais, nossa tendência é caminhar para o autoritarismo. Nós brasileiros temos tendência para a centralização”, disse ele.
Citando o golpe militar de 1964, Temer afirmou que “quando os movimentos centralizadores ocorrem no país não é por simplesmente um golpe de Estado”, mas “porque o povo também quer”.
“Acaba desejando. No fundo é isso. Eu me recordo, nos idos de 64, os vários movimentos que pleiteavam a concentração de poderes. E com isso destruiu-se um dos princípios republicanos que era a harmonia e a independência entre os poderes”, afirmou.
Com apenas 3% de aprovação, configurando a maior rejeição da história, Temer chegou ao poder por meio de um golpe forjado a partir da aliança com Eduardo Cunha, então presidente da Câmara dos Deputados (que aprovou o prosseguimento do impeachment por vingança após não ter o apoio para barrar a denúncia contra ele no Conselho de Ética), e a fiança da oposição tucana e da grande mídia.
No poder, Temer impõe um agenda de reformas que contraria o projeto de governo aprovado pelas urnas. Retirada de direitos, cortes de verbas de programas sociais e desmonte do Estado, atendendo ao capital rentista, são medidas que foram implementadas graças a emendas parlamentares liberadas para a base aliada no Congresso Nacional que também engavetou duas denúncias contra ele apresentadas pela Procuradoria-Geral da República, por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e obstrução à Justiça.
Temer falou que tem recebido uma “colaboração extraordinária do Congresso Nacional”, mas salientou que enfrenta “grandes e naturais dificuldades em Brasília”, se referindo ao esfacelamento da sua base aliada, diante do desgaste das pesquisas de popularidade.
“Sempre que eu venho para essa região eu me sinto em casa. É uma espécie de uma cobertura emocional. Nós que vivemos em Brasília com aquelas grandes e naturais, mas superáveis dificuldades, nós quando chegamos aqui na região nós nos sentimos precisamente acobertados, agasalhados e bem recepcionados”, afirmou.
“O ponto é que, apesar do esforço incansável de Temer para desmoralizar as instituições democráticas, o brasileiro permanece firme em suas convicções históricas. Nada menos que 83% querem eleições diretas para tirar o país da crise, informa a pesquisa mais recente do DataFolha, de junho. Entre eles, 37% pretendem votar em Lula. Trata-se de uma demonstração enfática de apego a democracia – ainda mais quando se recorda os ataques que tem sofrido em tempos recentes”, sintetizou o colunista do Brasil 247, Paulo Moreira Leite.