Trump une-se ao Japão contra a Coreia Popular em sua viagem pela Ásia
O presidente dos Estados Unidos Donald Trump está no Japão, primeiro país que visita em sua viagem à Ásia; a intenção é estreitar os laços com o país para pressionar a Coreia Popular e garantir seu espaço perante o crescimento da China. O presidente norte-americano deveria visitar ainda a Coreia do Sul, China, Vietnã e Filipinas
Por Alessandra Monterastelli*
Publicado 06/11/2017 18:47
A passagem de Trump pelo Japão acontece em um momento tenso com a Coréia Popular. Após o país dar continuação aos seus testes nucleares, os EUA fizeram, na voz de Trump, um discurso que exaltava a solução bélica na Assembleia Geral da ONU: o presidente ameaçou “destruir completamente” a Coreia Popular. O pronunciamento se afastou da posição da maioria dos países presentes no evento, que priorizam o diálogo como resposta para o conflito e para levar Pyongyang a cessar os testes nucleares.
O presidente norte-americano encontrou o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe em um almoço logo após seu pouso. Abe, conservador e nacionalista, foi reeleito nas eleições japonesas que ele mesmo convocou antecipadamente para aproveitar as divisões da oposição. Defensor de uma política dura em relação à Coreia Popular, o argumento para antecipar eleições tinha sido precisamente a necessidade de contar com um mandato firme dos eleitores ante a escalada da ameaça representada pelo programa nuclear de Kim Jong-um, especialmente após o regime norte-coreano disparar dois mísseis que sobrevoaram o território japonês nos últimos três meses.
Agora, com maioria parlamentar, o primeiro-ministro caminha em direção ao seu objetivo: convocar um referendo para reformar a Constituição redigida pelos EUA após a derrota japonesa na Segunda Guerra Mundial. Mais especificamente, alterar o artigo 9 do documento, que proíbe o Japão de manter um Exército convencional e só lhe permite ter forças de autodefesa cuja missão principal seja responder em caso de ataque ao arquipélago. Com a alteração, essas forças teriam o poder de agir em ajuda de um aliado que corra perigo. E, segundo Abe, a ameaça causada pela Coreia Popular deixa claro que o Japão necessita de um Exército próprio que lhe permita lidar com esse perigo.
Segundo o jornal espanhol El País, o clima de encontro entre os dois líderes foi tranquilo. Em atmosfera relaxada, ambos assinaram bonés com a mensagem "Donald e Shinzo fazem a aliança ainda maior". Parte do objetivo da viagem, isto é, mostrar a união entre Japão e Estados Unidos em resposta à ameaça norte-coreana, se concretizou.
Assunto
Diante da tensão, a Coreia Popular não passou despercebida. Tanto Trump quanto Abe fizeram declarações sobre a posição que pretendem tomar em relação a Pyongyang.
"Nunca cederemos, nunca hesitaremos e nunca desistiremos da defesa da liberdade", disse o presidente norte-americano. Sob a vestimenta de “defensores da liberdade e da democracia” os EUA já travaram diversos conflitos, tanto em territórios do Oriente Médio quanto em países latino-americanos (basta lembrar a guerra do Iraque, ou do apoio às ditaduras sangrentas no Chile e no Brasil). Uma possível invasão ou ataque à Coreia Popular por parte dos EUA foi deliberadamente reprovada por países como França, Alemanha e Rússia. Trump ainda reforçou que a “era da paciência estratégica” com o regime norte-coreano terminou.
Ainda segundo o El País, em visita às tropas americanas instaladas no Japão (os Estados Unidos mantêm cerca de 80mil soldados na região) na base aérea de Yokota, nos arredores de Tóquio, vestido com uma jaqueta de aviador, Trump ainda declarou que "nenhum ditador, nenhum regime, nenhum país deveria subestimar a determinação dos EUA". Afirmação que, dado o contexto e a história, dificilmente se assimila sem uma pitada de receio.
Já Shinzo Abe, durante uma coletiva de imprensa realizada depois da reunião com Trump, afirmou que "não é hora de dialogar por dialogar. É hora de efetuar a máxima pressão possível sobre a Coreia do Norte".
Segundo a agência russa Sputnik, o premiê japonês afirmou ainda que a interceptação dos mísseis norte-coreanos é possível com a coordenação de ações entre o Japão e os EUA, ao que Trump acrescentou: com mais armas americanas, o Japão poderá facilmente interceptar os mísseis norte-coreanos no ar.
Outros afazeres
Segundo o jornalista português Jorge Almeida Fernandes, o que está em jogo na visita de Trump à Ásia além da questão norte-coreana é a credibilidade das garantias norte-americanas perante a ascensão da China. O objetivo, então, seria assegurar aos aliados regionais que os EUA continuam a ser os fiadores da ordem regional perante a ascensão da China e que não abdicarão do seu estatuto na Ásia-Pacífico. A ideia, segundo o jornalista, é mostrar à China que o Japão e os EUA mantêm uma estreita relação, para que ambos os países não percam espaço perante ao crescimento chinês e a consolidação da China como potência.
O presidente norte-americano deverá desembarcar em Seul, a capital sul-coreana, na terça-feira (7). Além disso, visitará também a China, onde se encontrará com Xi Jinping, e depois passará pelo Vietnã e pelas Filipinas.